Automobilismo

A atracção irresistível do minuto 12

A sempre emocionante largada das 24 Horas de Fronteira
A sempre emocionante largada das 24 Horas de Fronteira
Mário Cardoso

O jornalista Rui Cardoso descreve as particularidades e dificuldades das 24 Horas de Fronteira, um percurso que, mesmo num ano que ainda não trouxe chuva, está cheio de perigos

A atracção irresistível do minuto 12

Rui Cardoso

Jornalista

Numa das crónicas anteriores dava-vos conta do protagonismo cada vez maior alcançado pelos SSV (vulgo “aranhiços”) no todo-o-terreno e nas 24 Horas TT Vila de Fronteira em particular. Isso confirmou-se nos treinos de qualificação realizados na sexta-feira, dia 6 de Dezembro, da parte da tarde. Na verdade, e excepção feita ao primeiro lugar obtido pela equipa luso-francesa de Mário Andrade, num protótipo AC Nissan, os quatro lugares seguintes foram ocupados por “aranhiços”. É preciso chegar ao 10º lugar da grelha para se ver um jipe mais ou menos clássico, o Pajero da equipa da Letónia que tem como primeiro piloto Igor Skoks.

Equilíbrio de forças

Se a luta pela pole position se decidiu por pouco (o SSV de Laurent Poletti ficou a escassos 1,2 segundos de Andrade) não é menos marcante o equilíbrio de tempos entre os concorrentes, por assim dizer, da segunda divisão, ou seja os jipes tradicionais, pick-ups e afins, classificados a partir da 30ª posição (em 75 inscritos). Nos treinos cronometrados houve nada menos de 26 concorrentes cuja volta mais rápida se situou no minuto 12 (contra 9.48 e 9.49 dos dois primeiros classificados). Isto diz-nos basicamente duas coisas: o bom estado (por enquanto) do piso e o relativo equilíbrio de forças.

Pela nossa parte, o já famoso UMM amarelo com o nº de prova 69 (de seu nome UMM Alter Ego) ficou na 41ª posição com uns consistentes 12.20, mercê da condução precisa e segura do Luis Alemão, o nosso especialista em qualificações. Como o TT de resistência se parece com o futsal ou o andebol no facto de haver especialistas para as diversas posições (marcação de penaltis, guarda-redes avançado, etc) teremos um outro piloto, vocacionado para largar da grelha, Manuel Azevedo.

Se tudo correr bem, antes da terceira hora de prova (ou seja lá para as 17.30) o volante passará para as mãos deste vosso dedicado escriba. E já que estamos a falar disso, permitam-me que vos descreva o traçado da pista tal como a vemos ao volante dos nossos carros.

Concentrado de TT em 17 km

A recta da meta tem cerca de 400 m e termina com um gancho de 180º à esquerda. Ao contrário do meu velho Patrol, o Alter Ego deixa-se atravessar à entrada, de forma a despachar a curva que nem o Golf GTI de Kenneth Eriksson no gancho do Confurco (em Várzea Cova, Fafe).

Segue-se um “enrolado” a descer, por vezes escorregadio e a entrada num pequeno troço de asfalto que irá cruzar uma passagem de nível do antigo ramal de Portalegre (uma das muitas vítimas do “comboicídio” dos anos 1980). Inicia-se aí a zona mais rápida do circuito, com uma subida feita a fundo até um planalto ladeado por oliveiras, percorrido o qual se aborda uma descida com três lombas.

O perfil do traçado volta a mudar, tornando-se sinuoso e técnico até à curva à esquerda com a estrada para Monforte à vista. Pelo meio, a travessia da primeira linha de água cuja saída, à medida que o tempo passa, começa a ficar muito lavrada.

Descrita a referida curva à esquerda, entra-se em nova zona rápida (a que os meus companheiros de equipa chamam jocosamente os Mil Lagos), a qual vai fazer a transição para uma zona muito variada, com sucessivas lombas cegas, seguidas invariavelmente de viragens à esquerda. Desce-se para a primeira transposição do Rio Grande de Fronteira no chamado sítio do Burrinho, onde a pista descreve um S após a linha de água. Nos anos de chuva – o que não parece ser o caso deste ano – os 800 m seguintes podem tornar-se infernais.

Passada a descida para uma porteira estreita, começa nova subida rápida (com o Alter Ego porque com o Patrol esqueçam lá isso…) até à segunda passagem de nível que desemboca num gancho à esquerda. Percorre-se nova zona alta a direito que, ao final, curva longamente à direita para seguir, algumas dezenas de metros, paralela ao Rio Grande. Este é transporto no Porto do Cego, albergando a segunda maior zona espectáculo do circuito (a primeira é, naturalmente, a recta da meta e a zona das boxes) com milhares de espectadores.

Mesmo não havendo muita água este ano, a diferença entre o meu antigo carro e este é abismal. Onde passava devagarinho em segunda, aqui é de terceira a fundo e o Alter Ego navega que nem um porta-aviões da Sétima Esquadra.

A pista sobe e torna-se sinuosa, até descer para uma última (e geralmente pequena) linha de água, posto o que cruza uma porteira e inicia a subida para a recta da meta. Cansado? Imagine o que é repetir isto, volta após volta, fugindo dos regos e crateras, dando passagem aos mais rápidos, mas mesmo tempo dobrando os mais atrasados ou lutando com os do nosso campeonato. Em circunstâncias normais serão uns bons 14 ou 15 minutos, correspondentes a uma média da ordem dos 70 km/h.

E à noite de que vos falarei em próxima crónica guia-se à luz do lampião (melhor dizendo das barras de luzes led) e se todos os gatos são pardos, todos os buracos parecem mais fundos…

Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: rcardoso.expresso@gmail.com