Na tarde de terça-feira, 3 de outubro, o calor sente-se em Lisboa, o outono já chegou mas pintado de verão. Descendo a Avenida dos Bombeiros, no Restelo, o rio vai-se aproximando, dando uma visão refrescante ao corpo consumido pelo bafo. Na rua que vai serpenteando há algo de diferente num dia de trabalho: todos os lugares possíveis e imaginários para estacionar o carro estão ocupados. Mais junto da Estrada de Queluz, lá em cima, mais perto do Colégio Helen Keller, em baixo, não há um buraquinho para colocar as quatro rodas motorizadas.
A razão da agitação está no Club Internacional de Foot-Ball, uma das coletividades de maior peso histórico da capital. No court central, um lisboeta que mal era gente quando começou a agarrar numa raqueta naqueles campos, uma criança que diz que ali se formou “como jogador e pessoa”, preparava-se para iniciar o último torneio da sua carreira. O Del Monte Lisboa Belém Open, da categoria Challenger (abaixo das competições do circuito ATP), tem uma primeira ronda que enche não só as bancadas, mas também os canteiros de relva em torno do court, o espaço que há de pé, os diversos recantos daquele clube.
Pedro Sousa, nessa tarde, ali dará início à sua última dança, o derradeiro torneio da carreira, um fecho belo, como belo é o pôr-do-sol ali, em Belém, com o rio a acolher o astro antes do início da noite. A expetativa sentia-se antes de entrar, pela tal concentração de carros, e nas caras de quem estava nas bancadas, cheias de familiares, amigos ou apreciadores do lisboeta.
Aos 35 anos, Pedro Sousa decidiu fechar uma carreira que o levou ao 99.º lugar do ranking ATP, um dos sete jogadores nacionais a ter estado entre a centena de melhores raquetes do planeta (os outros foram João Sousa, Gastão Elias, Rui Machado, Frederico Gil, Nuno Borges e Nuno Marques); foi à final do ATP 250, de Buenos Aires, em 2020, sendo um de três portugueses — além de João Sousa e Frederico Gil — que esteve no duelo decisivo de um torneio ATP; participou nos Jogos Olímpicos de Tóquio, atuou no quadro principal do Open da Austrália, de Wimbledon e do US Open; tem oito títulos Challenger, quantidade só superada pelos 10 de Gastão Elias, e 16 finais disputadas no circuito secundário, também só ficando em segundo, entre os jogadores nacionais, para Elias, que soma 22.
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