“A coisa que mais surpreendeu” os árbitros “foi o ambiente que à 10.ª jornada, até muito mais cedo, começou a ser criado”
MIGUEL A. LOPES
Após as suas intervenções iniciais e já em resposta às perguntas dos jornalistas, Luciano Gonçalves, presidente do Conselho de Arbitragem da FPF, e Duarte Gomes, diretor técnico, defenderam a atuação dos árbitros nos clássicos, criticaram as tentativas de criar pressão vindas dos clubes e respetivos dirigentes. E garantiram: “Os primeiros a saber quando vão ser responsabilizados são os próprios árbitros, não a imprensa nem os clubes.”
O presidente do Conselho de Arbitragem, Luciano Gonçalves, assumiu os “erros” cometidos pelos árbitros nas 10 primeiras jornadas da I Liga, criticando o “ambiente criado” e garantindo que “não irão existir jarras” para punir juízes. Falando sobre o clima de críticas que recentemente foi acentuado, sobretudo, pelo Benfica, FC Porto e Sporting, o dirigente garantiu que “ninguém rebenta ninguém” no organismo e que punições a árbitros “jamais” serão decididas “por interferência” de “quem quer que seja”, avisando estar imune a pressões.
“Os árbitros são treinados e preparados para lidarem com a pressão, o Conselho de Arbitragem dá-lhes suporte para que estejam tranquilos. Aqui ninguém rebenta ninguém, se o árbitro descer de divisão, irá descer por resultados menos positivos, porque teve uma época menos positiva, e jamais por interferência de quem quer que seja”, avisou o responsável pela arbitragem na Federação Portuguesa de Futebol, na conferência de imprensa de balanço ao trabalho efetuado pela arbitragem nas primeiras 10 jornadas do principal campeonato nacional.
O presidente do Conselho de Arbitragem continuou a sua explicação perante os jornalistas na primeira de três conferências de imprensa desta temporada (as outras serão após a 20.ª e a 30.ª jornadas) para a entidade se pronunciar. “A única coisa que mais nos surpreendeu a todos nós foi o ambiente que à 10.ª jornada – até muito mais cedo - começou a ser criado. Todos nós, nesta sala, sabemos perfeitamente que não tem apenas que ver com os erros dos árbitros. Assumimos quando os nossos árbitros erram”, declarou, em tom crítico, na Cidade do Futebol, em Oeiras.
Luciano Gonçalves apontou todo o seu esforço em melhorar o desempenho dos árbitros portugueses, mas também em defendê-los de fatores externos e evitar que sejam encarados como ‘bodes expiatórios’ para insucessos desportivos.
“Este Conselho de Arbitragem irá continuar a trabalhar para que cada vez mais se tenham mais árbitros a arbitrar dérbis e clássicos e que todos os árbitros dos seus quadros tenham dois ou mais anos [de primeira categoria] e possam estar aptos para desempenhar esta função em qualquer jogo, mas deixem-me também partilhar aqui mais uma nota; com este CA, não irá existir ‘jarras’. Enquanto presidente do CA, disse muito recentemente, quando tomei posse, que jarras é para flores e assim mantenho”, assegurou, recusando ceder a quaisquer pressões.
As atuações nos clássicos e as pressões dos clubes
Luciano Gonçalves defendeu a postura dos árbitros Fábio Veríssimo e Gustavo Correia relativamente aos jogos FC Porto – Sporting de Braga e Benfica – Casa Pia, respetivamente, lamentando as tentativas de “criar pressão” a que foram sujeitos.
"Da parte da arbitragem foi feito o que deveria ter sido. Claramente que qualquer situação destas tem objetivos de criar pressão no árbitro, no jogo, na arbitragem no seu todo”, denunciou, apoiado por Duarte Gomes, também presente.
O diretor técnico para a arbitragem da FPF manifestou “orgulho” pela abordagem de ambos, considerando que estes cumpriram a “missão”.
“O que sentimos quando os nossos árbitros dizem a sua verdade é orgulho, mas também sentido de cumprimento de missão. Estão obrigados a colocarem nos seus relatórios tudo o que acontece em termos desportivos e extradesportivos, nomeadamente incidentes. Quando o Fábio, o Gustavo, ou qualquer outro árbitro coloca no relatório o que presenciou, sentimos que cumpriu a sua missão”, referiu.
Duarte Gomes mostrou-se em total concordância com as palavras de Luciano Gonçalves, que assumiu que no Conselho de Arbitragem da FPF “não irão existir ‘jarras’”, recusando afastar árbitros de nomeações como punição.
“Em relação à ‘jarra’, acho que ficou muito claro que não apenas não falamos nelas, como não mostramos a ninguém que o vamos fazer. Os primeiros a saber quando vão ser responsabilizados são os próprios árbitros, não a imprensa nem os clubes, qualquer outra coisa que ouçam, não foi pela via oficial”, assegurou.
Por fim, o diretor técnico para o setor da arbitragem e antigo árbitro internacional assegurou ainda que os árbitros são “responsabilizados” e “muito penalizados” por maus desempenhos.
“Muitas vezes a gestão dos desempenhos nem é para castigar o árbitro, mas sim para protegê-lo da exposição. Um erro tem consequências até familiares para os árbitros, e protegê-lo é o mais sensato. É importante que se sintam responsabilizados, quando erramos, temos de assumir as consequências e não é só com a não nomeação, é no fator económico, na auto-estima e no processo classificativo. Quando acharem que os árbitros não são responsabilizados, estão enganados, acreditem. São, e muito”, completa.