Morreu Jorge Costa, diretor para o futebol do FC Porto, após paragem cardiorrespiratória
Antigo capitão do FC Porto e atual diretor de futebol do clube, Jorge Costa
Sérgio Granadeiro
Jorge Costa, diretor de futebol do FC Porto, faleceu na tarde desta terça-feira, no Hospital de São João, após sofrer uma paragem cardiorrespiratória no centro de treinos do clube, no Olival. Lenda portista, jogou pelos dragões durante 13 épocas e, recentemente, regressara ao clube pela mão de André Villas-Boas para dirigir o projeto desportivo. Tinha 53 anos
O antigo capitão do FC Porto e diretor de futebol do clube, Jorge Costa, morreu esta terça-feira, confirmou à Tribuna Expresso fonte do Hospital de São João do Porto, onde viria a falecer na Sala de Emergência após ser internado de urgência devido a uma paragem cardiorrespiratória sofrida no centro de treinos dos dragões, no Olival, em Vila Nova de Gaia.
Era uma lenda viva do clube e tinha 53 anos, tendo passado o último ano e meio a dirigir ativamente o projeto futebolístico do FC Porto. Regressara ao clube em abril de 2024 para ser diretor, estar no cerne do dia-a-dia da equipa principal e inclusive no banco de suplentes de qualquer jogo da equipa principal desde então.
Foi trazido pela vitória de André Villas-Boas nas eleições traumáticas para o universo do Dragão: significaram o término do reinado de mais de quatro décadas de Jorge Nuno Pinto da Costa, o início de um reset necessariamente custoso para o clube, igualmente uma sofrível despedida com que a família portista teve de lidar.
Esse até já evoluiu para um adeus em fevereiro deste ano, quando morreu o maior dos presidentes do FC Porto, por uma vastidão o mais titulado e bem-sucedido em troféus. Nem seis meses volvidos, desaparece deste mundo um dos mais icónicos capitães da história portista, o homem que aguentou nos braços o peso do orelhudo troféu que tatuou o nome de um estádio alemão na memória dos adeptos. Em Gelsenkirchen, na apoteose de 2004, foi Jorge Costa a levantar, a meias-mãos com Vítor Baía, a segunda Liga dos Campeões da história do FC Porto, o seu cabelo já entre o branco e o grisalho.
Não seria a última das 13 temporadas do defesa central no clube, a sua derradeira seria a rocambolesca de 2004/05, atestado futebolístico ao que a vida prova há séculos: quando enorme é a subida, por vezes tão grande será também a queda. A estação de despedida de Jorge Costa-jogador do FC Porto teve três treinadores, um caos no campo, jogadores a entrarem e a sairem em torno do capitão que em 2003 já erguera, com os mesmos braços, a Taça UEFA, também com José Mourinho.
Esse par de finais terão sido os mais fulcrais jogos entre os 383 que fez pelo FC Porto, onde chegou em 1987. Estrear-se-ia na equipa principal em 1992, era Carlos Alberto Silva o treinador, foi o também brasileiro Zé Carlos o seu primeiro companheiro da defesa. E marcou um golo. Pedro Emanuel seria o último, em 2005, em pleno Dragão que o abraçou com um tremendo aplaudo ao ser substituído ao minuto 90. A liderança do 'Bicho', como era alcunhado, atravessou várias gerações.
O próprio clube enalteceu como Jorge Costa "personificou, ao longo da sua vida, dentro e fora de campo, os valores que definem o FC Porto: entrega, liderança, paixão e um inabalável espírito de conquista". No comunicado em que lamentou a morte de uma das suas maiores referências, elevou como o jogador "marcou gerações de adeptos e tornou-se um símbolo maior do Portismo".
Fez por sê-lo em campo, onde conquistou oito campeonatos nacionais, incluindo o célebre Penta, ao encadear cinco títulos seguidos, feito até então inédito e até hoje irrepetível no futebol português. Ganhou também cinco Taças de Portugal e meia dezena de Supertaça, fora a bi-conquista europeia com José Mourinho e a sucedânea vitória contra o Once Caldas, nos penáltis que decidiram a Taça Intercontinental de 2005.
Veleidade rara foi avistá-lo em as riscas azuis e brancas na veste. Aconteceu apenas em 1990/91, na época de estreia no futebol sénior que dedicou ao Penafiel, por empréstimo, e durante seis meses em 2003, quando sumiu para o Charlton da Premier League após uma zanga com o treinador Octávio Machado após ser substituído e parecer ter atirado a braçadeira de capitão para o chão. De outro modo, só quando a seleção nacional o chamava.
Campeão mundial sub-20, em 1991, entre a pequenada nutrida por Carlos Queiroz, com muitos comparsas da geração a que impingiram a alcunha de ser de ouro, Jorge Costa aterrou na equipa principal de Portugal no ano seguinte, com 90 minutos ao lado de Hélder Cristóvão na estreia. Quem mais companhia lhe faria nas 50 internacionalizações seria Fernando Couto, o cabeludo a fazer de vizinho para o cabelo sempre cortado rente, ambos a protagonizarem uma das mais icónicas duplas de centrais da seleção nacional.
Gualter Fatia
Nada conquistariam. E o 'Bicho' já não estava na final perdida de 2004, no Europeu caseiro. Retirara-se em 2002, após o Mundial da Coreia e do Japão. De fases finais apenas se conta outra mais, a do Euro 2000 que teve prazo até às meias-finais, onde de perto assistiu à marota mão de Abel Xavier na bola que deu a Zinedine Zidane o penálti que chutou Portugal torneio fora.
A sua posterior aventura do lado de lá do futebol, nos bancos, teria bastantes menos cumes. Começou no SC Braga, em 2006, mas do Minho teve um percurso de 16 anos em que não mais orientaria um clube de dimensão parecida: trabalho no Olhanense, na Académica, no Arouca, no Farense, no Académica de Viseu e no AFS, entre missões na seleção do Gabão e clubes de Chipre, Roménia, Suíça e França.
Quando regressou ao FC Porto, o ano passado, para se enfiar em mangas de camisa e apertar o colarinho com gravata, Jorge Costa completou o retorno ao ninho. Um dragão devolvido ao Dragão. Villas-Boas nomeou-o diretor para o futebol, homem forte para ser o elo entre presidente e equipa além de presença omnipresente no banco de suplentes. De jogador a dirigente, o 'Bicho' começou e acabou em casa.