Ténis

O “sonho” que Nuno Borges “sabia que podia acontecer” é real: defrontará Medvedev no court central do Open da Austrália

O “sonho” que Nuno Borges “sabia que podia acontecer” é real: defrontará Medvedev no court central do Open da Austrália
Kelly Defina/Getty
Em dezembro de 2021, o maiato, então recém-entrado no top 200 do ranking ATP, disse, à Tribuna Expresso, que o seu objetivo era “um dia jogar num central desses com imenso público a ver e toda a pressão e o ambiente do momento”, repetindo o que João Sousa fez contra Nadal, em Wimbledon, em 2019. Agora, esse momento chegará, numa altura em que tem a ascensão aos 50 melhores do mundo garantida
O “sonho” que Nuno Borges “sabia que podia acontecer” é real: defrontará Medvedev no court central do Open da Austrália

Pedro Barata

Jornalista

Nuno Borges pode ser a estrela do momento no desporto nacional, mas nunca viveu a vida com pressa ou urgência. Aos 18 anos, não se sentia pronto para abraçar uma vida na selva do ténis profissional, pelo que escolheu o caminho mais longo, indo estudar para os EUA, na Universidade do Mississipi, graduando-se em cinesiologia ao mesmo tempo que ia competindo no circuito universitário.

O maiato foi-se cozinhando em lume brando, pouco a pouco, tanto que, só em 2021, ano em que completou 24 voltas ao sol, se estreou a tempo inteiro no circuito profissional. Em dezembro dessa temporada de estreia, marcada pelo êxito nos challengers, espécie de segunda divisão das raquetes, Nuno Borges entrou, pela primeira vez, no top 200 do ranking ATP e, em entrevista à Tribuna Expresso, indicou o seu grande desejo para o futuro.

“Poder, um dia, jogar contra um cabeça de série num court central de um torneio do Grand Slam. Além de ser um sonho, é um sonho que sinto que um dia pode acontecer. Vou trabalhar para isso, para um dia jogar num central desses com imenso público a ver e toda a pressão e o ambiente do momento”, assegurou, a 21 de dezembro de 2021.

Questionando, então sobre se a ideia seria repetir o que fez João Sousa em Wimbledon, em 2019, defrontando Rafa Nadal no palco principal do major londrino, Borges não duvidou: “Sim, isso mesmo”.

Passados dois anos e um mês, o “sonho” está aí: após bater Dimitrov na terceira ronda do Open da Austrália, o português chegou à quarta eliminatória da competição de Melbourne, tornando-se no primeiro jogador nacional da história a chegar a tal fase. O próximo encontro, frente a Danil Medvedev (segunda-feira, 02h30, Eurosport 1) será no tal court ambicionado pelo maiato, a Rod Laver Arena, cenário de maior importância do torneio australiano.

Será a primeira vez desde o tal João Sousa-Rafa Nadal de 2019 que um tenista português pisa o court principal de um torneio do Grand Slam. Essa foi, também, a derradeira ocasião em que a bandeira nacional esteve na quarta ronda de um major, algo que Sousa, detentor de praticamente todos os recordes do ténis português, também logrou no US Open em 2018.

Depois de um dia que “nunca vai esquecer”, Borges, do outro lado do mundo, já antevê a eliminatória contra Medveved, número três da hierarquia mundial: “Já sei que tenho um grande desafio pela frente e vou tentar desfrutar ainda mais. Foi com essa mentalidade que fui para este jogo [frente a Dimitrov] e vou tentar manter as mesmas rotinas e a mesma maneira de pensar para o próximo”, assegurou.

Apesar da distância, Nuno assegura que “tem sentido o apoio dos portugueses" num torneio cheio de histórias especiais no seu percurso. Em 2022, deveria ter-se estreado num major no Open da Austrália, mas um positivo à covid-19, antes do seu primeiro encontro, obrigou-o a abandonar a competição; em 2023, foi em Melbourne que disputou um Grand Slam sem ter de passar pela fase de qualificação pela primeira vez na carreira.

Future Publishing/Getty

Nuno Borges vive sem pressa, mas a ascensão nos últimos anos é veloz. Entre em 2021 como 399.º do ranking, estreou-se nos 200 melhores em dezembro desse ano e, em setembro de 2022, estreou-se entre a primeira centena da hierarquia. Em janeiro de 2023, disputou um torneio do Grand Slam sem passar pela qualificação pela primeira vez e, quatro meses depois, em Roland-Garros, estreou-se a ganhar um encontro no quadro principal de um major. Agora, competirá num dos recintos mais míticos do desporto global.

Tem garantido que, na próxima atualização da lista da ATP, será, pelo menos, 47.º, tornando-se apenas no segundo português entre a meia centena de melhores, depois do inevitável João Sousa.

Em janeiro de 2023, à Tribuna Expresso, Borges refletiu sobre a sua ascensão relativamente lenta no ténis — quando fez 23 anos era 584.º do mundo —, apontando que “todos têm um percurso diferente” e que “gostava que outros acreditassem que, mesmo que não aconteça aos 18 ou 19 anos, pode acontecer mais tarde”. Aos 26, está mesmo a acontecer para o maiato.

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