Ciclismo

Brady Gilmore bisa na Volta a Portugal e a Israel B mostra o fosso entre o pelotão nacional e o internacional

Brady Gilmore bisa na Volta a Portugal e a Israel B mostra o fosso entre o pelotão nacional e o internacional
TIAGO PETINGA

Pela segunda etapa seguida, o australiano foi o mais rápido, triunfando na empedrada e empinada chegada à Guarda. A Israel Premier Tech Academy, formação satélite de uma equipa da segunda divisão, já vai em três vitórias na Grandíssima

Brady Gilmore bisa na Volta a Portugal e a Israel B mostra o fosso entre o pelotão nacional e o internacional

Pedro Barata

Jornalista

À falta de equipas e corredores de destaque do pelotão estrangeiro na Volta a Portugal, há quem olhe para os 11 dias de esforço como espaço de testes, de crescimento. Como local para fazer crescer talento, não propriamente como ponto culminante ou marcante da temporada.

Num elenco de ciclistas em que apenas a Caja Rural é da segunda divisão das bicicletas, a Israel Premier Tech Academy surge na Volta como equipa B do projeto israelita que figura no escalão de prata da modalidade. Perante o delapidar do talento presente na Grandíssima, parece sintomático que cá chegue um grupo de jovens — todos sub-25, três deles sub-21 — e evidencie nível suficiente para dominar a primeira metade da competição.

Pau Martí, 20 anos, ganhou em Fafe e vestiu a amarela. Daniel Lima, 20 anos, tem estado ao ataque em várias jornadas, a última delas esta 6.ª, com partida de Águeda e chegada a Guarda. Mas seria o seu colega australiano a bisar.

Brady Gilmore, 24 anos, quase um veterano num conjunto em aprendizagem, já erguera os braços em festejos em Viseu. Passado o dia de descanso, repetiu glória. Duas em duas tiradas seguidas, três em seis etapas em linha para a versão B da Israel - Premier Tech. Se o lado A da Israel é uma UCI ProTeam, divisão acima da que tem as equipas portuguesas, esta roupagem secundária é uma Continental Team, em teoria do mesmo degrau competitivo do pelotão nacional.

Talvez de forma enganadora, quem sabe por contingências das corridas, este brilhantismo dos miúdos israelitas destapa a carência de referências internas. O percurso até à Guarda foi raramente plano, cheio de dificuldades, arrancando logo na segunda categoria do Moinho do Pisco, passando por Prados, também segunda categoria, pela terceira categoria de Videmonte e pelas duas terceiras categorias já na cidade de chegada.

Alcançada a fuga do dia, Daniel Lima, um dos jovens portugueses que cedo saiu, tentou agitar logo na madrugada da derradeira subida. Eram 3,1 quilómetros a 6,1% de pendente média e Diogo Barbosa, filho de Cândido, fez um trabalho essencial para apanhar o compatriota.

A APHotels & Resorts/Tavira/SC Farense muito se esforçou em prol de Jesús David Peña, o colombiano candidato à amarela em Lisboa. A Rádio Popular-Paredes-Boavista também cheirou o triunfo com Raúl Rota — outro sintoma da fuga de talento para o exterior é que muitos dos destaques das equipas portugueses sejam estrangeiros —, só que Brady Gilmore foi, de longe, o mais forte nas centenas de metros finais.

Na geral, o russo Artem Nych, da Anicolor/Tien 21, lidera, à frente de Peña, Byron Munton, o sul-africano da Feirense-Beeceler, e de Alexis Guerin, o francês da Anicolor/Tien 21. Todos de equipas portuguesas, todos estrangeiros, a tendência nesta Volta de protagonistas além-fronteiras nas formações de aquém-fronteiras e de jovens de equipas B de equipas da Série B.

Entrando nos dias decisivos da 86.ª edição da mais importante corrida de bicicletas do território nacional, a 7.ª etapa chegará ao alto da Torre, na Serra da Estrela. Partindo do Sabugal, os quase eternos 23 quilómetros de ascensão ao ponto mais elevado de Portugal continental prometem marcar o desfecho final da prova.

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