Tribuna 12:45

Para azar de Trump, só há uma coisa em que a Gronelândia quer ser americana: no futebol

Crianças jogam futebol nos campos gelados da Gronelândia
Joe Raedle

Falar dos jogadores da seleção de futebol da Gronelândia é um bocadinho como ver aquelas reportagens com equipas da distrital que, por energia feérica dos sorteios, calham a um dos três grandes nas primeiras rondas da Taça de Portugal. Todos jogam por paixão e treinam à noite, depois de suarem durante o dia numa miríade de labores que lhes dão o pão. Entre os futebolistas da Gronelândia há quem trabalhe em bancos, em cafés. Há pescadores. Soren Kreutzmann, um dos mais populares jogadores do território, é barbeiro. O capitão Patrick Frederiksen trabalha num orfanato. O treinador adjunto Nukannguaq Zeeb é um autor publicado e vocalista de uma banda de música de sucesso no país.

A Gronelândia é a maior ilha do planeta, mas 80% da área é coberta por espessas camadas de gelo. Nos 20% onde a vida é possível, vive-se um eterno inverno - no verão, as temperaturas raramente ultrapassam os 10 graus. Há 18 campos de futebol em toda a extensão desta região autónoma da Dinamarca e o desporto, com destaque para o futsal, pratica-se essencialmente indoor. O campeonato nacional de futebol disputa-se em apenas uma semana, a cada agosto. No último, jogado nesse curioso conjunto aparentemente aleatório de letras que é a cidadezinha de Qeqertarsuaq (população: 839), três das 10 equipas acabaram por desistir por dificuldades em conseguir transportes: com as estradas geladas, a locomoção muitas vezes só é possível de barco ou de avião.

Mas a Gronelândia tem um sonho. A Gronelândia, de quem tanto ouvimos falar nas últimas semanas, quer jogar futebol, de forma oficial e não apenas para alimentar o fascínio pela bola dos seus cerca de 50 mil habitantes - 10% deles, garante a federação local, jogam futebol. E é só no futebol que a Gronelândia, que vive sem pagar renda nos sonhos imperialistas de Trump, quer ser americana.

Em maio do ano passado, a Gronelândia submeteu oficialmente um pedido para se juntar à CONCACAF, a confederação que junta as seleções da América do Norte e Caraíbas. Não pode pedi-lo à UEFA, à Europa a quem politicamente pertence, porque a confederação europeia apenas aceita como membros estados reconhecidos pelas Nações Unidas - as Ilhas Faroé, também território dinamarquês, e Gibraltar, sob administração britânica, juntaram-se à UEFA antes deste estreitar de regras, que aconteceu em 2007.

Ora a CONCACAF não tem esses pruridos. Caso seja aceite, a Gronelândia estará na mesma situação de equipas como a Martinica, Guiana Francesa ou Guadalupe, territórios gauleses. Ou Bonaire, que pertence aos Países Baixos. Todos podem jogar nas competições da CONCACAF, mas não da FIFA. Ainda assim, seria um bom pontapé de saída conseguir competir contra seleções como o Canadá, Estados Unidos ou México. Numa comparação bem sacada, o The Athletic lembra que toda a população da Gronelândia caberia (à larga) nos mais de 80 mil lugares do Estádio Azteca, na Cidade do México.

Só que aconteceu Trump. E, de repente, o sonho é pela sobrevivência. Uma reunião entre a Federação de Futebol da Gronelândia e a CONCACAF para discutir o pedido de adesão deveria ter acontecido em finais de fevereiro, em Miami, onde está a sede da confederação. Foi adiada para abril, em Londres, território neutro, como quem tenta afugentar o mais possível a tensão diplomática que se vive e os delírios de loucura de um homem, que pouco quererá saber que 85% dos habitantes da Gronelândia tenham afirmado categoricamente que não querem ser norte-americanos. Só no futebol.

O desporto, que tantas vezes se recusa a ser político, sabe bem que não pode fugir aos ares (pouco agradáveis) do tempo. Viu-se na última vez que Canadá e Estados Unidos se defrontaram no hóquei no gelo. Em termos mais dramáticos, foi sentido quando, há poucos dias, Jesse Marsch, norte-americano que treina a seleção de futebol do Canadá, revelou que depois de criticar publicamente a atitude de Trump face ao país que agora o acolhe recebeu mensagens de dezenas de pessoas preocupadas com a possibilidade de lhe acontecer algo.

Aqui chegámos, cortesia do país que vai receber o Mundial de Clubes este ano e o de seleções em 2026.

O que se passou

Vitórias para Benfica, Sporting e FC Porto nos últimos dias, ainda que a dos encarnados tenha sido de jornada em atraso - jogam na quarta-feira para acertar calendário.

Depois do Mundial de 2030, Espanha, Portugal e Marrocos estarão a estudar candidatar-se à organização do Mundial feminino de 2035.

O Sporting conquistou, frente ao Benfica, a Taça de Portugal de futsal.

Zona mista

Estamos mais do que preparadas para este compromisso

Catarina Campos tornou-se no sábado na primeira árbitra a dirigir um encontro da I Liga e no final sublinhou o que continua a não ser óbvio para alguns cérebros velhos. Uma vitória de todas personificada em alguém que, contaram ao Francisco Martins, é excelente “na gestão emocional” do jogo e “prepara muitíssimo bem” cada jogo.

O que aí vem

Segunda-feira, 31
⚽ Na II Liga, o Benfica B recebe o Académico de Viseu (18h, BTV). Veja também o Mafra-Felgueiras (20h15, Sport TV1)
🏀 NBA: Orlando Magic-LA Clippers (0h, Sport TV1)
🎾 ATP 250 de Marraquexe, com Nuno Borges (14h, Sport TV3)

Terça-feira, 1
⚽ Em jogo ainda a contar para a 27.ª jornada da I Liga, o Gil Vicente vai a casa do Boavista (20h15, Sport TV1)
⚽ Na 30.ª jornada da Premier League há duelo português: o Man. United, de Ruben Amorim, joga em casa do Nottingham Forest, de Nuno Espírito Santos (20h, DAZN1). Antes, o Arsenal recebe o Fulham, de Marco Silva (19h45, DAZN2)
🤾🏼‍♀️ Andebol: o FC Porto joga com o Toulouse a 2.ª mão do playoff da Liga Europeia (19h45, Porto Canal)

Quarta-feira, 2
⚽ O Benfica-Farense (20h15, BTV) fecha a 27.ª jornada da I Liga
⚽ Há dérbi de Milão nas meias-finais da Taça de Itália: AC Milan-Inter (20h, Sport TV2)
⚽ Atlético Madrid e Barcelona jogam nas meias-finais da Taça do Rei (20h30, Sport TV1). A 1.ª mão acabou com um louco 4-4
🏀 NBA: Cleveland Cavaliers-New York Knicks (0h, Sport TV7)

Quinta-feira, 3
⚽ Nas meias-finais da Taça de Portugal, o Sporting recebe o Rio Ave (20h15, Sport TV1)
⚽ O dérbi Chelsea-Tottenham fecha a 30.ª jornada da Premier League (20h, DAZN1)

Sexta-feira, 4
⚽ Duelo ibérico na Liga das Nações feminina: Portugal-Espanha (19h45, RTP1)
⚽ AFS e Estoril abrem a 28.ª jornada da I Liga (20h15, Sport TV1)

Sábado, 5
⚽ I Liga: Arouca-Famalicão (15h, Sport TV1) e Vitória-Santa Clara (20h30, Sport TV1)
⚽ O PSG pode sagrar-se já campeão francês, caso pontue frente ao Angers (16h, Sport TV4)
🏀 NBA: Atlanta Hawks-New York Knicks (20h, Sport TV5)
🏁 F1: GP Japão, qualificação (7h, DAZN)

Domingo, 6
⚽ O jogo grande da ronda 28 da I Liga: FC Porto-Benfica (20h30, Sport TV1)
⚽ Ainda na I Liga siga o Nacional-Estrela (15h30, Sport TV6) e o Gil Vicente-Moreirense (15h30, Sport TV2)
⚽ Na Premier League, o United e o City jogam o dérbi de Manchester (16h30, DAZN1)
🏀 NBA: Oklahoma City Thunder-LA Lakers (20h30, Sport TV2)
🏁 F1: GP Japão, corrida (6h, DAZN)
🚴 Volta à Flandres (8h, Eurosport 1)

Hoje deu-nos para isto

A Operação Mais Valia terá ajudado apenas a destapar o mal-estar entre Pedro Proença e Fernando Gomes. A reação da nova direção da FPF às buscas no organismo, referentes a questões da anterior gerência, não terão agradado ao líder cessante e a nova FPF não terá gostado de ter investigadores à porta. E assim sucessivamente, como diria o saudoso João César Monteiro.

Mas, neste momento, interessarão pouco as razões. Ou quem a tem. Quem sofre com esta luta de cartas, de pombos-correio acusatórios para trás e para a frente, já se sabe, é o desporto português.

É um bonito serviço que ajudará pouco quem quer que seja nesta guerra. Ver o líder da maior federação nacional e o novo dono do mais relevante cargo do desporto português neste tão público conflito diz-nos, novamente, e desta vez em alta cúpula, que o desporto português não é um lugar de paz. O prejuízo último, já se sabe, será sempre para os atletas, que não podiam ter menos a ver com isto.

Gualter Fatia

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