Tribuna 12:45

Tadej Pogačar no seu (vitorioso) labirinto

Esloveno nas ruas de Montmartre, a caminho da quarta vitória na Volta a França
Dario Belingheri

Vamos primeiro ao que verdadeiramente interessa: aos 26 anos, Tadej Pogačar chegou à sua quarta vitória no Tour. Um triunfo sublime porque nunca em momento algum esteve em causa, porque nunca houve concorrência minimamente credível, por muito que Jonas Vingegaard até tenha chegado em melhor forma a esta Volta a França do que à do último ano.

O esloveno tem 26 anos e nunca se viu nada como ele nas últimas décadas, um ciclista que domina as grandes voltas com a mesma roda às costas com que ganha em provas de uma semana ou as clássicas mais específicas. Um dos mais impressionantes feitos de Pogačar esta temporada nem sequer é uma vitória: foi o 2.º lugar no Paris-Roubaix, no duro empedrado normalmente vedado aos voltistas, demasiado leves para aquele terreno. Mas nada está verdadeiramente vedado a Pogačar, campeão mundial em título que parece só não ganhar aquilo que escolhe especificamente não ganhar - em Roubaix, só uma queda o terá travado.

Ter quatro Tours nos braços com 26 anos é inédito. Miguel Induráin ganhou o seu primeiro de cinco Tours com 27, o último com 31. Chris Froome, que Pogačar agora igualou, tinha 32 anos quando venceu a sua quarta Volta a França. O que parece colocar a fasquia para o ciclista da UAE-Emirates para números nunca antes vistos. Quantos mais Tours poderá ganhar Tadej? Ultrapassará o santíssimo quarteto Anquetil-Merck-Hinault-Induráin?

Só que, paradoxalmente, o Tour que mais controlou, será o Tour que deixa mais dúvidas sobre o que quer Pogačar para o futuro.

Porque a certa altura, o esloveno, de tanto dominar, pareceu apenas aborrecido. A meio do Tour, à 13.ª etapa, a crono-escalada com final em Peyragudes, chegou ao 4.º triunfo que atirou Vingegaard para um 2.º lugar já demasiado distante. E quando se pensava que o esloveno, sempre canibalesco, ia avançar para uma terceira semana de show alpino, com vitória atrás de vitória em montanhas míticas onde todos querem deixar o seu nome, este apenas controlou - e nem precisou sequer de levantar muitas vezes o traseiro para seguir os (maioritariamente) pífios ataques da Vingegaard.

Seguiram-se subidas ao pódio com ar de enfado, ele que é tão dado a sorrisos e à boa-disposição em geral. Declarações lapidares de desejo que o fim fosse rápido, que Paris chegasse em breve. Pogačar queria ir para casa, afirmou-se esgotado após uma edição da Volta a França com muitos poucos momentos mortos, praticamente extirpada das tediosas tiradas em linha, em jeito de cicloturismo, chatas para quem vê, mas importantes para os ciclistas recuperarem forças. Na última etapa, nas ruas de Montmartre, foi em busca de uma simbólica vitória em Paris, deu algum do espectáculo que não ofereceu nos Alpes, mas sucumbiu perante Wout Van Aert, sem vigor para fazer aquilo que tantas vezes conseguiu: bater especialistas no seu próprio terreno.

Preocupante? Apenas talvez não tão extraterreste como outras exibições de Pogačar, que para mais não teve o inestimável apoio de João Almeida nas montanhas. Já com os Champs-Élysées deixados para trás, foi críptico em relação ao futuro, vago nos desejos competitivos, não irá à Vuelta, sabe-se agora, nos Mundiais talvez apareça. Assumiu que na última semana se sentiu “cansado”, deixou no ar que algo não terá corrido bem na organização da equipa, que várias vezes não o conseguiu acompanhar montanha acima. Atirou que ganhar o seu quinto Tour não é “um objetivo específico”, que se tudo acabasse agora iria embora feliz. Lembrou que o burnout é uma realidade no desporto quando alguém se torna “demasiado obcecado com o treino, em fazer mais e mais e mais.”

É possível que seja apenas o desabafo de um homem fatigado. Pogačar no seu labirinto, ainda que um labirinto em que à saída há quase sempre uma vitória à espera. Seria uma surpresa gigante que Pogačar não estivesse à partida da Volta a França de 2026. Ao “L’Equipe” afirmou que os Jogos Olímpicos de 2028 são um objetivo, que depois disso talvez pense seriamente no adeus. Ainda assim, seria um adeus prematuro, antes dos 30, num desporto onde os casos de longevidade não são raros.

Deixemos Pogačar descansar. É possível que nada disto sejam sinais inquietantes, apenas um homem a dizer-nos que, 100 vitórias depois, ganhou o direito a ser um génio um bocadinho mais normal. Mas ainda um génio.

O que se passou

Sporting e Benfica venceram nos seus respectivos jogos de apresentação aos sócios - mas más notícias para os encarnados, que perderam Bruma para a época.

E o Benfica, que parecia ter assegurado João Félix, viu-o voar para a Arábia Saudita.

Venus Williams tornou-se, aos 45 anos, na segunda tenista mais velha a vencer um jogo oficial.

Patrícia Sampaio continua desconhecedora do que é não ganhar medalhas esta época: foi ouro no importante Grand Slam de Ulaanbaatar, na Mongólia.

Oscar Piastri venceu o GP Bélgica e reforçou a liderança do Mundial de Fórmula 1.

Zona mista

Dos melhores da nossa história

Agora sim, acabou. Depois de mais uma semana de suspense, Viktor Gyökeres foi finalmente confirmado como jogador do Arsenal e o Sporting não poupou nos elogios - mesmo depois de toda a novela - a um dos mais impressionantes futebolistas que já jogaram na I Liga. A máscara vai agora mostrar-se na Premier League.

O que aí vem

Segunda-feira, 28
🎾 Masters 1000 de Toronto, com Nuno Borges como cabeça de série (16h, Sport TV2)

Terça-feira, 29
🎾 Além do Masters 1000 de Toronto (16h, Sport TV2), acompanhe o Porto Open 100 (11h, Sport TV2)

Quarta-feira, 30
⚽ Não faltam jogo de preparação para ver: Toulouse-Al-Nassr (16h, Sport TV1), Maiorca-Lyon (16h30, Sport TV3), Wolverhampton-Lens (19h30, Sport TV3)

Quinta-feira, 31
⚽ Joga-se o primeiro troféu da época, a Supertaça, entre Sporting e Benfica (20h45, RTP1)
⚽ O SC Braga tenta seguir em frente na Liga Europa, frente ao Levski Sofia (20h, Sport TV2) e o Santa Clara na Liga Conferência, após derrota na 1.ª mão com o Varazdin (19h, Sport TV3)
⚽ O Arsenal (será que já com Gyökeres?) joga com o Tottenham, em encontro de preparação (12h30, Sport TV1)

Sexta-feira, 1
🎾 Masters 1000 de Toronto (16h, Sport TV2)

Sábado, 2
⚽ Chaves e Vitória jogam na pré-época (18h, Sport TV1)
⚽ Final da Copa América feminina (22h, Sport TV2)
🏉 Veja o encontro entre os British and Irish Lions e a Austrália (11h, Sport TV3)
🎾 Masters 1000 de Toronto (17h30, Sport TV2)
🏁 F1: GP Hungria, qualificação (15h)

Domingo, 3
⚽ O FC Porto apresenta-se aos sócios frente ao Atlético Madrid (19h, Sport TV1)
⚽ Tottenham e Newcastle jogam em encontro de preparação (12h, Sport TV1)
🚴 Acompanhe a última etapa da Volta a França feminina (14h, Eurosport)
🏁 F1: GP Hungria, corrida (14h)

Hoje deu-nos para isto

Numa caminhada cheia de tropeções, recuperações para lá das horas extraordinárias e futebol pouco encantador, a vitória da Inglaterra no Euro 2025, derrotando a esteticamente superior Espanha, foi a vitória da convicção, até da fé, seja ela religiosa ou vinda de outro qualquer fundo. Sarina Wiegman, a neerlandesa que treina as lionesses, ganha o Europeu pela terceira vez consecutiva, é histórica e impressionante, mas este Euro é mais do que o triunfo de uma seleção.

É, mais uma vez, a vitória de uma modalidade.

Não foi um passo atrás oferecer o Euro à Suíça, dona de estádios médios, não de grandes arenas como Wembley e Old Trafford, que encheram há três anos em Inglaterra, mas criaram números totais algo artificiais. Em terras helvéticas, quase todos os estádios estiveram cheios, a atmosfera foi sempre efervescente para as jogadoras. Só dois dos 31 jogos do Euro não esgotaram, numa competição que bateu mais uns quantos recordes, como o de maior assistência total, 657,291 almas nas bancadas, face às 574,875 do último Europeu. Os 106 golos marcados são também um recorde, tal como as 160 nacionalidades entre os compradores de bilhetes.

As 29,520 pessoas que estiveram no Espanha-Portugal, em Berna, chegaram a ser recorde de assistência na fase de grupos num jogo não envolvendo o anfitrião, cinco dias antes do número ser batido no Alemanha-Dinamarca, provando que o Euro feminino deixou de ser uma competição circunscrita e que arrasta multidões.

Philipp Lahm, antigo capitão da seleção masculina da Alemanha, explicou de forma simples e excelente aquilo que devia estar na cabeça de todos nós ao fim de quase um mês de futebol na Suíça: há poucas modalidades com maior potencial de crescimento do que o futebol feminino, que continua a guardar um purismo cada vez mais difícil de descortinar do outro lado. Daqui a quatro anos, ainda mais relevante, o Euro feminino pode ser organizado por Portugal. Seria uma excelente notícia.

DeFodi Images

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