A emoção de Filipa Martins já é história: ginasta é a primeira portuguesa de sempre a apurar-se para a final do all-around
JOSÉ SENA GOULÃO/Lusa
Na competição que junta os quatro aparelhos, Martins conseguiu um inédito lugar entre as 24 melhores. O grande protagonista da atuação da portuguesa foi um “Yurchenko com dupla pirueta”, um salto que a própria diz ser “tão arriscado” que há “sempre medo de o meter em competição”. Mas o risco compensou. “Fizemos algo que nunca imaginámos na ginástica portuguesa”, disse, mesmo antes de selada a presença na final
Os tornozelos, massacrados com cinco operações, convidam à prudência. Os 28 anos, idade de veterana na ginástica artística, também. Mas, no maior dos cenários, Filipa Martins decidiu ser ousada.
No all-around, na competição que reúne salto, trave, barras assimétricas e solo, Filipa optou pelo risco. Fez um salto que, diz a própria, treina “desde 2014 ou 2015”, mas que é “tão arriscado” que há “sempre medo de o meter em competição”. “Acho que tanto eu como o meu treinador estávamos um bocadinho com medo”, apontou a portuguesa.
Mas Filipa fez. E talvez essa decisão de desafiar os seus próprios limites tenha sido o primeiro indício de que algo de especial estava para acontecer.
Depois de somadas as pontuações dos quatro elementos, Martins somou um total de 53.166, valor que a deixa como 18.ª das 60 ginastas em prova (a primeira foi Simone Biles). Mais importante: Filipa Martins terminou entre as 24 melhores, garantindo presença na final do all-around. É a primeira portuguesa na história que o consegue.
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Logo após competir, e ainda antes de ter a garantia de estar na decisão da ginástica artística que dar-se-á dia 1 de agosto, Filipa mostrou a sua satisfação: “Podemos sonhar com a final. Estou um pouco emocionada. Fizemos algo que nunca imaginámos na ginástica portuguesa”.
Aprofundando as especificidades técnicas do tal salto, a portuguesa explicou que se designa “Yurchenko com dupla pirueta”, consistindo “numa rondada com flic por cima da mesa e um mortal com duas piretas”. Escrito soa a complexo, executado é heroicidade.
Na terceira participação em Jogos, a ginasta do Acro Clube da Maia consegue a melhor prestação. No Rio fora 37.ª e no Tóquio terminou em 43.ª.
Esta é mais história para uma atleta histórica: já fora a primeira portuguesa a atingir finais por aparelhos em Mundias, ao ser oitava nas paralelas assimétricas em Kitakyushu, em 2021, ano em que também disputou a final do all-around, sendo sétima. Em Antuérpia, em 2023, voltou a chegar à final do all-around, terminando em 21.ª.
Com a felicidade na voz, Filipa aproveitou para deixar uma mensagem para o crescimento da ginástica nacional: "É preciso treinar muito mais, é preciso muito mais apoio e nós não temos, por isso são processos que demoram e aos pouquinhos acho que Portugal está a crescer muito na nossa modalidade e continua a não ter muitos apoios ainda. Por isso, é histórico, não só pelo que fizemos aqui, mas por todo o não apoio, entre aspas, que tivemos, e conseguimos fazer isto”. Recado dado.