Futebol nacional

Árbitros propõem perda de pontos ou multas até 100 mil euros para clubes que os critiquem, mas os clubes terão de aprovar as propostas

Hélder Malheiro e os assistentes antes do Alverca-Rio Ave desta época, na I Liga.
Hélder Malheiro e os assistentes antes do Alverca-Rio Ave desta época, na I Liga.
Eurasia Sport Images

A Associação Portuguesa de Árbitros Profissionais enviou à Liga, na quarta-feira, um plano com várias medidas a incluir no Regulamento Disciplinar das competições, entre elas punições mais pesadas para quem tente coagir os oficiais do apito (como a perda de pontos) ou seja reincidente nas críticas públicas à sua atuação. Quaisquer alterações terão de ser votadas em Assembleia-Geral da Liga, portanto, pelos dirigentes dos clubes dos campeonatos profissionais

A Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF) defendeu na quarta-feira o agravamento do Regulamento Disciplinar da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) em mais de uma dezena de artigos. Entre as propostas está a criação de novos castigos, entre eles um clube disputar um a três jogos à porta fechada caso repita, na mesma época, ilícitos de lesão de honra ou reputação nas críticas aos árbitros, ou a aplicação de uma multa entre os 30 ou 92 mil euros aos dirigentes que profiram declarações ou emita juízos pondo em causa a imparcialidade, a competência ou criando qualquer tipo de suspeição sobre árbitros.

Estas nem são as sugestões mais pesadas que constam no documento, segundo o "Record" e "A Bola", jornais que tiveram acesso às propostas: a APAF defende também que o clube é responsável pelos atos cometidos por qualquer dos seus dirigentes, representantes, funcionários e demais agentes desportivos a si vinculados e propõe que a reincidência nas críticas possa também ser punida com a perda de um a três pontos na classificação da I ou II Liga.

A associação representativa dos árbitros nacionais esteve reunida, na quarta-feira, com o presidente da Liga de Clubes, Reinaldo Teixeira, preconizando o reforço da punição de atitudes e comportamentos de clubes e agentes desportivos com as equipas de arbitragem.

Entre as propostas, sem aludir ao caso relatado pelo árbitro Fábio Veríssimo no jogo entre FC Porto e Sporting, a APAF defende a alteração do Artigo 66.º, referente a coação, acrescentando a ocorrência com familiares dos elementos de arbitragem.

Quaisquer alterações ao Regulamento Disciplinar das competições da Liga têm de ser aprovadas, por unanimidade, na Assembleia-Geral da entidade onde têm assento todos os clubes que competem nos dois principais campeonatos de futebol. Como tal, são os dirigentes a quem as alterações potencialmente visam que têm de votar a favor, ou contra a sua aplicação. Caso sejam aprovadas, as propostas seguem para serem ratificadas pela Federação Portuguesa de Futebol.

“Considera-se, designadamente, que existe tentativa quando o clube, durante o jogo, incluindo o seu intervalo, confronte ou exiba a qualquer elemento da equipa de arbitragem decisões suas desse jogo, ou de jogos anteriores sem que este o consinta”, lê-se na redação proposta pela APAF, a que a Lusa também teve acesso, e que estende o âmbito deste articulado às tentativas de coação.

A APAF prossegue com o aumento das multas, no caso de declarações sobre arbitragem antes dos jogos, para o triplo, defendendo a perda de pontos, em caso de reincidência, e a penalização da “suspeição”. Idêntica proporção tem a proposta de agravamento das sanções às agressões a árbitros, incluindo a perda de cinco a 10 pontos.

A estrutura representativa dos árbitros defende um agravamento de 100% das multas para os atos de lesão da honra e reputação dos órgãos da estrutura desportiva e dos seus membros, propondo ainda, em caso de reincidência, um a três jogos de interdição, e, no caso de três ou mais condenações, a perda de dois a seis pontos.

Na sexta-feira, o presidente da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF), José Borges, tinha manifestado a intenção de apresentar medidas a implementar no Regulamento Disciplinar das competições profissionais, durante uma reunião com o presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF).

Na ocasião, segundo informou a estrutura liderada por Pedro Proença, o líder federativo deu a garantia de que a FPF está “totalmente disponível, respeitando sempre a autorregulação legalmente prevista em matérias relacionadas com o futebol profissional, para propor a ratificação imediata de novos regulamentos em Assembleia Geral da FPF”, depois de estes serem, conforme está definido nos estatutos, aprovados em Assembleia Geral da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP).

As alterações dos regulamentos de competições, disciplinar e de arbitragem que forem aprovadas no decurso de uma época desportiva só entram em vigor na época seguinte, segundo o Regulamento Geral da LPFP.

No entanto, existem exceções, caso as alterações regulamentares sejam aprovadas por unanimidade, com “expressa menção da data ou prazo da respetiva entrada em vigor”, acrescenta o documento no ponto seguinte.

Os árbitros das competições profissionais empreenderam no passado fim de semana uma jornada de luta, entrando sozinhos em campo, sem a bola de jogo, numa ronda marcada por várias decisões polémicas de arbitragem.

O Conselho de Arbitragem da FPF, atualmente liderado por Luciano Gonçalves, que já presidiu à APAF, e o diretor técnico do setor, o antigo árbitro Duarte Gomes, protagonizaram, na quarta-feira, uma conferência de imprensa de balanço das 10 primeiras jornadas das competições profissionais.

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