Ténis

Nuno Borges sobrevive à tempestade para seguir em frente no Estoril Open

Nuno Borges sobrevive à tempestade para seguir em frente no Estoril Open
Carlos Rodrigues/Getty
Na ronda inaugural do maior torneio português, o maiato, diante de Lucas Pouille, teve um primeiro set para esquecer e enfrentou um match point mas, numa tarde em que se chegou a jogar debaixo de chuva — que levou a duas interrupções do desafio —, resistiu e deu a volta, vencendo por 0-6, 7-6 (6) e 6-3
Nuno Borges sobrevive à tempestade para seguir em frente no Estoril Open

Pedro Barata

Jornalista

Nuno Borges passou a primeira parte da temporada 2024 a ir buscar glória a pontos distantes do globo. Em janeiro tornou-se no primeiro português a chegar aos oitavos-de-final do Open da Austrália, em março ganhou o título no Challenger 175 de Phoenix. Depois de meses de êxitos a Este e Oeste, eis o melhor português da atualidade como cabeça-de-cartaz do primeiro dia de quadro principal do maior torneio nacional.

Há um tom de nostalgia em torno da edição 2024 do Estoril Open. A despedida de João Sousa une-se às dúvidas sobre o futuro do torneio para pintar o quadro de adeus, de ciclos que se fecham ou podem estar a fechar. Nesta pintura, Nuno Borges entrava para animar o dia.

O melhor português da atualidade, sol intenso, o primeiro de quatro duelos luso-franceses. Um ambiente de festa nas bancadas, com crianças gritando o nome do maiato, 62.º do ranking ATP. Mas, pouco depois, a alegria que Borges deveria trazer à jornada ganhou tons de tristeza.

Errático como poucas vezes, Nuno começou o encontro logo com dois erros diretos e cedendo um break. Cedo se percebeu que aquela entrada em falso se prolongaria no tempo: Borges só ganhou cinco de 17 pontos no seu serviço no parcial inaugural, acumulou imprecisões, um desastre andante. 6-0 para Lucas Pouille, o seu adversário, um francês atual 241.º do mundo mas antigo top-10.

A chuva foi substituindo o sol, pintando um cenário cinzento, feio como a exibição de Borges. A meio do primeiro set, o encontro foi interrompido pela águia que caía, mas o reatamento não trouxe novidades. O maiato foi ao balneário, mas de lá regressou sem inspiração.

“Bora Nuno”, ouvia-se da bancada em jeito de apoio. Uma das vozes mais fortes no apoio ao português era Kika Jorge, a número 1 nacional. Mas o segundo parcial seguia o mesmo caminho: break para o francês a abrir. Borges perdeu os primeiros oito encontros do desafio, um balde de água fria, uma tempestade.

TIAGO PETINGA/Lusa

Ao nono jogo do encontro, após mais um erro de direita, Borges, o calmo Nuno, o tranquilo tenista, teve um ataque de fúria. “NÃO!”, “NÃO!”, "NÃO!", berrava, ao mesmo tempo que, com a raquete, parecia sacudir a terra batida. E talvez aquele varrer do solo tenha servido para expulsar os males que o atormentavam.

Subitamente, veio um renascimento. As bolas começaram a entrar, a direita ganhou potência e precisão, até se ensaiaram, com êxito, drop shots. Borges quebrou o serviço do gaulês duas vezes seguidas, também foi quebrado, mas havia uma chama nova no seu ténis.

A chuva regressara. Mais ou menos leve, esteve presente ao longo de toda a segunda partida, num ténis aquático, pouco normal, mas de tons épicos, de batalha travada sob pó de tijolo. E chegou-se a um tie break onde Nuno não tinha margem de erro.

No fio da navalha, Pouile teve, mesmo, um match point. O português salvou-o e conseguiu levar tudo para a decisão.

Na partida decisiva, o jogador da casa mostrou-se sempre mais cómodo. O ambiente nas bancadas parecia futebolístico, com cânticos de portugueses e gritos de apoio de franceses, entre muitas óbvias referências a Éder.

Borges já não tinha cara apreensiva. Cerrava os dentes e festeja na direção de Francisco Cabral, seu amigo de infância e parceiro de pares com quem ganhou aqui em 2022.

Na fase decisiva do encontro, até a tela ajudava o maiato, fazendo questão que todas as bolas no limite fossem para o lado de Nuno Borges. Na tarde em que se jogou à chuva, o número um nacional resistiu à tempestade.

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