Brinca-se que os jogadores de futebol vivem numa bolha, mas não é brincadeira nenhuma. Até no que diz respeito aos contratos de trabalho isso é verdade. Viktor Gyökeres está há mais de uma semana sem se apresentar ao trabalho na sua entidade empregadora. Diz a lei que, fosse ele um cidadão comum, e estaria a caminho de um processo de despedimento por justa causa, mas sabemos bem que o futebol não é, lá está, para cidadãos comuns e a etiqueta que o sueco tem agarrada ao seu poderoso portfólio de capacidades é, também, um seguro para namoriscar com expedientes à margem do que convencionamos chamar de confiança entre duas entidades que têm uma relação, seja ela de que teor.
A gíria das relações profissionais atira-nos com termos em inglês, porque, já sabemos, é nos meandros anglo-saxónicos que tudo se tipifica inicialmente, antes dos conceitos partirem para outras latitudes com línguas onde eles ficam menos na cabeça. A língua inglesa fica sempre bem, como no cinema. Mas, antes dos empregos ou das relações amorosas, tudo chegou primeiro ao futebol. True story. Não havendo felicidade nele, há quem tenha optado pelo quiet quitting, conceito modernaço - coisa de Gen Z, dizem - colocado a quem, estando insatisfeito, faz apenas o mínimo indispensável para manter o emprego, priorizando outras partes da vida. O mesmo terá feito, por exemplo, Philippe Coutinho no verão de 2017, quando alegadamente afrouxou nos treinos usando uma aparente dores nas costas, numa altura em que guerreava com o Liverpool para o deixar sair para o Barcelona. Mais recentemente, há um ano, Victor Osimhen muniu-se de atestado médico para não treinar no Nápoles, quando era mais que sabido que queria sair. A tática é antiga e atravessa gerações.
Viktor Gyökeres não foi de modas ou de meios termos e optou por outra vetusta manobra nos meandros do futebol e que só há uns anos começou a ganhar adeptos no amor: o puro e simples ghosting. Desaparecer, não dar notícias, ignorar, apagar nas redes, o que quiserem. Luka Modric, a quem nunca nos atreveremos a questionar o profissionalismo, também não apareceu aos treinos do Tottenham quando queria sair para o Real Madrid. Antoine Griezmann fez o mesmo em 2019 ao Atlético Madrid, antes de se mudar para o Barcelona. Quanto a Gyökeres, diz-se que anda por Maiorca, enquanto os colegas treinam no Algarve. Que não aceita nada mais que não seja o Arsenal. Que nem o Manchester United o demove. Arrisca-se a falhar compromissos profissionais por um sonho.
O empresário foi colocando as suas versões por aí, há quem lhe aponte más inclinações na arte de negociar, mas também que terá abdicado do seu quinhão para a coisa se fazer - o que não quer dizer que não ganhe lá mais à frente. A tal etiqueta com €100 milhões não serve só para ter vantagem, também tem o seu efeito perverso, torna um jogador numa mercadoria com valor de mercado. E toda a gente quer ganhar. Quer ganhar Varandas, que sabe que hoje o sueco vale mais do que há um ano, quando o convenceu a ficar - e que, importante, não tem a corda na garganta, financeiramente falando. Quer ganhar o empresário. Quer ganhar o Arsenal, pelos vistos pouco disponível para juntar mais uns pózinhos nos objetivos à proposta inicial. Quer ganhar o jogador, que sente que Lisboa já é pequena para as suas arrancadas. Porém, não deixa de ser um prisioneiro. Também o será quem acorda de madrugada para enfrentar um emprego que não lhe traz qualquer satisfação. Aí a prisão é outra. Pelo menos Gyökeres não terá problemas em pagar contas no final do mês.
É possível que o ghosting resulte para Gyökeres, pelo menos para o seu objetivo primordial, que é sair do Sporting. Poderá é não sair para onde quer. Voltemos a Osimhen, a novela do verão passado: falou-se em Chelsea, PSG, terminou emprestado ao Galatasaray. No final do folhetim há o perigo real de ninguém ganhar.
O que se passou
Zona mista
Não trabalhei vinte anos para agora ver o Benfica afundar
De ameaço em ameaço, agora ao “Correio da Manhã”, Luís Filipe Vieira vai pavimentando o caminho para uma candidatura à presidência do Benfica. O tom da campanha já se percebeu qual será
O que aí vem
Segunda-feira, 21
⚽ O Sporting joga com o Sunderland em mais um encontro de preparação para a época 2025/26 (20h, TVI)
⚽ Na Copa América feminina, a Argentina mede forças com o Peru (22h, Sport TV1)
🎾 ATP250 de Kitzbuhel, com Jaime Faria no quadro principal (14h, Sport TV2), ATP250 de Umag (15h30, Sport TV7) e ATP500 de Washington (16h, Sport TV3)
Terça-feira, 22
⚽ Joga-se a primeira das meias-finais do Euro feminino: Inglaterra-Itália (20h, Sport TV1)
🚴 Etapa 16 do Tour, com subida ao mítico Mont Ventoux (11h, Eurosport 1)
Quarta-feira, 23
⚽ Alemanha e Espanha discutem um lugar na final do Euro feminino (20h, Sport TV1)
⚽ Arsenal e AC Milan jogam um encontro particular (12h30, Sport TV1)
🚴 Etapa 17 do Tour, com final em Valence (12h, Eurosport 1)
Quinta-feira, 24
🚴 Etapa 18 do Tour, com três contagens de categoria especial (11h, Eurosport 1)
🎾 ATP250 de Kitzbuhel (10h, Sport TV2), ATP250 de Umag (15h30, Sport TV7) e ATP500 de Washington (16h, Sport TV1)
Sexta-feira, 25
⚽ Apresenta-se o Sporting aos sócios no Troféu Cinco Violinos, frente ao Villarreal (19h30, Sport TV1)
🚴 Etapa 19 do Tour, com mais montanha e chegada ao alto em La Plagne (12h, Eurosport 1)
🥋 Judo, Grand Slam de Ulaanbaatar (10h, Sport TV7)
Sábado, 26
⚽ É a vez do Benfica fazer a sua apresentação, na Eusébio Cup, frente ao Fenerbahçe de José Mourinho (20h, BTV)
🚴 Etapa 20 do Tour (11h, Eurosport 1)
⚽ O Liverpool joga com o AC Milan num encontro da pré-época (12h30, Sport TV2). Também na preparação para a próxima temporada jogam-se o Stoke City-Wolverhampton (15h, Sport TV5) e o Schalke 04-Sevilla (16h, Sport TV4)
🏁 F1: GP Bélgica. Corrida de sprint (11h, DAZN) e qualificação (15h)
🎾 Final do ATP250 de Kitzbuhel (13h30, Sport TV7) e ATP250 de Umag (19h, Sport TV7)
Domingo, 27
⚽ Joga-se a final do Europeu feminino (17h, Sport TV1)
⚽ O novo FC Porto de Farioli joga com o Twente (18h, Sport TV2)
🚴 Etapa 21 (e última) do Tour, pelas ruas de Paris (14h, Eurosport 1)
🏁 F1: GP Bélgica, corrida (14h, DAZN)
🎾 Final do ATP500 de Washington (22h, Sport TV2)
Hoje deu-nos para isto
No meio do subfinanciamento estatal, da desconsideração de muita da iniciativa privada e da falta de cultura desportiva do próprio país, o desporto português continua a produzir os seus pequenos milagres - que pouco têm de esotérico ou de inexplicável, são mesmo fruto de muito trabalho e paixão de uns quantos carolas.
Desta vez foi o basquetebol que, no mesmo ano em que coloca as duas seleções seniores no Eurobasket, vê a equipa feminina sub-19 a chegar aos quartos de final do Mundial, algo inédito em qualquer escalão, e com a eclosão do talento de Clara Silva, que marcou 37 pontos a Israel, um dos melhores registos de sempre da prova, e se prepara para voltar a colocar uma portuguesa na WNBA.
O futuro, já se sabe, só será risonho se os sucessos não ficarem por aqui. Mas este sétimo lugar já é um bom empurrão.
Tenha uma boa semana e obrigado por nos acompanhar aí desse lado, lendo-nos no site da Tribuna Expresso, onde poderá seguir a atualidade desportiva e as nossas entrevistas, perfis e análises. Siga-nos também no Facebook, Instagram e no Twitter.
A segunda época já terminou, mas se tiver saudades escute episódios do podcast “No Princípio Era a Bola”, com Tomás da Cunha e Rui Malheiro. O regresso fica marcado já para a próxima semana.
Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: lpgomes@expresso.impresa.pt