Clubes têm mais de €100 milhões para devolver a investidores em 2021

FC Porto adia para 2021 o reembolso de obrigações, ano em que já tem outra emissão para pagar. Sporting e Benfica também têm operações para reembolsar na mesma altura
FC Porto adia para 2021 o reembolso de obrigações, ano em que já tem outra emissão para pagar. Sporting e Benfica também têm operações para reembolsar na mesma altura
Jornalista
Com a intenção de empurrar para 2021 o reembolso de uma dívida de 35 milhões de euros perante investidores, entre os quais adeptos, a SAD do Futebol Clube de Porto passa a acumular, no próximo ano, a necessidade de devolver 70 milhões de euros pelas suas emissões obrigacionistas. Mas não é o único. A Sport Lisboa e Benfica SAD tem também uma fatura, ainda que mais reduzida porque, este ano, já pagou uma parcela. Também um empréstimo pedido pela SAD do Sporting aos adeptos chega ao fim em 2021.
Ao todo, são 116 milhões de euros que estas empresas têm de devolver no próximo ano, quando ainda há grandes incertezas sobre como estará o mundo e o futebol.
Por conta da pandemia, o clube presidido por Jorge Nuno Pinto da Costa quer devolver os 35 milhões de euros da emissão obrigacionista de 2017 apenas em junho de 2021, um ano depois do previsto. A proposta foi já feita, em comunicado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, e o FC Porto sublinha, aí, que pode vir a conseguir até pagar antes dessa nova data. O FC Porto queria realizar uma outra emissão de obrigações para conseguir pagar este financiamento antigo, mas, com as atuais condições de mercado, não foi possível. Assim, pede aos obrigacionistas para aceitarem a nova data, na assembleia a realizar no dia 19 de maio.
Contudo, e como a Tribuna Expresso já escreveu, a SAD tem outra emissão, também de 35 milhões, para reembolsar na mesma data, neste caso, aquela que foi subscrita pelos investidores em 2018. Se este prazo não for alterado, são 75 milhões de euros a reembolsar na mesma altura – e isto num clube que, nos primeiros seis meses desta temporada (cujo desfecho é ainda uma incerteza), apresentou prejuízos acima de 50 milhões. Ou seja, a situação não era positiva e a covid-19 piorou-a.
Mas o FC Porto não está sozinho na necessidade de devolução dos empréstimos concedidos pelos clientes que, aos balcões dos bancos, subscreveram estas obrigações - uma fonte de financiamento em que as empresas, em especial as SAD, apostaram quando os bancos começaram a rejeitar créditos, na época da crise da dívida. Mas as situações dos restantes grandes são diferentes.
A SAD do Benfica tinha, este ano, de devolver a emissão que terminava em abril. Já com a pandemia, concretizou esse reembolso de mais de 48 milhões de euros de obrigações colocadas no mercado em 2017. Em 2018, fez outra emissão, de 45 milhões de euros, cujo prazo de pagamento era em 2021. Só que a SAD liderada por Luís Filipe antecipou-se e reduziu essa fatura.
No final do ano passado, a SAD do Benfica anunciou que iria proceder ao reembolso parcial destas obrigações e, assim, uma parte do dinheiro que deveria ser devolvido apenas em 2021 foi já pago no início de 2020. Mais precisamente: pagou já 25 milhões de euros, para o ano terá de devolver outros 26 milhões de euros por conta dessa emissão.
Em 2022, há ainda uma outra operação, de 40 milhões de euros, também a devolver aos clientes que investiram em 2019.
Já a Sporting SAD – que precisou de pedir recurso ao lay-off para suspender o pagamento da totalidade dos salários da maioria dos trabalhadores durante o atual período de crise – tem uma emissão para reembolsar de €26 milhões também na mesma altura, do empréstimo obrigacionista datado de novembro de 2018.
Até lá, os clubes enfrentam várias incertezas, nomeadamente sobre como se jogará o final da presente época, mas também como poderão vir a alcançar receitas. As principais fontes de proveitos, como as televisivas e de bilheteira, têm limitações: a primeira porque já houve uma antecipação de parte das receitas e porque, à partida, só haverá o pagamento com o regresso dos jogos; a segunda porque mesmo no cenário em que pode haver público nos jogos (o que dificilmente acontecerá), nunca será na dimensão que vinha sendo registada até aqui. E as transferências de atletas, usadas pelos clubes como bóia de salvação, são, também elas, uma incógnita.
E a análise destes 116 milhões de euros que têm de ser pagos a quem subscreveu estas obrigações em 2021 tem de ter em atenção um aspeto: estes são apenas os números relativos às emissões de obrigações colocadas juntos de clientes bancários, com destaque para os adeptos, e não incluem os financiamentos obtidos juntos de bancos ou outros investidores qualificados.
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