Tribuna 12:45

Num campeonato com mil campeonatos dentro, o mais importante foi resistir

No sábado, o Sporting quis mais do que o Benfica. E com isso veio o bicampeonato
Carlos Rodrigues

Basta dar um olhinho nas caixas de comentários de determinadas redes sociais para perceber que há muito as pessoas deixaram de querer discutir. Começou pelo futebol, grassou que nem fogo em erva seca na política e o resultado foi o que vimos nas últimas horas.

Mas voltemos ao futebol.

No dia seguinte ao título conquistado pelo Sporting, aqui na Tribuna Expresso tentamos refletir sobre este campeão, se jogou bem ou mal, se foi vítima das circunstâncias e de imponderáveis ou se, na verdade, não foi um vencedor assim tão diferente de outros. Naturalmente, muito boa gente só leu o título, nem sequer quis admitir as várias e diferentes opiniões na análise, e optou por insultar os jornalistas ou insultar o Sporting. É o que temos.

No futebol ou na política, a reflexão é sempre importante, até para os vencedores. Mais ainda num campeonato com tantos campeonatos dentro, com tantas mini-crises, onde pela primeira vez os três grandes mudaram de treinador a meio caminho, o Sporting até mais do que uma vez, depois de passar de 11 vitórias em 11 jogos do campeonato com Amorim, para duas derrotas e um empate em quatro jogos com João Pereira, que foi sucedido por Rui Borges. No futebol e na política, nada é garantido.

Nada disto é, ao contrário do que se possa pensar, retirar mérito ao Sporting. Que o tem, e muito, neste primeiro bicampeonato em 71 anos. Olhemos para o FC Porto, que não se recompôs da crise que levou à saída de Vítor Bruno, em janeiro. Ou para o Benfica, mais acidentado em termos de atitude do que uma etapa de média montanha desta edição do Giro. Mesmo dono, muito provavelmente, do plantel mais profundo de toda a I Liga. Nas duas últimas jornadas, sobressaiu quem, no final, pareceu querer mais, esse conceito altamente difuso, simplista e complexo ao mesmo tempo. O Sporting, mesmo nervoso, mesmo nos seus defeitos, correu aquele quilómetro extra, foi mais solidário quando teve de ser, resistiu mais e melhor do que os rivais. Resistir é uma palavra importante neste campeonato.

“Quando faltar a inspiração, que não falte a atitude”, atirou Rui Borges, em estilo confuciano, quando chegou ao Sporting já no anoitecer de 2024, para pegar numa equipa estilhaçada emocionalmente e fisicamente presa por arames. O Sporting continuou a ter as suas flutuações, não esteve longe de perder este campeonato, faltou-lhe, em certos momentos, a imposição que se exige a um campeão, mas o transmontano terá o mérito, ao contrário dos adversários, de nunca ter deixado cair fatalmente esta equipa - e a sorte de ter um avançado como Viktor Gyökeres, claro, ainda mais decisivo do que há um ano, obrigado, por ventura, a ser mais decisivo do que há um ano.

Nas primeiras declarações como campeão, Rui Borges lembrou o óbvio, mas que merece ser lembrado: “Não fui um grande jogador, não estudei, sou apenas o Rui Borges de Mirandela”. Recordou, sem falsas modéstias nem excessiva confiança, o que disse quando chegou ao Sporting em dezembro: que foi o trabalho que o levou a Alvalade. Desde baixo, sem empurrões. Talvez só um treinador conhecedor dos seus limites, habituado às montanhas e vales, literais e metafóricas, do futebol do povo, das divisões que ninguém quer ver e às quais só liga quando há violência ou salários em atraso, tivesse a resistência para este final de I Liga, para todas as mudanças de guião a que assistimos ao longo dos últimos meses. Se tudo isto chega para o futuro, é parafrasear Pedro Gonçalves no Marquês: “Vamos ver”.

O que se passou

O Tondela sagrou-se campeão da II Liga e está de regresso ao escalão principal, de mão dada com o Alverca, que há mais de 20 anos por lá não andava. Vizela e AFS vão disputar o playoff pelo derradeiro lugar na I Liga.

Cristiano dos Santos, filho de Cristiano Ronaldo, extremo esquerdo como ele nos seus primeiros tempos, estreou-se pelas seleções nacionais.

Sebastién Ogier venceu (novamente) o Rali de Portugal.

Zona mista

Senti que tinha de estar lá a representar o futebol e todos vocês

Gianni Infantino deu prioridade a fazer parte do séquito de Donald Trump na sua viagem ao Médio Oriente e chegou atrasado ao Congresso da FIFA, tentando convencer quem por ele esperava há horas que tinha sido tudo para o seu bem. O gaslighting chegou à FIFA.

O que aí vem

Segunda-feira, 19
⚽ Na Premier League, o já campeão Liverpool joga em casa do Brighton (20h, DAZN1)
🎾 ATP 500 Hamburgo (13h, Sport TV2) e ATP 250 Genebra (14h30, Sport TV6)

Terça-feira, 20
⚽ Depois da derrota na final da Taça de Inglaterra, o Manchester City recebe o Bournemouth para a Premier League (20h, DAZN1). O Wolverhampton, de Vítor Pereira joga em casa do Crystal Palace (20h, DAZN2)

Quarta-feira, 21
⚽ Final da Liga Europa: Tottenham-Manchester United (20h, Sport TV5)

Quinta-feira, 22
⚽ Euro sub-17: França-Portugal (19h30, 11)

Sexta-feira, 23
⚽ World Sevens Football: meias-finais, jogo do 3.º lugar e final (16h, DAZN)
🏍️ MotoGP, GP Grã-Bretanha: treinos livres (16h, Sport TV4)

Sábado, 24
⚽ Final da Liga dos Campeões feminina, em Lisboa: Arsenal-Barcelona (17h, DAZN)
⚽ Playoff de acesso à I Liga, 1.ª mão: Vizela-AFS (20h, Sport TV1)
⚽ O PSG pode juntar a Taça de França ao campeonato. A final é frente ao Stade de Reims (20h, Sport TV2)
⚽ Final da Liga dos Campeões Africana, 1.ª mão: Mamelodi Sundowns-Pyramids (14h, Sport TV1)
🎾 Finais do ATP 500 de Hamburgo (13h30, Sport TV3) e ATP 250 de Genebra (14h, Sport TV5)
🏁 F1: GP Mónaco, qualificação (15h, DAZN5)

Domingo, 25
⚽ Final da Taça de Portugal: Benfica-Sporting (17h15, RTP1)
⚽ Euro sub-17: Portugal-Alemanha (19h30, 11)
🏍️ MotoGP, GP Grã-Bretanha: corrida (13h, Sport TV4)
🏁 F1: GP Mónaco, corrida (14h, DAZN5)

Hoje deu-nos para isto

Por motivos de decisão do campeonato nacional, não terá tido a atenção devida o enorme feito do Torreense que, minutos antes do apito inicial em Alvalade e em Braga, marcava no prolongamento da final da Taça de Portugal feminina, batendo assim o favoritíssimo Benfica e conquistando o primeiro troféu da sua história.

Com exceção do Benfica e seus adeptos, naturalmente, a vitória do Torreense é excelente notícia para um futebol feminino português a necessitar de competitividade e equilíbrio nas suas competições, vastamente dominadas pelas encarnadas nos últimos anos. E um prémio para os projetos que, mesmo ante tantas dificuldades, mesmo num panorama difícil para as jogadoras fora das equipas grandes, mantêm a ambição e a vontade de apostar no futebol feminino. Este sábado, Lisboa volta a receber a final da Liga dos Campeões, 11 anos depois da primeira vez. Há, claro, um mundo de diferenças entre a paisagem do futebol feminino nacional desses tempos para hoje, mas convém nunca colocar o pé no travão.

FPF

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