Federação espanhola promete “mudanças estruturais” e cedeu às exigências das 39 jogadoras que renunciavam à seleção
Daniela Porcelli/ISI Photos
A Real Federação Espanhola de Futebol comprometeu-se a apurar responsabilidades de determinados comportamentos e condutas e a implementar “transformações sólidas e justas”, convidando as jogadoras a fazerem parte da mudança. “Garantimos um entorno seguro às futebolistas e apostamos num clima de confiança mútua para que possamos trabalhar juntos”, garantiu a entidade
A palavra “compromisso” surge no título e no primeiro parágrafo do comunicado da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), no qual a direcção interina garante publicamente “mudanças estruturais” no funcionamento da entidade e convidou as jogadoras a fazerem parte das “transformações sólidas e justas”.
Depois do despedimento de Jorge Vilda, que se seguiu à nomeação de Montse Tomé, a adjunta, o que não foi especialmente bem-visto pelas jogadoras campeãs do mundo, seguiu-se finalmente o afastamento de Luis Rubiales, o presidente da federação que beijou sem consentimento Jennifer Hermoso, uma futebolista espanhola, na cerimónia de entrega de taça e medalhas às novas campeãs em título.
Rubiales, um ex-jogador, foi suspenso pela FIFA e depois de muito pressionado por governo espanhol, Nações Unidas e dezenas de jogadoras, anunciou numa entrevista a Piers Morgan a sua demissão. Mesmo com esse anúncio, Rubiales não se vai livrar do processo da FIFA. Após uma queixa formal de Hermoso, o ex-presidente da federação foi indiciado pelo Ministério Público espanhol por agressão sexual e coação.
Agora, depois de um improvável e inédito título mundial que foi abafado por um beijo e por um comportamento bizarro ao lado da rainha e filha menor, a que se seguiu um ultimato das jogadoras (ou algo mudaria, ou não voltariam a jogar pela seleção), a RFEF anunciou a alteração da marcha e promete dar continuidade ao trabalho no mesmo carril das jogadoras.
A convocatória de Tomé, que será conhecida na tarde desta segunda-feira, foi adiada na sexta-feira porque estavam negociações a decorrer e assim dispensou-se o embaraço de procurar substitutas para as 39 futebolistas que exigiam mudanças e que recusavam ser chamadas enquanto tal não acontecesse. Apesar do compromisso dos dirigentes, não se sabe ainda se as jogadoras terão aceitado ou não voltar a vestir aquela camisola para disputar a Liga das Nações, escreve o “El País”, que garante que as duas partes chegaram a um acordo para modificações nos departamentos que estiveram envolvidos na gestão do caso Hermoso, que terá sido pressionada, ela e o seu entorno, a declarar publicamente que o beijo tinha sido consentido e que não havia qualquer ponta de insatisfação.
“O objetivo é expressar com clareza, e sem interpretações internas ou externas, os eixos estratégicos nesta nova etapa da federação, que tanto o futebol como a sociedade exigem”, pode ler-se no segundo parágrafo do comunicado. O texto revela ainda que a federação “está consciente da necessidade de fazer mudanças estruturais”, o que levou aquela entidade “a tomar decisões difíceis nos últimos dias”.
A nova direção, interinamente dirigida por Pedro Rocha, garante que federação, sociedade e jogadoras estão na mesma pagina: “a renovação e o início de uma nova etapa onde o futebol seja o grande beneficiado de todo o processo”. Além disso, sugere-se que serão apuradas as responsabilidades de “cada um dos comportamentos e condutas” observados até aqui.
Quase no fim do comunicado surge uma promessa: “Garantimos um entorno seguro às jogadoras e apostamos num clima de confiança mútua para que possamos trabalhar juntos e consigamos que o futebol feminino continue a evoluir com muito mais força”.