Jogar indoor não é a mesma coisa. O ar não pesa o mesmo, a temperatura é controlada e até para quem está em casa a coisa é diferente. Os sons são outros, a bola faz um poc seco mas contínuo, como se continuasse a queixar-se depois da pancada, a caminho do outro lado.
Mas a bola não tem grandes motivos para se queixar quando é Carlos Alcaraz a tratar dela. Deve até agradecer porque com ele parece conhecer vias novas, trajetórias distintas, vai a sítios onde outras não vão, em movimentos que têm em si tamanha beleza. À procura de melhorar a 4.ª ronda de 2022, o espanhol entrou arrasador frente ao francês Jeremy Chardy na 1.ª ronda de Wimbledon, pouco compadecido com a possibilidade do adversário estar provavelmente a fazer o último jogo da carreira. Em recinto fechado depois de uma bátega de água se abater sobre Londres, no 1.º set serviu um pneu, um 6-0 impiedoso, no 2.º ainda permitiu dois jogos a Chardy mas fechou em 6-2. No 3.º, num misto de desatenção do espanhol e de um último fôlego antes da guilhotina do gaulês, a coisa estendeu-se: durou mais que os dois primeiros parciais juntos, mas ainda assim Alcaraz atinou no final para fechar as contas com um 7-5.
Com uma variação de jogo belíssima, potência e precisão e uns pinguinhos de magia, foi formoso e seguro Carlitos pelos dois primeiros sets, onde também beneficiou do desacerto completo de Chardy no serviço - jogar indoor, lá está, não é o mesmo que jogar ao ar livre. Na primeira partida, o gaulês fez qualquer coisa como sete duplas-faltas. No 3.º parcial, porém, Chardy foi ao mais fundo de si para ir buscar algum do talentoso ténis que sempre teve, ele que foi um excelente jogador de juniores, com a carreira sénior a nunca acompanhar esses dias de esperança jovem.
O último set, quanto muito, servirá para alertar o genial Alcaraz, que aos 20 anos é, com Novak Djokovic, o principal favorito a vencer Wimbledon, que os níveis de atenção não podem ter flutuações num torneio do Grand Slam. O espanhol baixou a rotação, começou a cometer erros e Chardy ainda chegou a estar break acima na terceira partida (4-2). Sentindo o susto, Alcaraz fez o contra-break logo de seguida, servindo pouco depois nova quebra a 5-5, fechando o encontro em uma hora e 53 minutos, muito mais do que seria de esperar depois dos dois primeiros sets.
Muita chuva e poucos jogos
Num dia em que a chuva praticamente não deu tréguas, a meio da tarde apenas o Centre Court e o Court n.º 1, ambos cobertos, tinham alguma ação, com dezenas de outros encontros da 1.ª ronda suspensos nos courts secundários.
No campo principal, e perante a presença de Roger Federer na tribuna, Elena Rybakina, campeã em título, ainda levou um susto no 1.º set do embate de 1.ª ronda com Shelby Rogers, mas recuperou rapidamente o seu mojo, passeando-se nos parciais seguintes: vitória por 4-6, 6-1 e 6-2.
Quem terá de esperar pela estreia será Nuno Borges. O português deveria jogar com Francisco Cerundolo no final da jornada desta terça-feira, mas o seu encontro foi um dos primeiros a serem cancelados, devido ao mau tempo e à impossibilidade de cumprir a ordem de jogos. Um pesadelo logístico para a organização resolver nos próximos dias.
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