Emma Raducanu e uma dura confissão: “Às vezes penso: quem me dera não ter ganhado o US Open”
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Numa entrevista ao “Sunday Times”, a britânica de 20 anos reflete sobre os últimos dois anos, feitos de lesões, lutas e pressão, depois da surpreendente vitória no torneio do Grand Slam, que lhe trouxe fama instantânea
Em dezembro, Emma Raducanu foi recebida no Palácio de Buckingham por Carlos III. Enquanto recebia das mãos do rei de Inglaterra a medalha de Membro da Ordem do Império Britânico, o monarca perguntou-lhe: “Então, já encontrou treinador?”.
Esta história é uma espécie de fresco vivo da vida da tenista britânica depois da tão brilhante quanto surpreendente vitória no US Open de 2021. Com um ténis moderno, fluido, cheio de recursos, presença e origens multi-culturais, Raducanu, então com apenas 18 anos, parecia pronta para abocanhar o mundo. Nas semanas seguintes à conquista, somaram-se os contratos com patrocinadores, da Dior à British Airways, mas não o sucesso desportivo.
Quase dois anos depois, Raducanu venceu pouco mais de duas dezenas de jogos, trocou cinco vezes de treinador, vive atormentada por problemas físicos e é número 128 do mundo. Este ano, pouco competiu, optando por ser operada ao tornozelo e aos dois pulsos e só deverá voltar a jogar em 2024. E numa entrevista ao “Sunday Times”, a britânica repassa a “brutalidade” do ténis profissional, das pessoas que não lhe querem bem e confessa que, por vezes, pensa para si própria que preferia não ter ganhado aquele US Open, que a tornou numa estrela instantânea, com toda a pressão que isso traz.
“Quando ganhei era muito ingénua e percebi nos últimos dois anos que o circuito e tudo o que vem com ele não é um sítio muito simpático, seguro ou que possas confiar”, disse ao jornal britânico, admitindo que tem sido “difícil navegar” num mundo em que muita gente a vê como “um porquinho-mealheiro”.
“Há muitos tubarões por aí e já me queimei algumas vezes”, disse ainda.
Sobre o momento da vitória no último torneio do Grand Slam do ano, Raducanu lembra um sentimento completamente puro: “Naquele momento, no court, quando estava a celebrar, pensei: eu trocava qualquer dificuldade por este momento. Qualquer coisa pode atravessar-se no meu caminho”. Desde aí, Raducanu tem tido “muitas contrariedades, umas atrás das outras”.
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“Às vezes penso: quem me dera não ter ganhado o US Open, quem me dera que não tivesse acontecido”, confessa a tenista, que diz, no entanto, que depois se recorda do sentimento da vitória em Nova Iorque e da promessa feita a si própria de ultrapassar todos os reveses.
As lesões e a pressão
Nos últimos meses, Emma Raducanu reconhece que treinou com dores crónicas nos pulsos. E que não travou o ritmo porque “não queria parecer fraca”.
“Estava com dificuldades físicas mas a parte mental foi também muito complicada. Eu quero mostrar a melhor versão de mim própria ou lutar por isso, mas eu sabia que não conseguia”, explicou ao “Sunday Times”, revelando também que a cada derrota se ia “muito abaixo”, com “dias de luto, literalmente a olhar para uma parede”.
Raducanu lembra também “a brutalidade” do ténis, em que todos os erros são feitos “à frente de toda a gente e toda a gente tem sempre algo a dizer sobre isso”. A pressão, essa, diz que foi muita, tal como o escrutínio, de quem esperava muito após o US Open. Para a britânica, o objetivo futuro é encontrar um qualquer equilíbrio. “Tenho estado ou muito bem ou muito em baixo. Nunca houve um equilíbrio e é por isso que estou a lutar”.