Carlos Alcaraz e Holger Rune nasceram com seis dias de diferença. Mas em Wimbledon, o espanhol foi o adulto em court
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Número um mundial está pela primeira vez nas meias-finais do Grand Slam londrino, depois de uma demonstração de consistência frente ao dinamarquês, 6.º pré-designado do torneio. Com parciais de 7-6, 6-4 e 6-4, Alcaraz tornou fácil um duelo que prometia muito. Segue-se Daniil Medvedev
Os arredores de Copenhaga e o sul de Espanha não poderiam ser cenários mais distintos, mas há 20 anos, separados por apenas seis dias, dois bebés deram o berro primordial depois de chegarem ao mundo, sabendo lá que não faltaria tanto assim até os seus destinos se cruzarem. Em miúdos, Holger Rune e Carlos Alcaraz já participavam nos mesmos torneios e esta quarta-feira o infindável portfólio de memórias que vive na internet lembrou até um jogo de pares em que ambos fizeram equipa, com apenas 13 anos, num torneio em França. Reza a lenda que, para se entenderem, tiveram de usar gestos.
Até porque o talento, esse, é universal, expressa-se de muitas formas e Holger Vitus Nodskov Rune, nascido em Gentofle, Dinamarca, a 29 de abril de 2003, e Carlos Alcaraz Garfia, vindo a este planeta a 5 de maio desse mesmo ano em Murcia, vêm desenhando em court algum do ténis mais refrescante que anda por aí. Rune, curiosamente, parece mais latino em comportamento que Alcaraz, calmo e ponderado, uma espécie de andróide geneticamente modificado (e, ainda assim, tão natural) e foi isso mesmo que se viu neste primeiro encontro de ambos em Wimbledon, a valer a passagem às meias-finais do torneio.
O confirmado favoritismo de Carlos Alcaraz, que se traduziu numa vitória em sets diretos (7-6, 6-4 e 6-4), era mesmo uma questão de personalidade: nos pontos importantes, o espanhol prevaleceu e o volátil dinamarquês quebrou. No segundo e terceiro sets, Carlos Alcaraz fez qualquer coisa como um erro não forçado e foi uma dupla falta quando tinha três match points para fechar o encontro, com permissão para arriscar.
Victoria Jones - PA Images
Ainda assim, os três sets não contarão a história completa de uma partida que foi intensamente equilibrada até Carlos Alcaraz aproveitar o primeiro break point que teve à disposição para colocar o marcador em 5-4 no 2.º set - uma resposta de esquerda a um 2.º serviço cansado de Rune. No 1.º set, ambos lidaram com a tensão agarrando-se estoicamente aos seus respetivos serviços. Houve muitos erros de parte a parte e um único break point, para Rune, não aproveitado pelo nórdico. No tie-break, uma dupla falta do dinamarquês (os momentos decisivos, lá está) praticamente entregou o parcial ao espanhol, que ofereceu às bancadas não um mas dois gritos de guerreiro, ganhando aí uma vantagem emocional que seria definitiva.
Depois de uma batalha de mais de uma hora no set inicial, a partir daí o encontro tornou-se mais rápido. Alcaraz não falhava, Rune também pouco errou, num jogo com muito winners, bolas habilidosas, como se pede. Não terá sido sempre espectacular, mas foi quase sempre entretido. Muito competitivo. Ao 3.º set, Rune, mais temperamental, perdeu-se mais cedo: com 2-2 no marcador e a servir, estatelou uma esquerda na rede e a partir daí os erros foram mais frequentes. E mesmo que Rune tenha estado sempre no jogo, Carlitos estava impassível. Não que Rune alguma vez tenha sido a criança naquele Centre Court, mas o murciano, seis dias mais novo, foi definitivamente o tenista mais adulto ali.
Para Alcaraz segue-se duelo com Daniil Medvedev, que venceu com dificuldade o norte-americano Christopher Eubanks, uma das histórias mais improváveis do torneio, em cinco sets, com parciais de 6-4, 1-6, 4-6, 7-6 e 6-1. Ambos encontraram-se na final de Indian Wells deste ano, que o espanhol dominou completamente, vencendo por 6-3 e 6-2. A desejada final com Novak Djokovic, que defronta nas meias-finais Jannik Sinner, outro membro de ouro desta geração de miudagem, está cada vez mais perto.