Ténis

Rafael Nadal está de regresso e quer só aproveitar, mas quem com ele treinou diz que está “rápido”, “intenso” e “bem fisicamente”

Rafael Nadal está de regresso e quer só aproveitar, mas quem com ele treinou diz que está “rápido”, “intenso” e “bem fisicamente”
WILLIAM WEST

Um ano após lesionar-se com gravidade no Open da Austrália, o espanhol vai voltar a jogar, no torneio de Brisbane, num encontro marcado para a manhã de terça-feira (hora de Lisboa) frente a outro massacrado por lesões, Dominic Thiem. Nadal diz que quer “desfrutar” e que é impossível pensar em vencer, mas os rivais elogiam-lhe a forma

A internet aprecia uma boa imagem daquelas que faz as almas sentirem-se quentinhas e aconchegadas e o ano acabou com as redes sociais a soltarem corações perante Rafael Nadal, radiante pela Austrália, raquete de ténis de tamanho mini na mão direita. O facto de na imagem estar uma criança de pouco mais de um ano já nos deveria avisar que não estamos perante o Rafael Nadal que todos conhecemos e o instrumento de trabalho na mão trocada então é a prova inequívoca de tal evidência. Aquele não é Rafael Nadal, 37 anos, mas sim o seu rebento, Rafael Nadal Jr, nascido em outubro de 2022.

Internautas notaram então, com lamento, que o pequeno Rafa se calhar não será esquerdino como o pai, dono de uma das canhotas mais míticas da história do desporto. Mas o braço forte de Nadal será a menor das preocupações dos seus adeptos na hora do esperado regresso do espanhol, praticamente um ano depois de ter lesionado com gravidade um músculo de nome estranho, mas de importância desmedida: o psoas liga a coluna aos membros inferiores e é o garante da estabilidade do corpo humano.

PATRICK HAMILTON

O maiorquino magoou-o no Open da Austrália do ano passado e as quatro a oito semanas de recuperação subitamente tornam-se mais longas e mais frustrantes. Em maio, quando o mundo se questionava se era possível ter um Roland-Garros sem o seu maior campeão - 14 vezes que aí venceu - Nadal anunciava que sim, teria de ser. “Foi o meu corpo que tomou esta decisão”, disse então numa emocionada conferência de imprensa, em que declarou que não jogaria mais em 2023 e que em 2024 iria tentar um regresso pelo menos digno, para assim, com dignidade e não sentado numa mesa, fechar uma carreira gloriosa que contém 22 torneios do Grand Slam e todo um relambório de outras importantes vitórias.

O regresso que todos querem ver será feito, como prometido, neste ainda jovem janeiro de 2024. O regresso a sério, pelo menos, porque ainda a 31 de dezembro, jogou pares (e perdeu) com o amigo Marc López no mesmo torneio de Brisbane onde na terça-feira, pelas 8h30 de Lisboa, já noite bem alta na Austrália, vai enfrentar Dominic Thiem na 1.ª ronda de singulares. Os dois jogaram duas finais de Roland-Garros em 2018 e 2019 (vitória para Nadal, pois claro) e é como se o destino quisesse contar uma qualquer história sobre resiliência, usando os caprichos imprevisíveis dos sorteios. E este foi certeiro: se Nadal começa aqui uma caminhada de regresso, Thiem luta para voltar à forma desses anos de sucesso, em que chegou a ser número 3 mundial e venceu o US Open de 2020. Desde 2021, após uma lesão no pulso, que nunca mais foi o mesmo jogador.

Aos 37 anos e com o corpo massacrado por lesões, algumas delas crónicas e sem volta a dar, Nadal já nada pode acalentar a longo prazo, ao contrário de Thiem, que aos 30 anos ainda está em idade de voltar a ser um dos melhores do mundo. Mas, talvez mais por desejo do que outra coisa qualquer, ainda há quem o veja como candidato a tudo, inclusivamente ao Open da Austrália. Nadal, ainda que se veja “muito melhor do que esperava há um mês”, é um homem pragmático. “É impossível pensar sequer em vencer torneios agora”, disse aos jornalistas já na Austrália. Tudo o que ele quer é “desfrutar do regresso”, sabendo bem o que é estar há um ano sem pisar um court de ténis.

Nadal voltou à competição num jogo de pares, ainda no dia 31 de dezembro
Bradley Kanaris

“Não posso ter objetivos a muito longo prazo porque não me vejo a jogar por muito mais tempo. Não sei como é que as coisas vão correr, não sou um jogador que tenta prever o que pode acontecer a curto prazo e é ainda mais complicado fazê-lo num período médio de tempo. Tenho de aceitar a adversidade e que não vai ser perfeito. Só quero regressar com o espírito certo a cada dia”, frisou ainda o maiorquino, a quem nunca faltou a força de vontade.

Os treinos e os elogios

Um treino não é um jogo, mas um treino já é capaz de deixar muita gente de olho arregalado. Antes do encontro de terça-feira, Rafael Nadal e Dominic Thiem jogaram um set numa das sessões de preparação (coisas do destino, novamente) e o espanhol levou a melhor por 6-3. Antes, Nadal já tinha treinado com Andy Murray que lhe elogiou a “intensidade” e viu o rival “muito bem fisicamente” e “a jogar a um bom nível”.

Mais longe foi Holger Rune, 17 anos mais jovem que Nadal e atual número 8 do Mundo, que também trabalhou com o veterano: “Foi o treino mais duro que tive nos últimos seis meses”. O dinamarquês destacou também a movimentação “perfeita” e “grande rapidez e intensidade” do espanhol, aumentando as expectativas para um regresso para o qual talvez nem Nadal saiba o que esperar. A presença da família, do pequeno Rafael Nadal, já de mini raqueta na mão, diz que, mais do que tudo, Rafa quer sentir-se bem em court, passar um bom bocado, na primeira etapa de uma mais que provável farewell tour de um dos maiores tenistas da história.

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