Ténis

A tenista Peng Shuai acusou o antigo vice-primeiro-ministro chinês de assédio sexual e a denúncia está a ser silenciada

A tenista Peng Shuai acusou o antigo vice-primeiro-ministro chinês de assédio sexual e a denúncia está a ser silenciada
Wang He/Getty
A antiga líder do ranking mundial de pares da WTA fez um post na Weibo, rede social chinesa equivalente ao Twitter, no qual denunciou abusos sexuais de Zhang Gaoli, ex-membro permanente do comité central do Partido Comunista Chinês. Minutos depois, a publicação foi apagada e esta quarta-feira já não era possível pesquisar pelo nome de Peng Shuai, ou sequer pela palavra "ténis". Será a primeira vez que este tipo de acusações têm como alvo um político do país

Há cerca de três anos que Peng Shuai, uma tenista, foi convidada para uma refeição em casa de Zhang Gaoli, um político, a que se seguiria um jogo de ténis. Nem um, nem outro, eram pessoas quaisquer na China: a mulher já fora a primeira jogadora do país a alcançar a liderança do ranking mundial de pares da WTA (Women’s Tennis Association), o homem reformara-se pouco tempo antes, após ser o vice-primeiro-ministro chinês entre 2013 e 2018. O remetente do convite era um alto quadro do Partido Comunista da China.

Nessa tarde, o político terá pressionado a tenista a fazer sexo.

A reincidência das tentativas continuou até Peng Shuai aceitar ter uma relação consensual com Zhang Gaoli, mesmo que secreta e não assumida, leu-se numa publicação feita pela tenista, na terça-feira, na Weibo, o equivalente no país ao Twitter. Minutos volvidos e seria apagada. Tanto o “New York Times” como o “Washington Post” noticiam, esta quarta-feira, que uma pesquisa pelo nome da jogadora ou pela palavra “ténis” não devolve qualquer resultado na rede social chinesa.

No post, cuja autenticidade os jornais americanos não conseguiram confirmar, a tenista, de 37 anos, relatou como o político cancelou um encontro entre ambos, marcado para esta terça-feira. “Sei que não consigo dizer tudo de forma clara e que de nada servirá dizê-lo, mas quero dizer na mesma”, lia-se. Terá também escrito que, a certa altura, Zhang Gaoli começou a preocupar-se de que a jogadora poderia estar a gravar as conversas entre eles.

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As acusações da tenista são, alegadamente, as primeiras deste cariz a virem a público contra uma alta figura do Partido Comunista Chinês — Gaoli chegou a ser um dos sete membros permanentes do Politburo, espécie de comité central, que era e ainda é liderado por Xi Jinping, presidente da China.

O político de 75 anos, que antes serviu como governador da província de Shandong, foi referido pela tenista como “alguém da sua eminência” que lhe garantiu “não ter medo”, apesar de Peng Shuai lhe ter dito: “Mesmo que seja só eu, como um ovo a atingir uma rocha ou uma traça próxima do fogo, a cortejar a autodestruição, vou contar a verdade sobre si”. A tenista não respondeu à tentativa de contacto do “Washington Post”.

Em Wimbledon (2013) e Roland Garros (2014), Peng Shuai venceu os dois Grand Slams que tem no currículo de pares, tendo chegado à liderança do ranking mundial no ano da conquista do torneio francês. Sozinha no court, o ponto mais alta da escalada foi um 14.º lugar e o “New York Times” escreve que foi das primeiras tenistas da China a lograr um acordo para treinar regularmente no estrangeiro e não ter de canalizar uma grande fatia dos seus prémios de jogo (e ganhos em contratos de publicidade) para o Estado.

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