Jogos Olímpicos de Paris 2024

Maria Martins termina Omnium no 14.º lugar e fecha participação portuguesa nos Jogos Olímpicos 2024

Maria Martins termina Omnium no 14.º lugar e fecha participação portuguesa nos Jogos Olímpicos 2024
HUGO DELGADO/Lusa

A derradeira representante nacional em Paris não conseguiu repetir o diploma de Tóquio 2020, quando foi 7.ª. Numa prova em que a norte-americana Jennifer Valente voou e ganhou o ouro, Maria pareceu sempre não ter forças suficientes para ir à procura de um lugar melhor

Adeus, velódromo de Saint-Quentin-en-Yvelines, o grande palco da glória portuguesa em Paris 2024. Foi fantástico conhecer-te.

Foi no local onde Iúri Leitão e Rui Oliveira conquistaram o primeiro ouro da história nacional fora do atletismo, no Madison, e onde Leitão foi prata no Omnium que se fechou a presença nacional nestes Jogos Olímpicos. O ciclismo de pista masculino estava em estreia para Portugal, mas o feminino não e foi por aí que o ponto final foi colocado.

Em Tóquio 2020, Maria Martins, outra das pioneiras destas bicicletas sem travões, conquistou um excelente 7.º lugar, obtendo um diploma. Desta feita, não conseguiu imitar o feito, concluindo em 14.º no Omnium.

Após meses difíceis, tendo de lidar com a frustração de não ter visto o seu contrato com a Fenix-Deceuninck, equipa que representava na estrada, ser renovado, a primeira portuguesa de sempre a correr no World Tour, a primeira divisão do ciclismo, chegava aos Jogos longe de ter deixado grandes indicações nos últimos meses. A exclusão da prova de estrada, sendo preterida pelo selecionador em detrimento de Daniela Campos, foi outro duro golpe para a corredora de 25 anos.

Assim, Maria Martins apresentou-se em Saint-Quentin-en-Yvelines como uma ciclista sem forças para fazer a diferença. Nas poucas vezes em que fez esboços de arranques, foi sempre mais olhando para trás do que para a frente, procurando companhia, sem ofensivas determinadas e convictas, mas mais tentativas tímidas.

Bem, vamos lá rever a matéria dada, voltando a lições já tidas nestes dias em que Portugal entrou num curso avançado de ciclismo de pista.

O Omnium é composto por quatro provas: o scratch, a parte mais simples, com 30 voltas à pista (7,5 quilómetros) e o objetivo de ser a primeira a cruzar à meta; a tempo race, durante 30 voltas, havendo 26 sprints consecutivos, em que pontua a primeira a cruzar a meta, dando-se 20 pontos de vantagem a quem der uma volta de avanço; a corrida de eliminação, o salve-se quem puder do velódromo, em que de duas em duas voltas a última é eliminada; e a corrida por pontos, de 80 voltas, de longe a maior das distâncias do Omnium, em que se distribuem pontos às quatro primeiras a cada dez voltas, havendo, também, a regra das voltas de avanço, ponto absolutamente crucial da competição.

No scratch, o primeiro exercício e aquele que menos pesa nas contas finais, houve prudência generalizada entre as 22 participantes. Sem grandes ofensivas, só se arrancou verdadeiramente nas 5 voltas finais, numa discussão ao sprint. Aí, a craque norte-americana Jennifer Valente, campeã do mundo e olímpica em título, impôs-se, arrancando o Omnium na liderança com 40 pontos. Tata foi 13.ª, somando 16 pontos.

Tal como na parte masculina, entre provas é Gabriel Mendes quem está mais perto da portuguesa de Santarém. Dá-lhe indicações, mostra-lhe algo num telemóvel. Na box de Portugal, colocada no centro do velódromo, estão Iúri Leitão e Rui Oliveira, os novos ídolos do desporto português.

Como sempre, está abafado neste velódromo. Seria possível trazer algum do gélido ar condicionado de Bercy para aqui?

Depois do scratch, a tempo race. Aí, a irlandesa Lara Gillespie foi quem mais se destacou, dando uma volta de avanço e somando os desejados 20 pontos. O movimento que marcaria, depois, esta prova foi um ataque de Jennifer Valente, Georgia Bakker, da Austrália, e Daria Pikulik, da Polónia. Maria Martins foi-se mantendo no grupo principal e, no final, chegou em 8.ª. Na geral, passou para 11.ª, com 42 pontos.

HUGO DELGADO/Lusa

Seguia-se o mais brutal e implacável dos momentos, a corrida de eliminação, uma disputa pela sobrevivência, a batalha por ficar à tona de água, o combate por ir conseguindo respirar. De duas em duas voltas, a última era eliminada.

Quando se ouve o nome de um país pelos megafones do velódromo, indicando a eliminação, é como ditar a sentença para ir cumprir pena de morte. Tata aguentou a primeira parte da prova sem gastar demasiada energia, indo no meio do grupo, mas uma má colocação, deixando-a fechada, sem possibilidade de reagir, condenou-a a ser a nona a sair. A melhor foi, uma vez mais, Jennifer Valente, que pareceu sempre segura, sempre confiante, lendo a posição das adversárias, dominando tudo o que sucedia neste velódromo.

Antes da última etapa do Omnium, a norte-americana era a líder natural, com 118 pontos. Maria Martins seguia em 13.ª, com 54 pontos.

O velódromo é um espaço dominado por britânicos, neo-zelandeses e neerlandeses, os países que mais medalhas somaram nestas bicicletas sem travões em Paris 2024. Entre cada momento do Madison, a Nova Zelândia ganha, como quem não quer a coisa, mais um ouro, por Ellesse Andrews no sprint.

Na corrida por pontos, Maria confirmou que não tinha energia para fazer diferenças. Esboçou um ataque a 46 voltas do fim, mas sempre mais mirando quem vinha atrás do que colocando o olhar no horizonte.

Enquanto Jennifer Valente controlava a luta pelo ouro, Tata fez o seu melhor ataque a 25 voltas do fim. Chegou a apanhar a neo-zelandesa Ally Wollaston, uma excelente roda, mas não a conseguiu seguir. Wollaston terminou com o bronze, a polaca Pikulik com a prata. Jennifer Valente, num dia em que os EUA querem ultrapassar a China na corrida por ter mais ouros, deu um triunfo muito festejado para os norte-americanos.

Contas feitas, Maria Martins foi 14.ª, a uma distância considerável do diploma (41 pontos), o seu objetivo em Paris 2024. Os últimos tempos não foram fáceis, a condição física não era a melhor.

Mas que bom foi termos conhecido o velódromo de Saint-Quentin-en-Yvelines, novo templo do olimpismo português.


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