UEFA Euro 2024

Recordistas de posse, recordistas de cruzamentos, mas poucas oportunidades: o que dizem os números do jogo de Portugal contra a Chéquia

Recordistas de posse, recordistas de cruzamentos, mas poucas oportunidades: o que dizem os números do jogo de Portugal contra a Chéquia
Maja Hitij - UEFA/Getty

Na primeira jornada do Euro 2024, nenhuma equipa teve mais posse (73,6%) nem fez mais cruzamentos (29) que a seleção nacional. No entanto, até ao golo de Conceição, Portugal fez poucos remates com verdadeiro perigo, abusando das bolas colocadas na área, onde Ronaldo não se conseguiu impor

Recordistas de posse, recordistas de cruzamentos, mas poucas oportunidades: o que dizem os números do jogo de Portugal contra a Chéquia

Pedro Barata

Jornalista

O Portugal-Chéquia foi franco e transparente desde o começo. Mostrou logo ao que vinha. Domínio da equipa de Martínez, expetativa dos homens de Hazek. Passe, passe, passe, passe, cruzamento, jogada sem grande consequência.

Primeiros 30 minutos de encontro: 81% de posse de bola para a seleção nacional, mas nenhum lance de verdadeiro perigo. Remates de longe de Bruno Fernandes, Rúben Dias e Nuno Mendes, um cabeceamento falhado de Cristiano Ronaldo.

Nessa meia-hora inicial, apesar do monólogo português, o 1-0 nunca esteve verdadeiramente perto. Segundo os dados da Driblab Pro, empresa especializada em estatística avançada, Portugal, naqueles 30' iniciais, só teve 0,14 golos esperados (ou xG). Os golos esperados medem a probabilidade de um remate dar golo, atribuindo-se um valor entre 0 e 1 a cada disparo. Quer isto dizer que a soma de todas as finalizações portuguesas no primeiro terço do desafio deu um perigo total bastante escasso.

A tendência prolongou-se durante toda a noite de Leipzig. Portugal rematou 19 vezes, valor que, na primeira jornada da fase de grupos, só foi superado por Países Baixos (21) e Turquia (22). Mas o perigo dos disparos foi, quase sempre, diminuto.

No total, Portugal teve 1,6 golos esperados, um valor muito inflacionado pelo golo tardio de Francisco Conceição, que teve um valor de 0,58 xG, sendo, claramente, a ocasião mais flagrante do jogo. A equipa de Roberto Martínez foi apenas a 10.ª, entre as 24 do Europeu, com mais golos esperados na primeira jornada do torneio.

Portugal insistiu nos cruzamentos
JOHN MACDOUGALL/Getty

Perante a postura defensiva dos checos, Portugal foi passando a bola. Passando e passando. Fez 685 passes, face a 199 do adversário.

Nos primeiros 40', toda a equipa checa fez 90 passes com êxito. Só Vitinha, o melhor em campo, e Bruno Fernandes contaram, juntos, 79 passes bem-sucedidos nesses 40' iniciais.

O futebolista da Chéquia com mais passes que chegaram a um companheiro foi o central Ladislav Krejci, com 21. Dez jogadores portugueses tiveram um número superior, incluindo Gonçalo Inácio (25 passes), que só entrou aos 63'.

Roberto Martínez negou-se a comentar em demasia aspetos técnicos ou táticos do encontro. No entanto, houve uma preocupante tendência para não traduzir o caudal ofensivo em chances de golo.

Portugal teve 73,6% de posse de bola, o valor máximo entre todas as equipas da primeira jornada da fase de grupos. Só que a tendência para terminar as jogadas com cruzamentos para uma área cheia de encorpados checos — e na qual, durante muito tempo, Cristiano Ronaldo esteve muito só — não terá sido a melhor escolha.

A seleção nacional fez 29 cruzamentos, valor que não foi superado nesta primeira ronda. Só a Áustria, frente à França, o igualou. No entanto, dessas 29 bolas postas na área, só quatro tiveram êxito, não sendo interceptadas por um checo. Só Bruno Fernandes cruzou oito vezes, sem nunca ter sucesso.

Também as bolas paradas não foram aproveitadas. Roberto Martínez sublinhou os 13 cantos portugueses como métrica para comprovar o domínio nacional. Mas, e sempre com recurso aos dados da Driblab Pro, de todas as bolas paradas de que Portugal dispôs, apenas resultaram 0,09 golos esperados.

Numa dessas ações, Cristiano Ronaldo ensaiou um livre direto. O remate foi parar às mãos de Stanek. Desde a sua estreia em Europeus, em 2004, o capitão já executou 29 livres diretos. Nenhum deu em golo.

Ronaldo bateu o 29.º livre da carreira em Europeus. Ainda não foi desta que marcou
Richard Sellers/Allstar/Getty

Na noite em que se tornou o primeiro futebolista a disputar seis fases finais de Campeonatos da Europa, Cristiano Ronaldo teve dificuldades para se impor na área. Foi três vezes apanhado em fora de jogo, só ganhou 25% dos duelos aéreos que disputou, só tocou cinco vezes na bola na área, menos que Rafael Leão (oito) ou Bernardo Silva (seis). Como de costume, foi o mais rematador da equipa, com cinco tiros, três deles enquadrados.

Como nota positiva, fica a capacidade que Portugal teve para recuperar rapidamente a bola, particularmente no primeiro tempo. Com 20 roubos no meio-campo ofensivo, a equipa de Martínez foi a que mais recuperações fez na metade adversária nesta ronda de abertura.

Neste particular, Nuno Mendes, com quatro roubos, e Vitinha, com três, destacaram-se. O canhoto do PSG admitiu a exigência de ser central, mas lidou bem com o foco que os checos colocaram na sua zona sempre que jogavam direto.

Para evitar Rúben Dias e Pepe, em teoria mais fortes pelo ar, a Chéquia lançava longo sobre o seu lado direito do ataque. Só que Nuno Mendes venceu 85% dos duelos aéreos defensivos que disputou, ganhando um total de sete lances defensivos pelo ar, um máximo entre todos os jogadores do Europeu na primeira jornada.

A estreia de Portugal foi salva mesmo no final, com a combinação entre Pedro Neto e Francisco Conceição, que saltaram do banco aos 90'. No entanto, e como curiosidade, o outro futebolista lançado aos 90' nem chegou a sentir a bola: Nélson Semedo entrou e saiu do jogo sem nunca ter tocado nela.

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