As dúvidas do Mundial 2030: Portugal e Espanha tinham acordado que final seria em Madrid, mas Marrocos também quer receber o jogo
O renovado Santiago Bernabéu, estádio do Real Madrid, seria, previsivelmente, o palco da final do Mundial de 2030.
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Anunciada a divisão da competição entre seis países e três continentes, diversas questões continuam por responder enquanto vários países vão expressando o desejo de verem os seus interesses correspondidos. O ministro do Desporto espanhol garante “estar previsto que a final seja em Madrid”, mas o presidente da federação marroquina espera que o encontro decisivo seja em Casablanca. Do outro lado do Atlântico, a Argentina anuncia que “lutará por receber mais partidas” além da estreia da sua seleção
Politicamente, a jogada da FIFA de Infantino conseguiu, de uma assentada, deixar toda a gente contente: Portugal e Espanha receberão o Mundial que desejam há muito — já em 2010 apresentaram uma candidatura, derrotada a 2018 —, contentando duas das federações com mais peso dentro da UEFA; Marrocos também entra na rota da competição, cumprindo um desejo antigo do país do norte de África, continente que volta a ter encontros do máximo torneio, duas décadas passados do torneio na África do Sul, em 2010.
No centenário do Campeonato do Mundo haverá partidas na América do Sul, não só no Uruguai, onde o grande espetáculo planetário começou em 1930, mas também na Argentina, campeã em título, e no Paraguai, país de nascimento de Alejandro Domínguez, líder da CONMEBOL (a confederação daquela parte do globo) e vice-presidente da FIFA. Estas manobras, que evitam que haja uma disputa eleitoral para decidir quem levará a organização (e em Zurique ninguém se esquece do que aconteceu na eleição para 2022), estendem também a passadeira à Arábia Saudita, desejosa de completar o seu plano de sportswashing, que saiu da luta por 2030 para ficar com caminho aberto para 2034.
No entanto, o xadrez de Gianni Infantino, montado após longos meses de negociações e movimentações de bastidores, deixa dúvidas por responder e cenários por esclarecer. E a maior prova disso mesmo é que, entre os países que farão parte da organização, há agora uma espécie de guerra de palavras para ver quem fica com o quê.
Como a Tribuna Expressojá informou, Portugal e Espanha tinham acordado, inicialmente, que a final seria sempre em Madrid. Em entrevista à “Marca”, Miquel Iceta, ministro da Cultura e do Desporto do país vizinho, garantiu “estar previsto que a final” seja na capital espanhola, num discurso semelhante ao de José Luiz Martínez-Almeida, presidente da Câmara Municipal da cidade, que “deseja” que o duelo decisivo seja “num dos grandes estádios que Madrid tem”, puxando a brasa à sua sardinha, dizendo como a cidade é “capital mundial do futebol”.
No entanto, esta ideia choca, agora, com as ambições de Marrocos. O presidente da federação do país do Norte de África, Faouzi Kekjaa, garante que os marroquinos lutarão por acolher a final.
Lekjaa explicou, à rádio “Mars”, que Marrocos apresenta seis estádios que poderão receber a competição, em Casablanca, Rabat, Tanger, Fez, Marraquexe e Agadir. Na primeira das cidades será construído um novo recinto, onde o presidente espera “que se viva uma final extraordinária, que honre todo o continente”.
Segundo as exigências da FIFA, a final terá de ser realizada num palco com, pelo menos, 80.000 lugares. Em Portugal, não há qualquer estádio com essa capacidade, que é superada, em Espanha, por Santiago Bernabéu e Camp Nou, o primeiro recentemente alvo de obras de remodelação e o segundo a viver, atualmente, um processo de modernização. Em Marrocos não há arenas com esta dimensão.
Também Carlo Ancelotti, técnico do Real Madrid, entrou na disputa de palavras, opinando que “a final tem de ser em Madrid”, porque é “a capital de Espanha”, devendo acontecer “no Santiago Bernabéu, o melhor estádio do mundo”.
Entretanto, dos países sul-americanos também surgem vozes que prometem tentar acolher mais encontros que não, apenas, o primeiro desafio que Uruguai, Argentina e Paraguai realizem. Matías Lammens, ministro argentino do Turismo e Desporto, garantiu que o governo de que faz parte “lutará por receber mais partidas” do Campeonato do Mundo.
Tal como sucede para o Mundial 2026, que se disputará nos Estados Unidos, México e Canadá, a competição de 2030 deverá ter a organização centralizada na FIFA, que já abdicou dos tradicionais comités organizadores locais.
A avaliação e atribuição dos locais que receberão jogos é feita pela FIFA, através de um critério que dá 70% de importância às infraestruturas e 30% ao que a entidade chama “exploração comercial”. No capítulo das infraestruturas, 35% da nota final depende dos estádios, 10% dos hotéis e campos de treino para as seleções e árbitros, 7,5% da capacidade hoteleira para adeptos e dos transportes e 5% das fan zones e dos locais dedicados ao IBC, o centro de transmissões televisivas internacionais.
Feita esta ponderação, a FIFA classifica cada possível estádio com uma nota entre 0 e 5. Recorde-se que, em Portugal, apenas a Luz, o Dragão e Alvalade superam os 40.000 lugares, cifra mínima exigida para ser palco do Mundial.