Ciclismo

Os minutinhos da glória de Rafael Reis, o craque dos prólogos que é (outra vez) o primeiro camisola amarela da Volta a Portugal

Os minutinhos da glória de Rafael Reis, o craque dos prólogos que é (outra vez) o primeiro camisola amarela da Volta a Portugal
TIAGO PETINGA

Pela sétima vez, o especialista no contrarrelógio foi o mais rápido no primeiro dia da competição. Nos 3,4 quilómetros na Maia, o ciclista da Anicolor/Tien 21 bateu Iúri Leitão por três segundos

Os minutinhos da glória de Rafael Reis, o craque dos prólogos que é (outra vez) o primeiro camisola amarela da Volta a Portugal

Pedro Barata

Jornalista

Durante a passada edição do Tour de France, a cidade de Châteauroux mudou, por um dia, o seu nome para "Cavendish City", homenageando o sprinter britânico, que naquela terra levantou os braços em celebração três vezes consecutivas. Dá vontade de dizer que, no futuro, talvez o prólogo da Volta a Portugal se passe a chamar "Etapa Rafael Reis".

O português tornou-se sinónimo da jornada inaugural da competição. Em 2016, 2018, 2021, 2022, 2023 e 2024, Rafael reinou no prólogo. Em 2025 a tradição cumpriu-se de novo.

O homem da Anicolor/Tien 21 foi o último a partir para a estrada. Mesmo antes de Reis, Iúri Leitão, o campeão olímpico na pista, batera o registo do belga Jens Verbrugghe, sprintando para fazer os 3,4 quilómetros em 3,54 minutos. Revelou-se sintomático que, se Leitão cruzou a meta com o assento fora do selim, erguido na bicicleta, à velocista, Rafael Reis completou o percurso sentado, em posição aerodinâmica, um puro corredor do contrarrelógio.

São os minutos do protagonismo de Rafael Reis. Em cerca de 200 ou 300 segundos, o setubalense impõe-se nos prólogos e justifica uma temporada, quase dá sentido a uma carreira. Ganhou 10 tiradas na Volta a Portugal na carreira, sete delas nesta especialidade.

A Volta partiu da Maia, onde morou a última equipa portuguesa a ter verdadeira expressão internacional ao mais alto nível. A formação sediada na cidade, cujo nome andou entre o Maia-Cin do final dos anos 90 e o Milaneza-Mss do início do século, não só ganhou a Grandíssima em 2001 (com Fabian Jeker), em 2002 (com Claus Michael Møller), em 2004 (David Bernabéu) e em 2007 (Xavier Tondo), mas também foi grande além-fronteiras: conquistou etapas no Paris-Nice (David Bernabéu em 2003), arrecadou a geral da Volta às Astúrias (Fabian Jeker, 2003) e fechou a tradição das equipas nacionais em grandes voltas, conseguindo um 8.º na Vuelta 2001 com Møller — que nesse ano ganhou a 15.ª etapa batendo Simoni, bicampeão do Giro, Sastre, campeão do Tour, e Heras, tricampeão da Vuelta — ou colocando três homens entre os 20 primeiros em 2002 (Mølle, Jeker e Rui Sousa).

A Maia foi, também, palco amargo para o diretor da prova. Em 1990, a Volta lá terminou com um contrarrelógio final em que Fábio Carvalho, por escassos 23 segundos, roubou a amarela e o triunfo final a Joaquim Gomes. Desta feita, as emoções seriam menores, com 3,4 quilómetros para lançar as bases para a muita montanha que está à espreita.

A primeira tarde da 86.ª edição fez desfilar os 111 corredores, pelotão pequeno em quantidade e, sejamos honestos, magro em qualidade em comparação com anos anteriores. É o paradoxo da Volta a Portugal que se acentua: importante em mediatismo, forte em presença nas cidades e na cultura popular durante o verão, capaz de ocupar muitas horas de televisão em sinal aberto, mas desportivamente num terceiro ou quarto plano de relevância. Uma corrida de série D no plano internacional, no entanto o coração vibrante do ciclismo a nível interno, uma modalidade que sofre aquém-fronteiras enquanto os seus melhores brilham internacionalmente.

Iúri Leitão não esconde que o objetivo para esta parte da temporada seria estar quase a participar na Vuelta, que principia a 23 de agosto. A Caja Rural, a sua equipa, não o escolheu, pelo que a ambição se centrou em estar em Viana do Castelo, a sua cidade e local da partida da 1.ª etapa, de amarelo.

O homem que tem uma pista tatuada no braço direito foi três segundos mais lento que Rafael Reis, que fez quase uma média de 53 quilómetros por hora ao longo do trajeto. Quase uma década depois do primeiro triunfo, ninguém destrona o craque dos prólogos. Amanhã a Volta a Portugal, especialmente montanhosa em 2025, trará outras exigências, com três contagens de montanha nos 80 quilómetros finais, duas de terceira categoria e duas de segunda, coincidido estas com as duas passagens pela meta no Santuário do Sameiro, em Braga.

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