No começo de 2017, Serena Williams liderava o ranking ATP quando se apresentou para disputar o Open da Austrália. A norte-americana, então com 35 anos, viria a vencer o título em Melbourne, no 23.º — e último — major da sua carreira. O triunfo revestiu-se de significado adicional porque, na altura da final, Serena estava grávida de oito semanas.
No setembro seguinte, Olympia nasceu. Passados cinco meses do parto, Williams voltou aos courts, tendo de enfrentar uma realidade bem diferente da que, 13 meses antes, deixara: caiu de número 1 para a 453.ª posição da hierarquia.
Por muito que conseguisse convites para entrar nos torneios, um ranking tão baixo significava sorteios mais duros e um recomeço mais árduo. A norte-americana confessou, então, sentir-se “penalizada” desportivamente por ter sido mãe. “Não deveríamos ser punidas pelo desejo de ter um bebé”, defendeu ao “New York Times”, numa posição apoiada por Simona Halep ou Maria Sharapova.
Na sequência da pressão liderada pela mais titulada tenista da sua geração, a WTA deu, a partir da temporada 2019, proteção acrescida para quem regressava aos courts depois de dar à luz. As jogadoras passaram a puder utilizar o ranking que possuíam antes de interromperem a atividade em 12 torneios, ao longo de um período de três anos, ficando, também, excluída a hipótese de enfrentarem uma cabeça de série na ronda inaugural de um torneio.
Passadas algumas temporadas, a elite da WTA volta a exigir novo passo em frente em quanto a direitos laborais, reclamando a introdução de licenças de maternidade pagas. Atualmente, há quatro antigas líderes do ranking que competem após terem sido mães (Victoria Azarenka, Naomi Osaka, Caroline Wozniacki e Angelique Kerber) e, entre elas e não só, parece haver união nesta reivindicação.
Uma das mais vocais nesta questão tem sido Azarenka, vencedora do US Open em 2012 e 2013 e mãe de Leo, que nasceu em 2016: “É importante dar segurança financeira às tenistas. Ter uma licença paga seria incrível”, defende a bielorrussa, esclarecendo que nem fala tanto no seu caso, pois tem “uma boa rede de segurança económica” — é a sexta jogadora da história que mais arrecadou em prémios monetários, com cerca de €37 milhões —, mas “em quem esteja fora do top 100, queira ser mãe e continuar com o seu trabalho”.
Em 2019, Azarenka dissera, à “BBC”, que “ficou assustada” após saber que seria mãe. “O meu primeiro pensamento foi ‘oh meu deus, jamais voltarei a jogar ténis’”, confessou.
A posição de Vicka foi prontamente apoiada por Naomi Osaka. A japonesa, que conquistou o Open da Austrália em 2019 e 2021 e o US Open em 2018 e 2020, regressou recentemente aos courts após, em 2023, ser mãe de Skai. “Ser mãe não deveria significar um castigo desportivo. Para a maioria das desportistas, há a ideia de que a carreira vai mudar de forma drástica ou até terminar porque vais ter um bebé, pelo que é necessário oferecer uma maior proteção”, indicou a tenista de 26 anos.
Da parte da WTA, ainda não houve uma reação recente a estas declarações. No final de 2023, Steve Simon, presidente da WTA, escreveu uma carta às principais tenistas do circuito, na qual assegurava que “a proteção na maternidade é um tema cuja revisão está na agenda”.
Em 1973, Margaret Court, que partilha com Novak Djokovic o estatuto de recordista de títulos do Grand Slam (24), venceu três majors sendo mãe. A última tenista que ergeu os troféus mais importantes da bola amarela após dar à luz foi a belga Kim Clijsters, com as conquistas do US Open em 2009 e 2010 e do Open da Austrália em 2011.
Serena Williams bateu várias vezes na trave, visto que perdeu quatro finais de Grand Slam após ter sido mãe. Na época passada, Svitolina disputou as meias-finais de Wimbledon passados nove meses do nascimento do seu filho com Gaël Monfils, tendo também Azarenka atingindo umas meias-finais, no caso no Open da Austrália.
Em Indian Wells, muitas vezes considerado o quinto major, Kerber e Wozniacki, mães e ex-líderes do ranking, defrontarem-se nos oitavos de final. A dinamarquesa, que voltou em 2023 para ser “parte da mudança” de mentalidades, levou a melhor.
Também no quadro principal de Indian Wells esteve Tatjana Maria, 46.ª da hierarquia e semi-finalista de Wimbledon em 2022. A alemã viaja pelo circuito com Charles, seu marido e treinador, e as duas filhas do casal, de 10 e três anos.
Maria considera “totalmente correto” que existam licenças de maternidade pagas, pois seria “imitar o que existem noutros trabalhos”. “Engravidas, continuas a receber. Não é assim no ténis porquê?”, questiona-se a jogadora de 36 anos.
Além das licenças pagas, Tatjana Maria aponta para a necessidade de que mais torneios criem locais onde se possam deixar crianças durante as competições. Os quatro Grand Slams possuem esse tipo de infra-estruturas, mas, mais abaixo no circuito, há uma “grande disparidade de condições”, critica a alemã. Estugarda e Madrid, por exemplo, oferecem cuidados de babysitting, mas tal não é a norma.
Na conclusão da época passada, durante as WTA Finals, Iga Swiatek elencou “uma série de coisas” com as quais as jogadoras não estavam satisfeitas, garantindo que “havia união entre as principais tenistas” para “lutar por alterações”. Entre vários tópicos relacionados com “saúde e bem-estar”, a polaca nomeou, também, insatisfação quanto “às questões da maternidade”.
Em 1973, graças ao esforço e luta de Billie Jean King, pioneira na defesa da igualdade de género no ténis, o US Open tornou-se no primeiro dos torneios do Grand Slam a dar prémios monetários iguais a homens e mulheres. Mais de meio século depois, elas continuam a jogar encontros fora do court.
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