A primeira Almeidada de João coloca o português no 2.º lugar da Vuelta
Dario Belingheri
A montanha chegou à corrida espanhola e com ela veio uma subida ao estilo do caldense: numa ascensão final com zonas muito duras, Almeida começou a perder terreno mas, sempre em recuperação, cerrando os dentes e não saindo do retrovisor dos adversários, chegou com os melhores, acabando a tirada no 3.º lugar. Roglic ganhou a etapa e é o novo líder, oito segundos à frente do português
Já conhecemos a história. Há uma subida final íngreme, que começa logo a ser atacada, com acelerações bruscas que não favorecem João Almeida. Forma-se um grupo na frente e o português não está lá, cedendo alguns metros.
É aí que vem a Almeidada: João, apesar de estar a alguma distância dos primeiros, nunca lhes sai do radar, nunca desaparece do retrovisor. Cerra os dentes, coloca a sua pedalada, senta-se na bicicleta e pedala vigorosamente. Não há ali muita tática, ele garante que a intenção dele não é ter de fazer estas recuperações, mas, seja pelo que for, elas continuam a acontecer.
Assim foi no final dos 170,5 quilómetros entre Plasencia e Pico Villuercas. Na subida final, com 14,6 quilómetros a 6,1% de inclinação média, havia quatro quilómetros de puro sofrimento já na segunda metade da escalada, uma zona em que a pendente média ia sempre entre os 10 e os 15%, com o calor e o piso, que era cimento e não asfalto, a serem adversários adicionais.
Foi aí que João cedeu para os melhores. Roglic, mostrando que é, talvez, o maior candidato à vitória final, pareceu sempre cómodo, sendo acompanhado por Enric Mas, espanhol à procura da redenção na sua corrida, e do jovem Lennert Van Eetvelt. O esloveno da Red Bull, o espanhol da Movistar e o belga da Lotto pareciam lançados rumo à meta, mas lá seguia, no retrovisor, João Almeida.
O caldense, no seu ritmo, no seu estilo, na sua Almeidada, fez a sua subida. Foi ficando cada vez maior no tal retrovisor e juntou-se ao trio da dianteira a 1,4 quilómetros do fim. Almeidada terminada.
Depois de largos minutos de esforço solitário, o homem da UAE-Emirates pareceu chegar já com poucas energias à discussão da etapa. À partida para esta primeira tirada de montanha, o português estava somente a dois segundos de Roglic, pelo que um triunfo garantia-lhe, graças às bonificações, vestir a camisola vermelha da liderança.
No entanto, era momento para mais uma pequena Almeidada e não propriamente para uma fuga para a vitória. João voltou a ceder alguns metros no quilómetro final, mas juntou-se novamente ao grupo liderado por Roglic.
No sprint de montanha entre os sete que chegaram juntos — Felix Gall, Matthew Riccitello e Mikel Landa também terminaram entre os mais rápidos —, Roglic impôs-se ao jovem Van Eetvlt. O belga da Lotto pareceu festejar antes de tempo e o esloveno, especialista nestas acelerações em altitude para ganhar, nestes pancartazos, como lhes chamam os espanhóis, venceu.
João Almeida ainda foi a tempo de roubar o 3.º lugar a Enric Mas, conseguindo quatro segundos de bonificação. Na geral, Roglic é o novo líder, herdando a camisola do seu companheiro Van Aert. O esloveno, que tenta ganhar a Vuelta pela quarta vez na carreira, tem apenas oito segundos de vantagem para João Almeida. Enric Mas fecha o pódio, a 32 segundos de pódio.
Houve vários candidatos à geral que já perderam bastante tempo. Kuss cedeu 28 segundos, Carlos Rodríguez perdeu 51, Adam Yates chegou a 1,29 minutos de Roglic.
Após esta primeira abordagem de montanha, a etapa 5 trará o terreno plano de regresso à Vuelta. Os 177 quilómetros entre Fuente del Maestre e Sevilha deverão ser terreno para os sprinters.