Futebol internacional

O dinheiro saudita não está a comprar felicidade para todos os futebolistas: “Há muitos jogadores descontentes”, garante Laporte

O dinheiro saudita não está a comprar felicidade para todos os futebolistas: “Há muitos jogadores descontentes”, garante Laporte
Michael Regan/Getty

O central do Al-Nassr relatou, em entrevista ao “AS”, a insatisfação de vários dos craques que, recentemente, trocaram a Europa pela Arábia Saudita, sublinhando a “falta de seriedade” dos dirigentes sauditas ou problemas como “passar três horas por dia num carro”. Estas palavras surgem depois de Jordan Henderson ter saído do Al-Ettifaq rumo ao Ajax por problemas de adaptação e quando há também rumores quanto a uma alegada insatisfação de Benzema

O dinheiro saudita não está a comprar felicidade para todos os futebolistas: “Há muitos jogadores descontentes”, garante Laporte

Pedro Barata

Jornalista

A ida de jogadores consagrados da Europa para a Arábia Saudita foi uma das mais importantes tendências do futebol em 2023. De Cristiano Ronaldo a Neymar, passando por Karim Benzema, Sadio Mané, Mahrez, Jordan Henderson ou Koulibaly, vários futebolistas de elite foram seduzidos pelos milhões do país do Médio Oriente.

A aposta que a Arábia Saudita faz no desporto é clara e ambiciosa, passando pelo fortalecimento do seu campeonato de futebol mas, também, pela organização do Mundial 2034 ou de grandes competições na Fórmula 1, boxe ou ténis. Cristiano Ronaldo e Jorge Jesus têm sido duas vozes que, regularmente, elogiam este investimento e realçam o crescimento do futebol saudita, dizendo mesmo o madeirense que a liga em que atua é, já, superior à Ligue 1, de França.

No entanto, 2024 está a começar com as primeiras nuvens de incógnita quanto à felicidade de jogadores que estão na Arábia Saudita. A saída de Jordan Henderson do Al-Ettifaq para o Ajax devido a problemas de adaptação foi uma espécie de sinal inicial, para o qual contribuiu, agora, uma entrevista de Aymeric Laporte.

O central do Al-Nassr, companheiro de Ronaldo e Otávio e treinado por Luís Castro, deu uma entrevista ao “AS” em que deixa um ponto claro: “Há muitos jogadores descontentes” na Arábia Saudita, garante o internacional espanhol, que diz que os sauditas “não facilitaram” o processo de mudança dos futebolistas da Europa para o Médio Oriente, apontando a falta de “seriedade” dos dirigentes. “Levam a vida ligeiramente, estão na deles. Negoceias uma coisa e, depois, não a aceitam, mesmo depois de a teres assinado. É diferente da Europa”, descreve o canhoto.

Andy Hampson - PA Images/Getty

No verão, Henderson causou grande polémica ao aceitar mudar-se para a Arábia Saudita, um país que ilegaliza a homossexualidade e em que não há respeito por uma ampla variedade de direitos humanos, nomeadamente das mulheres. O médio inglês fora, enquanto capitão do Liverpool, um dos desportistas mais vocais na luta contra a homofobia ou machismo, mas aceitou rumar ao Al-Ettifaq em troca de um contrato milionário.

Meio ano depois, Henderson assume ter havido “erros” na mudança para Oriente, falando mesmo em “arrependimento”.

Comparando com a Europa, Laporte aponta que, no “quotidiano”, os clubes “não cuidam suficientemente” dos futebolistas, apesar dos “bons salários”. E elenca problemas “na qualidade de vida”: “Esperava algo diferente. Passas três horas por dia num carro, Riade é uma loucura de trânsito, de tempo perdido num carro”. Henderson partilhará esta experiência, já que o complexo em que vivia estava a uma hora e um quarto do centro de treinos.

Outra queixa de Laporte deve-se à elevada carga de partidas, entre campeonato, taça e Liga dos Campeões da Ásia. O internacional espanhol qualifica mesmo o calendário como “esgotante”, até porque, depois de viajar para a Europa para representar a seleção, “não há dias de folga”, o que é “física e mentalmente complicado”.

A juntar às palavras de Laporte e à saída de Henderson, os últimos dias viram também crescer a especulação em torno de Karim Benzema. O avançado francês falhou o início da pré-época do Al-Ittihad, alegando ter ficado preso nas Ilhas Maurícias devido a uma tempestade, mas a verdade é que já desde o final de 2023 que se diz que o dianteiro não está satisfeito. Em Inglaterra, tem sido noticiado o interesse do Chelsea no ex-Real Madrid.

Depois do frenesim do verão, o mercado de inverno tem sido, para já, bem mais calmo na Arábia Saudita. A única transferência milionária foi a ida do brasileiro Renan Lodi para o Al-Hilal de Jorge Jesus, pagando o clube do português €23 milhões ao Marselha pelo lateral.

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