Nuno Borges sobreviveu ao dia em que Roland-Garros convidou as lendas para prestar a sua grande homenagem a Rafael Nadal
Tim Clayton
A organização do Grand Slam da terra batida que Rafael Nadal conquistou por 14 vezes preparou uma vénia definitiva ao já retirado jogador espanhol: colocou uma placa com a sua pegada no court central e pediu a Roger Federer, Novak Djokovic e Andy Murray, os seus maiores adversários, para estarem presentes
O dia de abertura da 124.ª edição de Roland Garros ficou marcado pela homenagem ao espanhol Rafael Nadal, 14 vezes campeão do major francês, a sobrevivência de Nuno Borges e a despedida de Jaime Faria, em Paris.
A chuva que caiu na capital parisiense, no domingo, obrigou à alteração da ordem de jogos, mas não estragou a cerimónia de homenagem ao “maior jogador da história” de Roland Garros, testemunhada pelos seus maiores rivais, o suíço Roger Federer, o sérvio Novak Djokovic e o britânico Andy Murray.
A organização do segundo torneio do Grand Slam da temporada ‘pintou’ as bancadas da cor do pó de tijolo, a superfície onde o maiorquino foi rei durante uma ‘vida’ – dos seus 92 títulos, 63 foram conquistados em terra batida -, distribuindo t-shirts com a inscrição ‘Merci Rafa’ pelo público que lotou o court Philippe-Chatrier e entre o qual estavam, por exemplo, os espanhóis Carlos Alcaraz, Juan Carlos Ferrero, ou os franceses Yannick Noah e Jo-Wilfried Tsonga.
Jean Catuffe
O detentor de 22 títulos do Grand Slam recebeu um troféu especial, com alusão aos 14 troféus em Paris (2005-2008, 2010-2014, 2017-2020 e 2022), sendo o único a ganhar mais do que 11 vezes o mesmo Major, e ainda viu ser revelada uma placa cravada no court Philippe-Chatrier, replicando a sua ‘pegada’ na catedral da terra batida.
Roland Garros despediu-se do “maior jogador da sua história”, com uma emocionante cerimónia de homenagem a Rafael Nadal, o antigo tenista que ficará permanentemente gravado no court Philippe-Chatrier e que hoje foi celebrado pelos seus grandes rivais.
Depois de uma cerimónia sem brilho no dia da sua retirada oficial, em 19 de novembro de 2024, o histórico espanhol voltou hoje a ‘casa’ para um último adeus ao torneio que definiu a sua carreira, à qual ninguém faltou, nem mesmo Roger Federer, Novak Djokovic e Andy Murray.
Roland Garros ‘pintou’ as bancadas da cor do pó de tijolo, a superfície onde o maiorquino foi rei durante uma ‘vida’ – dos seus 92 títulos, 63 foram conquistados em terra batida -, distribuindo t-shirts com a inscrição ‘Merci Rafa’ pelo público que lotou o court Philippe-Chatrier e entre o qual estavam, por exemplo, os espanhóis Carlos Alcaraz, Juan Carlos Ferrero, ou os franceses Yannick Noah e Jo-Wilfried Tsonga.
As palavras e as lágrimas
Com a família nas bancadas, Nadal entrou com um sorriso gigante no ‘palco’ onde conquistou 14 títulos, um recorde, não evitando emocionar-se ainda antes de a organização passar um vídeo com um pequeno resumo da sua gloriosa carreira na ‘catedral da terra batida’. Exatamente no dia em que se assinalam 20 anos desde a sua estreia no quadro principal do ‘major’ parisiense, o vencedor de 22 torneios do Grand Slam chorou ‘embalado’ pelos aplausos e pelos gritos de ‘Rafa, Rafa’, começando por falar em francês.
Com um discurso preparado, revelou ter-se emocionado de cada vez que jogou naquele court, “o mais importante” do seu percurso, recordando “uma história incrível” que começou em 2004 – a primeira vez que esteve no complexo - e também as suas grandes rivalidades, com Murray, Djokovic e, “claro”, Federer, o suíço que foi o seu adversário número e que se tornou um grande amigo.
Anadolu
Anadolu
16
Nadal elogiou “um torneio único”, agradecendo a todos que nele trabalham, um agradecimento que estendeu, depois, aos amigos de toda a vida, aos patrocinadores, a todos aqueles que fizeram parte das suas equipas técnicas, nomeadamente àquele que foi o seu treinador mais marcante, o tio Toni Nadal, “a razão pela qual” chegou onde chegou.
“Quero que saibas que a minha gratidão por teres sacrificado tanto por mim é infinita. Foste o melhor treinador que podia ter tido”, disse, já sem conseguir conter as lágrimas.
Apesar de ter perdido “uma das folhas que tinha preparado”, continuou de improviso para dedicar as palavras mais especiais à família, nomeadamente à mulher Maria Francisca Perelló, reconhecendo que o último ano e meio não foi fácil, e aos pais e irmã, “os maiores pilares” da sua vida. “Para acabar, obrigado França, obrigado Paris. Vocês ofereceram-me emoções e momentos que nunca poderia imaginar. Não imaginam quão gratificante é ser amado no local mais importante para nós”, declarou, recordando a honra que foi transportar a tocha olímpica na cerimónia de abertura de Paris2024.
O ‘rei da terra batida’ terminou o seu discurso agradecendo ao público por tudo aquilo que o fez sentir, antes de voltar a chorar com a entrada em court de pessoas, mais ou menos anónimas, que marcaram o seu percurso no torneio.
Inevitavelmente, à merecida cerimónia de despedida ao antigo número um mundial não faltaram os restantes membros do ‘Big 4’, com Federer, Djokovic e Murray a descerem à terra batida para abraçar o espanhol, quase a cumprir 39 anos. “Depois de tantos anos a lutarmos, é inacreditável como o tempo muda a perspetiva das coisas. […] Quando acabamos a carreira, trata-se apenas de estarmos felizes com o que alcançámos”, salientou.
Para Nadal, a presença dos seus três grandes rivais neste dia “é uma grande mensagem para o mundo”.
“Mostrámos que podemos lutar sendo sempre bons colegas e respeitando-nos. Significa muito para mim que estejam todos aqui, deram-me momentos difíceis em court, mas desfrutei de ir ao limite para competir com todos vocês”, admitiu. O maiorquino recebeu ainda um troféu especial, com alusão aos seus 14 títulos em Paris (2005-2008, 2010-2014, 2017-2020 e 2022) – é o único jogador a ganhar mais do que 11 vezes o mesmo Grand Slam -, antes da maior das surpresas.
Nuno Borges segue, Jaime Faria cai
Ainda antes das emoções fortes e dos momentos bonitos vividos no principal palco do torneio francês, já a número um mundial, a bielorrussa Aryna Sabalenka, havia aberto a jornada com uma vitória demolidora sobre a russa Kamilla Rakhimova (86.ª WTA), pelos parciais de 6-1 e 6-0.
A chinesa Qinwen Zheng (sétima WTA) também regressou Phiippe-Chatrier, onde conquistou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos Paris2024, com um triunfo, neste caso diante da também russa Anastasia Pavlyuchenkova (50.ª WTA), por 6-4 e 6-3, ao passo que a italiana Jasmine Paolini, finalista há um ano em Paris e campeã do Masters 1.000 de Roma, sofreu para ultrapassar a também oriental Yue Yuan (89.ª WTA) e seguir em frente, com os parciais de 6-1, 4-6 e 6-3.
Na prova masculina, o italiano Lorenzo Musetti, número sete ATP, e o norte-americano Frances Tiafoe (16.º ATP) confirmaram o favoritismo na ronda inaugural, ambos em três sets, ao contrário do português Jaime Faria, eliminado por Jenson Brooksby (161.º ATP), campeão do ATP 250 de Houston, em quatro partidas, por 6-1, 3-6, 6-3 e 6-2.
O lisboeta, de 21 anos, que figura no 115.º lugar no ranking mundial, despediu-se ao fim de duas horas e 20 minutos de Roland Garros, naquela que foi a sua estreia em quadros principais de torneios do Grand Slam.
A fechar a sessão noturna, já depois do último embate no court principal, onde o norte-americano Ben Shelton (13.º ATP) se impôs em cinco sets ao italiano Lorenzo Sonego (44.º ATP), o número um nacional e 41 do mundo, Nuno Borges, conseguiu recuperar de uma desvantagem de duas partidas a zero para derrotar o francês Kyrian Jacquet (151.º ATP), pelos parciais de 3-6, 6-7 (3-7), 6-4, 6-3 e 6-3.
Ao fim de três horas e 34 minutos de um encontro muito equilibrado, o maiato tornou-se no primeiro tenista português a operar uma reviravolta de dois sets abaixo para vencer no Grand Slam, ficando agora a aguardar pelo desfecho do encontro entre o norueguês Casper Ruud (7.º ATP) e o espanhol Albert Ramos (248.º ATP) para conhecer o adversário da segunda ronda.