Na Arábia Saudita, as mulheres só foram autorizadas a jogar futebol em 2020, mas o país quer patrocinar o próximo Mundial feminino
MOHAMMED MAHJOUB
As leis aplicadas às mulheres sauditas não impediram o país de avançar para o patrocínio do Mundial de futebol feminino de 2023, por mais contraditório que a situação possa parecer. A Arábia Saudita dá seguimento à aposta forte que tem feito no mundo do desporto ao longo dos últimos tempos
A ligação da Arábia Saudita ao desporto feminino é, no mínimo, recente. Todo o histórico do país em relação aos direitos humanos é prova disso. Falamos de um local onde as mulheres só podem conduzir desde 2018 e apenas conseguem viajar sem a autorização dos maridos desde 2019, sendo que ao longo dos anos anteriores várias chegaram mesmo a ser presas por contrariarem estas regras. No futebol as coisas demoraram mais um pouco, sendo que a primeira liga feminina do país foi criada apenas em 2020.
No meio de tudo isto, existem também as acusações de sportswashing. Ou seja, vários grupos de defesa dos direitos humanos consideram que o país está a usar o desporto para melhorar a sua imagem a nível mundial. Segundo defendem, esta será uma forma de desviar as atenções de leis como a proibição da homossexualidade e a obrigatoriedade de uma autorização masculina para que a mulher se case ou receba alguns cuidados de saúde.
A aposta no desporto tem sido clara ao longo dos últimos anos - acolher corridas de Fórmula 1 ou o investimento do Fundo Soberano do reino no Newcastle, da Premier League, são exemplos -, mas em 2023 já aconteceram dois grandes momentos para o país. Primeiro, a contratação de Cristiano Ronaldo por parte do Al-Nassr e agora o patrocínio ao Mundial de futebol feminino da Austrália e Nova Zelândia.
Segundo avançou a imprensa internacional, a FIFA irá confirmar que a ‘Visit Saudi’, entidade responsável pelo turismo no país, se vai juntar ao grupo de patrocinadores do torneio, que conta já com marcas como a Adidas, Coca-Cola e Visa.
O acordo surgiu através da nova “estrutura de parceria comercial” da FIFA. Este projeto pretende aumentar as receitas para o jogo feminino através dos fundos gerados no Mundial. Ou seja, os fundos regressarão de novo para a modalidade.
O acordo chega numa altura em que a Arábia Saudita organizou e ganhou um torneio de quatro equipas, o que resultou na primeira entrada do país no ranking da FIFA. O que não deixa de levantar algumas questões em relação à compatibilidade do acordo em prol do futebol feminino, tendo em conta a repressão da liberdade das mulheres no país.
Esta aproximação entre a Arábia Saudita e a FIFA poderá ser útil num outro plano da parte do país. Os sauditas querem organizar o Mundial de futebol masculino de 2030. Na luta está também a candidatura conjunta de Portugal, Espanha e Ucrânia.