Ténis

Wimbledon suaviza política de vestuário totalmente branco por causa da menstruação e as tenistas agradecem

Wimbledon suaviza política de vestuário totalmente branco por causa da menstruação e as tenistas agradecem
Tim Clayton - Corbis

A edição de 2023 do tradicional torneio de Wimbledon chega com uma novidade: ao contrário de anos anteriores, as tenistas poderão usar roupa interior de cor que não branca, depois de protestos em anos anteriores motivados pelo stress que sentiam a jogar com o período. Victoria Azarenka foi uma das primeiras a aproveitar o relaxamento das regras

As instituições centenárias têm destas coisas: há tradições, regras, umas mais fora do seu tempo que outras. O branco imaculado que pousa nos jogadores que voam nos relvados de Wimbledon é agradável, é obrigatório desde 1963 e ajuda a dar peso e uma carga especial ao torneio. Numa era de grandes marcas, padrões garridos, marketing desenfreado, é refrescante, por vezes, podermos apenas focar a nossa atenção no ténis e na sua beleza. Mas há inconvenientes. E essas questões preocupavam há muito as tenistas que participam no quadro feminino.

Porque usar branco significa mais do que jogar em Wimbledon. Pressupõe uma aflição, uma pequena angústia, quanto mais não seja lá atrás, nos confins da cabeça, onde os medos batem o pragmatismo, para mais quando se está com o período. Num desporto cheio de correrias, sprints e esforço, várias tenistas já confessaram que é impossível um foco completo na competição quando há o receio que algo se note.

Há quem opte por tratamentos hormonais para evitar a menstruação em determinadas alturas. A britânica Heather Watson admitiu que o fez. Há atletas que têm códigos com a sua equipa para o caso de alguma mancha de sangue surgir. Coco Gauff confessou em tempos à Sky Sports que num encontro do passado foi mesmo uma árbitra a alertá-la.

No final do ano passado, e depois das vozes das mulheres terem sido mais fortes do que nunca sobre o tema em 2022, o All England Club assumiu que estaria em cima da mesa a revisão do estrito código de vestuário de Wimbledon, que não permite, por exemplo, mais do que pequenas linhas de um centímetro de outra cor que não o branco na linha do pescoço ou nas mangas do equipamento, ou que se use branco sujo ou bege - porque não são, verdadeiramente, branco.

“Dar prioridade à saúde das mulheres e apoiar as jogadoras com base nas suas necessidades individuais é muito importante para nós, e estamos em discussões com a WTA, com os fabricantes e com as equipas médicas sobre as formas como o podemos fazer”, lia-se então num comunicado do All England Club.

As alterações foram mesmo aprovadas, mas não sem regras, claro, afinal de contas estamos a falar de Wimbledon. O uso de peças de cor é assim permitido nesta edição de 2023, mas apenas na roupa interior, calções interiores, por exemplo, que não podem ser mais compridos que o equipamento. A cor deve ser escura e sem qualquer padrão.

“O que queremos é que esta adaptação das regras ajude as jogadoras a focarem-se no seu desempenho, ao retirar-lhes uma potencial fonte de ansiedade”, sublinhou a diretora do All England Club, Sally Bolton, em novembro, altura em que as alterações foram tornadas oficiais.

Victoria Azarenka já deu uso ao relaxamento das tradições em Wimbledon e na 2.ª feira, em jogo da 1.ª ronda frente à chinesa Sue Yuan, usou debaixo da saia uns calções interiores cinzentos escuros.

Um passo em frente para a saúde das mulheres no desporto, elas que, nos últimos meses, conseguiram também que no futebol, nomeadamente na seleção inglesa, os equipamentos deixassem de ter calções brancos.

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