O futuro rei conquistou o primeiro título na relva em Queen’s: Carlos Alcaraz será o número 1 em Wimbledon
Julian Finney
Com um duplo 6-4, Carlos Alcaraz superou o competitivo e rapidíssimo Alex de Minaur e conquistou o quinto título da temporada, igualando o seu registo em 2022. Aos 20 anos, o espanhol já soma 11 títulos do ATP. Segue-se Wimbledon, onde se espera mais um confronto especial com Djokovic
A troca de bolas sobre a relva arregalava qualquer olho. Havia aquele fulgor que parece apenas pertencer aos jovens. Carlos Alcaraz tentou o lob. Alex de Minaur resolveu o problema. O espanhol voltou à carga e, num vólei amortizado, o australiano conquistou o ponto. A bola, encantada, até regressou para o seu lado do court. Atrasado e sem perder o cavalheirismo que o vai definindo, Alcaraz esticou a mão para o adversário como quem lhe tira o chapéu.
Depois da vitória exuberante nas meias-finais de Queen’s contra Sebastian Korda, Carlitos avisou que estava a jogar bem, o que o surpreendia até. É que era somente o seu terceiro torneio na relva e parecia que ali jogava há 10 anos. E foi isso mesmo que se viu este domingo diante de Alex de Minaur, que foi capaz de suster durante muitíssimas bolas o poderoso martelo que vive no braço direito do tenista espanhol. A vitória parecia inevitável e assim foi: 6-4, 6-4 e regresso ao posto de número 1 do ranking ATP.
É assombrosa a forma como o murciano se adaptou à relva. A velocidade, o toque de bola e as respostas, a forma como deixa o rival sempre em estado de alerta, sempre com a noção de que se fraquejar cairá sem piedade alheia.
Alex de Minaur, residente em Alicante, foi exemplar nas trocas de bolas. Rapidíssimo a defender, estendia-se por todo o court com uma atitude estóica. De vez em quando, aproveitou as pedradas do adversário para lhe causar problemas. Quando fraquejou, o serviço surgiu ao resgate de Carlos Alcaraz, o homem que com este encontro soma já 40 vitórias em 2023 e conquistou o 11.º torneio ATP da carreira com apenas 20 anos.
No primeiro set, o espanhol salvou dois breaks, com o serviço a ser decisivo. Depois, quebrou o jogo de serviço do australiano e serviu para fechar o primeiro set: 6-4 em 49 minutos.
Entre os sets recebeu assistência médica. O fisioterapeuta ligou-lhe uma das coxas. O desempenho do tenista não parecia sair afetado por tal limitação. Uma dupla falta de De Minaur colocou Alcaraz na frente com 3-2 no segundo set, uma autoestrada rumo a mais um dia feliz para o próximo número 1 do mundo a partir de segunda-feira.
O momento em que Alcaraz cumprimenta Alex de Minaur pela grande bola
Julian Finney
Apesar da boa réplica de Alex de Minaur no court principal daquele torneio em Londres, este nunca esteve perto de ameaçar o que Daniil Medvedev e Jannik Sinner fizeram em Wimbledon, em 2021 e 2022, nas tais duas únicas aparições do fenómeno espanhol na relva.
O 5-3 chegou com naturalidade e foi aqui, numa altura em que servia para fechar o encontro, que os nervos se apoderaram de Carlitos. Somou alguns erros e De Minaur chegou ao 0-30. Mas a pancada no serviço de Alcaraz voltou a corrigir a rota da angústia para a felicidade. Na derradeira jogada, o australiano atirou a bola para fora do court e o espanhol festejou o primeiro título na relva.
Na entrevista rápida, Carlos Alcaraz admitiu que era “fantástico” sentir-se tão bem na relva, assim como é sempre “especial” ganhar qualquer torneio. Sobre chegar como número 1 a Wimbledon, um dos quatro grandes torneios do Grand Slam, o espanhol disse que era indiferente para o torneio em si, mas que lhe injetava confiança e motivação.
Afinal, por lá estará sempre o poderoso e sábio Novak Djokovic, a maior ameaça à sua estante de medalhas e troféus, que o eliminou na semifinal de Roland-Garros, no dia em que o corpo falhou a Carlitos e assim nos foi sonegado um dos grandes jogos para a memória futura.
Com a vitória em Queen’s, um torneio ATP 500, Alcaraz somou o quinto título da temporada, o que lhe permite igualar o registo de 2022. Ou seja, o tenista convive com duas sombras, a sua e a dos arquivos de história.