Perdulário Nuno Borges é derrotado por Schwartzman e falha encontro com a história em Roland-Garros

Jornalista
Talvez o quinto jogo do terceiro set tenha sido uma espécie de resumo do embate entre Nuno Borges e Diego Schwartzman. O argentino vencera os dois primeiros parciais, registando-se um 2-2 naquela partida. Com o público manifestando-se mais a favor do sul-americano, com cânticos importados do futebol, Schwartzman foi pouco fiável e consistente, abrindo a porta para que o jogo fosse decidido nas vantagens e dando uma oportunidade ao mais novo do court para quebrar o serviço do mais velho.
Mas, tal como noutros momentos de fragilidade do argentino, Borges não aproveitou. Talvez acusando o momento, quiçá contagiado pelas imprecisões de Schwartzman, porventura sem o instinto matador para explorar a debilidade do outro lado da rede. Ou, simplesmente, por falta de capacidade num dia menos bom.
O baixinho argentino que deve o seu primeiro nome ao mais divino dos Diegos ganhou aquele jogo de serviço, tal como se impôs nos três parciais do encontro da segunda ronda de Roland-Garros, por 7-6 (3), 6-4 e 6-3.
No campo 9 do complexo onde se disputa o major parisiense, Nuno Borges reencontrava-se com um adversário que derrotara em Phoenix, rumo ao triunfo no Challenger 175 que conquistou em março. No entanto, depois de se ter tornado no quinto português — quarto homem — a estar na segunda ronda de Roland-Garros, não conseguiu tornar-se no primeiro a estar na terceira eliminatória. Michelle Larcher de Brito continuará, assim, a ser a única portuguesa que ganhou dois duelos no quadro principal em Paris, quando em 2009 começou no qualifying e só caiu perante Aravane Rezaï.
O encontro foi honesto desde o início, na medida em que mostrou logo o que iríamos ver: nos 10 jogos de serviço inaugurais, houve seis quebras de saque. Schwartzman, longe dos melhores momentos da carreira — afundado na 95.ª posição do ranking do qual já foi 8.º —, foi errático desde o arranque, falando consigo próprio e com quem o acompanha no torneio, protestando, uma linguagem corporal própria de um desportista em crise.
No entanto, do outro lado, o 80.º da hierarquia mundial não estava melhor. A meio do primeiro set, Borges só colocara 36% dos primeiros serviços, percentagem que, no final da contenda, era de 46%. Com muitas dificuldades para colocar primeiras bolas e muitos erros não forçados, o maiato nunca explorou os nervos do argentino. Antes pelo contrário, pareceu contagiado por eles.
A primeira partida foi decidida no tie break, onde se terá dado uma viragem emocional na tarde de Paris. Mesmo sem jogar bem, Schwartzman ligou-se ao público, que, com camisolas da seleção argentina, ia cantando “olé, olé, olé, Diegooo, Diegooo”, tornando aquele court 9 numa espécie de pequena Bombonera. Esse embalo emocional beneficiou el peque, que aproveitou a inconsistência do português para se impor no primeiro parcial.
Em vantagem no marcador, Diego não mais largou o ascendente no duelo. Quebrou o serviço de Borges logo no segundo jogo de serviço do segundo parcial e, ainda que Nuno tenha conseguido devolver o break, acabaria por ceder, também, esse set a 6-4.
Na derradeira partida, já com um cenário muito complicado para Nuno Borges, o clima foi aquecendo, por muito que o cenário de vitória para o antigo semi-finalista parecesse cada vez mais inevitável. O português chegou a mandar alguém do lado do argentino calar-se, o que lhe custou alguns assobios por parte do interveniente público sul-americano.
Ao primeiro match point, após duas horas e 35 minutos, Nuno Borges estatelou uma direita contra a rede e selou a derrota. Saiu do court cabisbaixo enquanto se ouvia o “muchachos, ahora nos volvemos a ilusionar” que se tornou famoso no Mundial 2022.
Nessa canção, pede-se a tercera para a Argentina, em referência aos títulos de 1978 e 1986 no futebol. Também em Roland-Garros há duas vitórias argentinas, por Guillermo Villas em 1977 e Gastón Gaudio em 2004. O nível de Schwartzman não parece estar para tamanhos proezas, mas sonhar não custa. Para Nuno Borges, a saída de cena tem um claro sabor a oportunidade desperdiçada.
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