Passou muito tempo desde 6 de julho de 2011. Mais concretamente, 4.408 dias. É até aí que é preciso recuar para encontrar a última derrota dos Estados Unidos da América num Mundial, no caso frente à Suécia, na competição disputada na Alemanha.
A herança herdada por Vlatko Andonovski não podia ser mais pesada. Sem derrotas na máxima competição continental, com um bicampeonato mundial nas costas, com vitórias em quatro das oito edições do torneio e uma constelação de estrelas da bola, feitas ícones do crescimento do futebol feminino: o macedónio do norte, nascido na então Jugoslávia em 1976, treina as rainha do soccer e isso sente-se no ambiente.
Depois da vitória (3-0) contra o Vietname e do empate (1-1) contra os Países Baixos, os EUA encaram o embate contra Portugal não podendo ter deslizes. Por isso, as questões dos muitos jornalistas norte-americanos na conferência de imprensa de antevisão centram-se na ansiedade, na carga psicológica da partida, no desastre que seria uma eliminação precoce.
Andonovski sabe como as coisas são e assume-o com naturalidade, sempre com um sorriso simpático a cada resposta. “Desde o momento em que me sentei nesta cadeira, em 2019, a pressão começou. Isto não é novo ou algo que não esperasse. A diferença de 2019 para agora é que aprendi a transformar a pressão em entusiasmo”, explica.
Ao lado do técnico, Naomi Guirma, uma das mais jovens de um grupo de 23 convocadas com 10 futebolistas na casa das três décadas de vida, explica como “cuida da saúde mental” num ambiente tão exigente. Ter a família aqui na Nova Zelândia, garante, é “ótimo” para “sair da pressão do quotidiano” e tentar criar um “equilíbrio emocional” para estar “ao melhor nível a cada desafio”.
O embate que se disputará no Eden Park, em Auckland — com a FIFA a garantir que haverá casa cheia, isto é, 43.000 espetadores —, terá dois amigos sentados nos bancos de suplentes. Vlatko Andonovski e Francisco Neto conhecem-se de formações de treinadores e, também, dos tempos em que Jéssica Silva foi jogar para os EUA, com o português a informar-se junto do macedónio do norte sobre o que a avançada encontraria nos Kansas City.
O selecionador da equipa do soccer descreve Neto como “um grande tipo e muito bom treinador”, com o qual mantém “uma excelente relação”. Mas “amizade é amizade e trabalho é trabalho”.
Avisos sobre Portugal
Alguns jornalistas suecos na sala questionaram Andonovski sobre um possível confronto nos oitavos de final frente às nórdicas. O selecionador, prudente, não quer saber de cenários futuros, pedindo “foco” em “estar bem contra Portugal”.
A seleção nacional tem um registo altamamente desfavorável contra as bicampeãs mundiais, com 10 derrotas, um empate e zero golos marcados em 11 confrontos. No último confronto, um amigável em 2021, os Estados Unidos impuseram-se por 1-0, mas Vlatkvo avisa que Portugal “cresceu muito” desde essa altura, sendo agora “muito melhor”.
Nos primeiros minutos da conferência de imprensa pouco se falou de Portugal, porém, mal foi questionado sobre as adversárias que terá pela frente em Auckland, Andonovski avisou contra a soberba: “Não será um passeio no parque. Elas são uma muito boa equipa, com um muito bom treinador. Para mim, Portugal é 2.ª do ranking [é 21.ª e os EUA lideram], tal como o eram o Vietname ou os Países Baixos quando foram nossos oponentes. Abordamos cada equipa com imenso respeito, a abordagem não muda segundo o adversário”, assegurou.
Na Nova Zelândia, Francisco Neto tem saído do 4-4-2 losango que se confundia com a identidade da seleção e tem atuado com três centrais. Olhando ao que Portugal fez contra os Países Baixos, mas também no amigável em Inglaterra e “noutros confrontos frente a países acima no ranking”, o técnico dos EUA opina que a equipa nacional tem sido “mais conservadora do que agressiva”, tentando “obter resultados nas poucas oportunidades que criam”, previu o macedónio do norte virado norte-americano: “Não esperamos menos: um conjunto organizado defensivamente, procurando eficácia no contra-ataque.”
Numa equipa cheia de bicampeãs do mundo, o tema da transição geracional é um dos mais recorrentes na imprensa norte-americana. Uma das estreantes na competição é Naomi Girma, defesa que vem sendo titular, que definiu “a mistura entre gente muito experiente e jovens a aparecer” como “uma das maiores forças desta equipa”.
A central californiana falou também sobre a praga de lesões, particularmente nos joelhos, que tem afastado várias das principais protagonistas do futebol feminino da Oceânia. Girma elogiou o trabalho da federação dos Estados Unidos, que “ouve as preocupações das jogadoras”, algo que lamenta não acontecer noutras seleções: “É preocupante que muitas jogadoras não sintam que são ouvidas quando falam do que temem.”.
Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: tribuna@expresso.impresa.pt