Opinião

A arbitragem quer um jogo mais fluído, com menos paragens. Estamos a tentar ir em direção ao que os adeptos e o futebol querem

A arbitragem quer um jogo mais fluído, com menos paragens. Estamos a tentar ir em direção ao que os adeptos e o futebol querem

Duarte Gomes

ex-árbitro de futebol

A atuação dos árbitros em Portugal esta época não pretende desvalorizar a proteção dos jogadores. Pelo contrário: o que é ilegal é para punir, e entradas negligentes ou com força excessiva têm que ser sancionadas com firmeza, tentando diferenciar contacto físico aceitável em cada contexto daquilo que efetivamente é faltoso ou coloca em risco a integridade dos intervenientes. Este alinhamento técnico não é invenção nacional, nem é um capricho nosso - está em linha com princípios dominantes noutras ligas e nas maiores competições de FIFA e UEFA

Desde o início da época, que coincidiu com o arranque em pleno desta equipa - Conselho de Arbitragem da FPF e respetiva Direção Técnica - temos tentado implementar uma linha de orientação que tem em vista um objetivo importante: contribuir para um futebol fluído, com mais tempo útil de jogo e maior espetacularidade, em que apenas se punam infrações técnicas claras, com impacto efetivo nos jogadores ou no desenrolar da partida.

Este caminho, desafiante devido às inúmeras variáveis subjetivas do jogo, não significa não sancionar faltas ou desvalorizar a proteção dos jogadores. Pelo contrário: o que é ilegal é para punir, e entradas negligentes ou com força excessiva têm que ser sancionadas com firmeza.

O que se pretende aqui é tentar diferenciar contacto físico aceitável em cada contexto daquilo que efetivamente é faltoso ou coloca em risco a integridade dos intervenientes.

Este alinhamento técnico não é invenção nacional. Não é um capricho nosso. Está em linha com princípios dominantes noutras ligas e nas maiores competições de FIFA e UEFA.

O que achamos é que a arbitragem portuguesa deve acompanhar essa evolução, de forma assumida e desassombrada. Os nossos árbitros, atletas e treinadores precisam de estar preparados para um jogo mais dinâmico, de forma a se aproximarem da realidade internacional.

Para os adeptos, isso significa mais emoção, mais espetáculo e menos paragens artificiais. Aliás, estas recomendações vão ao encontro daquela que sempre foi uma das suas maiores exigências: menos paragens, mais bola a rolar, menos faltas, maior qualidade de jogo. Para os jogadores e técnicos, significa menos interrupções, mais justiça e maior uniformidade de critérios. Para os árbitros, significa arriscar em nome do espetáculo, seguindo orientações que os ajudam a avaliar lances tipicamente difíceis. E para o futebol significa progresso, equidade, modernidade.

O que se pretende é, em boa verdade, muito simples: valorizar o jogo pelo jogo, proteger os jogadores talentosos, permitir contacto físico dentro dos limites e aproximar as nossas provas aos mais elevados padrões internacionais.

O caminho está traçado e assumido, com transparência e humildade.

Estamos cientes que esta opção pode não ser do agrado de todos. Sabemos que nem sempre tomaremos as melhores decisões em campo ou em sala. E temos a noção que dificilmente conseguiremos manter uma linha de atuação coerente nos milhares de jogos que se disputam a cada semana (sim, não são três nem quatro, são milhares). Mas treinamos todos os dias para contrariar essa tendência, para combater o desacerto, para sermos mais fortes e consistentes.

Estamos convictos que este salto é inevitável para melhorarmos o nível individual dos nossos árbitros, a qualidade global das nossas arbitragens, e, por consequência, elevarmos os níveis qualitativos das nossas competições.

Sabemos, no entanto, que o sucesso deste percurso não depende apenas de nós. Depende também da cumplicidade e compreensão de todos aqueles que estão direta e indiretamente envolvidos na indústria, porque em boa verdade é essa que será beneficiada se os jogos forem mais atrativos e bem disputados.

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