A juíza Sílvia Pires deu como não provada a participação no ataque à Academia de Alcochete do ex-presidente do Sporting Bruno de Carvalho, de Nuno ‘Mustafá’ Mendes, líder da claque Juventude Leonina, e também de Bruno Jacinto, então oficial do Sporting com os adeptos.
Os três foram absolvidos de todos os crimes de que eram acusados, entre eles os crimes de autoria moral do ataque da academia de Alcochete. Bem como de ameaça agravada, sequestro, terrorismo, ou dano com violência.
Sobre Bruno de Carvalho não se prova que as críticas nas redes sociais tivessem o objetivo de provocar os adeptos contra os jogadores. Sobre a expressão “façam o que quiserem” também não se prova que tenha tido a intenção de incentivar a Juventude Leonina a bater nos jogadores.
Sobre as palavras ao staff para saber quem estava com ele, na véspera do ataque, não se pode fazer ligação aos factos violentos que ocorreram no dia seguinte na Academia. A alteração do horário do treino de manhã para a tarde também não tem ligação com o que se passou na Academia. “Não se prova que o arguido planeou o ataque”, conclui a juíza.
Já sobre Nuno ‘Mustafá’ Mendes, nenhuma das testemunhas afirmou em julgamento que ele soubesse que iam à Academia naquele dia. E não existem mensagens do arguido nos autos em grupos de WhatsApp sobre a invasão a Alcochete.
Também sobre Bruno Jacinto não há provas de que tenha participado nos atos de violência ou que os tenha incentivado. A frase “os jogadores eram bem malhados” dita ao arguido Tiago Silva junto ao estádio de Alvalade, não servem como prova. Além disso, Bruno Jacinto avisou o diretor de segurança da Academia da ida de adeptos para a Academia de Alcochete, poucos minutos antes do ataque.
Agressões aos jogadores foram provadas
A magistrada considera também que se provou que 37 dos arguidos do caso entraram ilegitimamente na Academia, “a correr, de cara tapada ou parcialmente tapada”.
Alguns deles atiraram artefactos pirotécnicos para o relvado do campo de treinos. E uma grande parte entrou no edifício da ala profissional que dá acesso ao balneário onde se encontrava a equipa do Sporting.
Provou-se também as agressões à equipa técnica e a alguns jogadores do Sporting, como a Bas Dost, agredido com um cinto e alvo de pontapés quando se encontrava no chão. Sobre as lesões de Jorge Jesus foram feitas pelo arguido Rúben Marques, que também atingiu Bas Dost e Misic. Foram arremessados engenhos pirotécnicos também no interior do balneário, facto que fez os jogadores temerem pela sua vida.
Não se provou, no entanto, que os arguidos tenham impedido a saída dos jogadores do balneário. Ou que tenham causados estragos nas instalações. Mas apenas no Porsche de Nélson Pereira, danificado por Rúben Marques.
Fernando Mendes, o ex-líder da claque, bem como Nuno Torres, mantiveram-se sempre na retaguarda do grupo que entrou na Academia.
Houve uma concertação do ataque por via dos grupos criados no WhatsApp. “Todos sabiam ao que iam”, enfatiza a juíza. “E todos tiveram a oportunidade de voltar para trás.” As imagens de CCTV da Academia servem também como prova da ação conservada do grupo que agiu de cara tapada.
Ainda sobre Fernando Mendes, “não mostrou qualquer comoção” ao pedido de ajuda de Jorge Jesus.
A juíza releva os incidentes no aeroporto da Madeira, no domingo anterior ao ataque de 15 de maio. Em que Fernando Mendes faz uma troca de palavras tensas para com alguns jogadores do Sporting, nomeadamente Marcos Acuña.
Fernando Mendes, Elton Camará, Domingos Monteiro, Nuno Torres e Getúlio Fernandes foram alguns dos nove arguidos condenados a cinco anos de prisão efetiva. 28 dos suspeitos ficaram com a pena suspensa e quatro foram alvo de multa.
“Não vale tudo na vida. Ser homem não é tapar a cara e sair dali a correr. É assumir. Espero que os senhores assumam os vossos erros, cumpram a pena e recomecem”, finaliza a juíza nas declarações finais. “Não cumpriram o lema do Sporting. Nem esforço, nem dedicação, nem devoção, nem glória. Foi tudo ao lado. Aprendam a respeitar os outros e cumpram a pena e não cometam mais nenhum crime”.