Os adjetivos que inundam os dicionários tornam-se obsoletos, inúteis, perante atletas especiais. Quando Venus Williams entrou num dos courts do Birmingham Classic, na segunda-feira, para defrontar a italiana Camila Giorgi, decidiu fazer corar esses nacos de papel sábios. Perpétua, eterna, incomum, extraordinária? É quase justo. O ranking – n.º 697 contra n.º 48 – substituiu os tambores que sugerem suspense ou algo grandioso.
Mas não há nem haverá nada como testemunhar um corpo a mover-se. Os pés rápidos, as pequenas decisões, as pancadas gloriosas, as bolas difíceis que sempre foram difíceis e que ainda dão à costa, as corridas desesperadas por uma bola impossível. A coragem. O joelho, anestesiado pela mente férrea, estava imobilizado por uma espécie de meia elástica. Venus Williams, tenista de 43 anos que recebeu um wildcard para este torneio disputado no Edgbaston Priory Club, voltou a vencer um jogo do circuito quase dois anos depois, numa partida que se estendeu até às três horas e 17 minutos.
O primeiro set durou 1h13. Nesse como no terceiro e derradeiro parcial, que até esteve 4-1 para a norte-americana, Williams superiorizou-se no tie-break, um concurso que testa a firmeza das mãos e a concentração. Pelo meio, Giorgi, com bolas extraordinárias, venceu a lenda por 6-4.
No final, Williams cerrou os punhos com vontade, gritou inúmeras vezes “come on, come on!” e sorriu como o clã Williams sabe sorrir, majestosamente. A tenista que venceu sete torneios do Grand Slam em singulares (cinco em Wimbledon e dois no US Open) não superava uma rival do top-50 há quase quatro anos. O público presente naquela arena britânica estava satisfeito. O que move alguém de 43 anos, que já ganhou tanto e que até amealhou, só com jogos de ténis, mais de 42 milhões de dólares, a estar ali, a testar o castigado corpo e a fineza da mão? O amor ao jogo é a única resposta imaginável.
Na entrevista rápida a seguir à vitória, a antiga múltipla campeã olímpica elogiou a rival. O entrevistador lembrou-a que ela também não esteve nada mal. Media-se a perigosidade do jogo de cada uma. A tenista pareceu ficar sem jeito, contente. “Fiz alguns serviços a 120 milhas/h (192km/h) e eu não fazia isso há um par de anos”, desabafou. Eu fiquei estilo ‘tive saudades vossas!’”, contou alegremente.
“Acho que joguei bem hoje [segunda-feira] e ela também o fez. Estou surpreendida por ela não ser a número 1 do mundo. Houve tantos momentos em que pensei que o jogo estava acabado e ela fazia uma pancada do nada, por isso ela fez-me ser melhor do que eu achava que podia ser”, confessou a irmã de Serena Williams, que terminou a carreira em setembro.
As dores na perna apareceram no terceiro set da partida. “Foi difícil controlar as minhas emoções”, admitiu Venus Williams. “Eventualmente, tentei só ignorar aquilo, não podia mexer-me tão bem como eu queria, mas tentei ir a todas as bolas.” A tenista norte-americana volta a entrar no court na quarta-feira, às 10h, com uma adversária ainda por definir.
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