Jogos Olímpicos de Paris 2024

Diogo Ribeiro criticou-se, criticou a organização dos Jogos e pede, de fora, “críticas construtivas” em vez de “tanta porcaria na net”

Diogo Ribeiro criticou-se, criticou a organização dos Jogos e pede, de fora, “críticas construtivas” em vez de “tanta porcaria na net”
JOSÉ SENA GOULÃO/Lusa

Depois de não conseguir chegar às meias-finais dos 100 metros mariposa e fechar a sua estreia olímpica, o jovem diz que “custa aceitar” o facto de não estar “na melhor forma”, sendo, agora, momento de “tentar descobrir” o não que correu bem na preparação. Diogo Ribeiro diz que “tinha mais para dar”, tecendo críticas à piscina, aos horários ou às condições da aldeia olímpica. Em Los Angeles 2028 vai, “talvez”, optar por “ficar num hotel”.

Diogo Ribeiro não sabe explicar bem o que aconteceu. Sabe, sim que não correu bem, sobretudo nos 100 metros mariposa, onde tinha mais ambições. “Venho como campeão mundial e nem à meia-final passei…”, lamenta, na zona mista da La Défense Arena.

Terminada a sua série, concluída com o tempo de 51.90 segundos, mais lento do que o seu recorde nacional de 51.17, o jovem aguardou um pouco. Foi o sexto no seu heat, faltavam ainda nadar mais 16 competidores. Contas feitas, Ribeiro não conseguiu estar entre os 16 que passaram às meias-finais, concluindo com o 20.º melhor registo.

Pela cabeça do ainda adolescente passa “um misto de coisas”. O discurso, noutras ocasiões escorreito, tem mais curvas e contracurvas, provavelmente expressando as dúvidas interiores de alguém à procura de resposta. “Estou contente, e ao mesmo tempo não estou. Contente pela experiência e porque são os Jogos Olímpicos, mas ambicionava fazer mais”, confessa.

Depois da saída de cena na primeira eliminatória dos 100 metros livres e de chegar às meias-finais dos 50 metros livres, era nos 100 mariposa, a sua especialidade, onde depositava mais esperanças em Paris. Tinha o 15.º melhor registo à entrada para os Jogos, mas ficou abaixo dos 51.62 segundos que marcaram os últimos nadadores que já asseguram o bilhete para as meias-finais.

Como já admitira, o conimbricense não se sente bem. Não sabe porquê, mas não se sente. “Temos de ver o que falhou no pico de forma”, diz um Diogo que “não estava à espera” de não se encontrar nas melhores condições. “Custa aceitar, são os Jogos Olímpicos e não estou na minha melhor forma.”

JOSÉ SENA GOULÃO/Lusa

Ribeiro procura respostas. Se calhar, teoriza, as “férias depois do Mundial interferiram um pouco”. Após os campeonatos de Doha, quando ganhou dois ouros em fevereiro, apanhou uma bactéria, a qual condicionou os dois meses seguintes de treino.

Correu mal agora, mas tinha de acontecer para percebermos que, se calhar, tínhamos de mudar algo no processo de treino. Não sei o quê, vamos tentar descobrir e, já no próximo ano, tentar mais medalhas”, assegura Diogo.


Sempre medalhado nas categorias mais jovens, o começo da carreira do ainda há pouco tempo adolescente (tem 19 anos) entre os adultos tem sido cheia de êxitos, êxitos não normais na natação nacional. A nível absoluto, tem já dois ouros e uma prata em Mundiais, bem como um bronze em Europeus. Todas estas caricas foram obtidas em mariposa, o que torna a saída de cena nesta eliminatória mais dolorosa. Ainda assim, “não trocaria uma final olímpica pelo título mundial”, garante.

Os lamentos e o caso Simone Biles

Quando viu a série onde estava, Diogo sabia que a companhia seria uma concorrência de alto nível. Pensava que, caso se conseguisse “manter no grupo da frente”, obteria o apuramento, mas, nos derradeiros metros, os melhores “esticaram-se” e ele não conseguiu “acompanhar”.

Ribeiro esperava fazer 51.6 segundos, tempo que lhe daria as meias-finais. A frustração surge, sobretudo, pela gestão que fez da corrida: “Pensei que ia para um tempo mais rápido, mas, ao mesmo tempo, não me esforcei assim tanto para ir para um tempo mais rápido. Sinto que tinha mais para dar. Infelizmente, ia na terceira série, os outros podiam ver o tempo que estávamos a fazer e ir mais rápido”, explica, antes de indicar que deu “o máximo”, mas “um máximo pensado para o que foi a eliminatória”.

“A prova não bem gerida”, lamenta.

O jovem, nestes Jogos Olímpicos, começou por competir em provas de estilo livre. Primeiros os 100 metros, depois os 50. Agora que chegou à sua praia, à mariposa, sente que esta ordem foi, para ele, “uma armadilha”.

Geralmente, noutras provas, Diogo tem a mariposa primeiro no calendário e, ao treinar para o estilo-borboleta, sente que, indiretamente, o estilo livre “sai melhor”, pela forma como a mariposa o coloca “muito em cima da água”.

Em Paris, começou a treinar estilo livre primeiro e só ontem, quinta-feira, na véspera destes 100 metros mariposa, começou a trabalhar o estilo onde é mais forte. Não se sentiu bem na mariposa, diz.

Entre o seu discurso com algumas curvas e contracurvas, procurando explicações e dando-as, assumindo que não está contente por sair de Paris só com umas meias-finais antes de dizer que só pode “estar contente” porque “nunca houve ninguém a fazer isto na natação em Portugal”, o nadador parece antecipar, desde já, algumas críticas ou reparos que lhe podem ser feitos.

Perante isso, considera que “os portugueses podem e devem pedir mais”, porque ele chegou “como campeão mundial”, mas “também devem agradecer” o que os atletas fazem. “Chegamos aqui e ninguém quer mais do que nós. Por isso é que digo que não tenho pressão de fora, já tenho a minha própria pressão e essa é a maior de todas.”

Diogo espera vir “mais preparado para a próxima”. Agora, quer “manter a calma” e faz uma longa reflexão sobre o “psicológico”, que os atletas “treinam muito”.

Só quem é campeão do mundo e ganha medalhas todos os anos, e há muitos atletas portugueses a fazer isso, é que percebe o quão psicologicamente preparados temos de estar para chegar lá e fazer. Tenho a certeza que não é por ter chegado aqui, na primeira prova em que falhei, que as pessoas vão começar a criticar. Críticas construtivas são boas. Mas, às vezes, como já aconteceu à Biles, ver tanta coisa, tanta porcaria na net, dá cabo da cabeça de um atleta. Temos de apoiar os atletas e não rebaixá-los mais.”

JOSÉ SENA GOULÃO/Lusa

As críticas a Paris 2024

No mestrado que Diogo Ribeiro parece ter vindo fazer aos Jogos, aprendendo sobre este grande palco mundial, o adolescente diz que “faz tudo parte do processo”, que tudo o vivido é “para ganhar experiência e perceber” o que pode “fazer daqui para a frente na carreira”.

Uma dessas mudanças será, “talvez”, “ficar num hotel em Los Angeles 2028”. A experiência na aldeia olímpica não o agradou, particularmente pela alimentação. Ele “esperava o olimpo” a nível de condições, mas, por muito que diga que o Comité Olímpico de Portugal tenha tentado dar “as melhores condições que conseguiram arranjar”, diz que essas “não se podem comparar aos Estados Unidos”, que têm “tudo o que quiserem”, como “um prédio só para eles”. “Não precisam de sair de lá de dentro, têm lá os chefes de cozinha e tudo. Sei que, com o tempo, vamos melhorar”, deseja.

Outra nota de crítica é a piscina, com Diogo a juntar-se aos reparos feitos por outros nadadores nestes Jogos. No “mundo pequeno” da natação, detalha Ribeiro, as coisas “falam-se” e parece haver unanimidade quanto ao desagrado geral com esta piscina.

JOSÉ SENA GOULÃO

O jovem fala da “turbulência”, das “ondas” que se geram por um recinto com menor profundidade do que nos mais recentes grandes campeonatos. Esta é uma piscina provisória, colocado no centro da que, normalmente, é a casa do Racing 92, clube de râguebi.

O derradeiro reparo que o português faz é aos “horários das competições”, que “não são os melhores”, terminando muito tarde à noite. “Eles [organização] fazem o que podem, tentam encaixar todos os horários, há os chineses, os americanos, foi o horário que encontraram para que todos estivéssemos mais ou menos, mas acho que se deviam seguir um bocado os mundiais, com horários às 9 da manhã e 6 da tarde. Os próximos Jogos são em LA e tenho a certeza que eles vão meter horários maus para nós [europeus]”.

Com críticas, com auto-crítica, com pedidos, com lamentos. Procurando explicações. A primeira vez de Diogo Ribeiro nuns Jogos Olímpicos está terminada. É tempo de férias, mas, nas entre-linhas, ele já olha para 2028.

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