Olhamos para o mapa da Europa e parece uma impossibilidade geográfica e demográfica, mais do que futebolística, que um país da periferia bata o pé a Alemanha e Espanha no caminho para a vitória num título continental. E sim, no esquema geral das coisas, é admirável que Portugal tenha ganhado a Liga das Nações. Mas queremos mesmo continuar só a olhar para os nossos metros quadrados, desculpa imortal que nos tolhe e desresponsabiliza, mesmo quando a obrigação já é olhar para cima?
Portugal ganhou a Alemanha e Espanha porque no pequeno esquema do futebol é, tem de ser, uma equipa equivalente a Alemanha e Espanha. E a fasquia deve estar aí, a níveis mondoduplantianos e nunca na inferioridade do salto ao eixo onde teimamos em nos esconder. Uma equipa com Diogo Costa, Rúben Dias, Nuno Mendes, Vitinha, João Neves, Bruno Fernandes, Bernardo Silva e Rafael Leão não pode, individual e coletivamente, temer uma Alemanha que tem Jonathan Tah como central e onde o talento reside essencialmente em Florian Wirtz e Jamal Musiala (que nem jogou contra Portugal). E tem de ter a ambição de não se atemorizar com a Espanha de Pedri, Lamine Yamal e Nico Williams.
E muito menos com uma Dinamarca. Não nos esqueçamos que, em março, Portugal esteve a quatro minutos de ser eliminado pelos nórdicos.
Na Alemanha, na final four da Liga das Nações, Portugal não foi, de facto, a equipa de março. Nem podia ser: aí chegou-se a um ponto demasiado baixo de falta de aspiração, de pobreza coletiva, quase humilhante para quem tem tanta qualidade. Em Munique, Portugal foi, pelo menos, uma equipa competitiva, recuperando, em ambos os jogos, de desvantagens no marcador. Mas, mais importante, mostrou a espaços aquilo que pode verdadeiramente ser quando as suas peças estão em harmonia com aquilo que sabem fazer melhor, no timing correto.
Estará por compreender a insistência de Martínez na solução João Neves à direita, nem a razão do porquê de um dos médios com maior capacidade de pressão da Europa não ter jogado na sua posição em duelos em que Portugal bem precisava dela. Nem que nunca tenha tido oportunidade de atuar ao lado de Vitinha, esse meio-campo que ganhou a Europa, mas que parece não servir para Portugal. E dois golos marcados não devem distrair-nos do essencial: no domingo, Espanha fez o que bem quis no corredor central em largos momentos do jogo porque não vai ser Cristiano Ronaldo o primeiro elemento da pressão - que é um dos pontos fortes do jogo de Gonçalo Ramos.
Tudo isso seria colocar o individual ao serviço de um coletivo e não o contrário. O futebol moderno, ou o que lhe queiram chamar, será quase sempre implacável com o segundo - o PSG pré-Luis Enrique e com Luis Enrique explica isso. Não o foi com Portugal porque Martínez mexeu a tempo. Que Portugal tenha encostado a Espanha às cordas na 1.ª parte do prolongamento não foi por acaso: à capacidade de Nuno Mendes em todos os momentos do jogo juntou-se o talento de Rafael Leão e a competência de pressionar o adversário mais alto. E não podia ser sempre assim?
Ainda assim, Portugal ganhou. E ganhou bem. Mas Portugal tem de ambicionar estar sempre aqui, nas decisões, usando o seu talento para ser igual ou mais forte que as Espanhas, as Franças e as Alemanhas. E para isso, mais cedo ou mais tarde, será preciso tomar decisões difíceis. Martínez soube ler, em direto, aquilo que os dois jogos estavam a dar, lançando para campo soluções que seriam essenciais. Mas não acertou na estratégia inicial. Portugal tem jogadores para ser mais do que uma equipa reativa.
Há que dizer que o selecionador ganhou, pelo menos - e com mérito -, o direito ao fim do ruído, que grassou sem que, da parte da FPF, houvesse uma posição pública para o abafar. Correndo a qualificação normalmente, Martínez estará no Mundial daqui a um ano. E lá o que se pede não pode ser menos do que isto - sabendo-se que pode ser bem mais.
O que se passou
O Sporting conquistou a Taça de Portugal de andebol, fazendo o pleno dentro de portas.
João Noronha Lopes apresentou a candidatura à presidência do Benfica.
A um mês do Europeu, a seleção nacional feminina voltou a descer de divisão na Liga das Nações. E com estrondo.
Zona mista
O mais importante agora é devolver a estabilidade aos atletas e apoiá-los, como até aqui, para que possam dar o seu melhor já no Mundial
Sérgio Pina, presidente da Federação Portuguesa de Judo, depois de confirmado o levantamento da suspensão de Portugal da federação internacional, que afastou o nossa país por conta de avultadas dívidas. São as notícias que os atletas, e principalmente eles, merecem, na semana em que começam os Mundiais da modalidade, onde há esperanças de medalhas. Medalhas essas que estavam em risco da ignomínia de serem recebidas sem bandeira ou hino.
O que aí vem
Segunda-feira, 9
⚽ Qualificação Mundial 2026: Croácia-Chéquia (19h45, Sport TV3), Itália-Moldávia (19h45, Sport TV1) e Bélgica-Gales (19h45, Sport TV2)
🎾 ATP 250 Estugarda (14h, Sport TV3) e ATP 250 S-Hertogenbosch (15h30, Sport TV7)
🚲 Critério do Dauphiné, etapa 2 (14h25, Eurosport 1)
Terça-feira, 10
⚽ Qualificação Mundial 2026: Países Baixos-Malta (19h45, Sport TV1) e Argentina-Colômbia (1h, Sport TV2)
Quarta-feira, 11
⚽ Arranca o Euro sub-21, com a estreia de Portugal frente à França (20h, Sport TV1). Veja também o Eslováquia-Espanha (17h, Sport TV1) e o Itália-Roménia (20h, Sport TV2)
🏀 Finais da NBA, jogo 3: Indiana Pacers-Oklahoma City Thunder (1h30, Sport TV1)
Quinta-feira, 12
⚽ Euro sub-21: Chéquia-Inglaterra (20h, Sport TV1) e Alemanha-Eslovénia (20h, Sport TV2)
Sexta-feira, 13
🏀 Finais da NBA, jogo 4: Indiana Pacers-Oklahoma City Thunder (1h30, Sport TV1)
🥋 Judo, Mundiais: dia 1, finais (17h, Sport TV3)
Sábado, 14
⚽ Euro sub-21: Portugal-Polónia (20h, Sport TV1)
⚽ Começa o Mundial de clubes: Al-Ahly-Inter Miami (1h, DAZN)
🏁 F1: GP Canadá, qualificação (20h, DAZN4)
🏁 24 horas de Le Mans (14h, Eurosport 1)
Domingo, 15
⚽ Estreia do FC Porto no Mundial de clubes, frente ao Palmeiras de Abel (23h, DAZN). Siga também o PSG-Atlético Madrid (20h, TVI/DAZN)
🎾 Finais ATP 250 Estugarda (13h, Sport TV5) e ATP 250 S-Hertogenbosch (13h30, Sport TV7)
🏁 F1: GP Canadá, corrida (18h, DAZN4)
🚲 Arranca a Volta à Suíça, com João Almeida (14h, Eurosport) e termina o Critério do Dauphiné (14h15, Eurosport)
Hoje deu-nos para isto
Deve ser fascinante viver dentro da cabeça de Carlos Alcaraz durante um jogo de ténis, entre a genialidade que lhe corre nas entranhas e as não poucas escapadelas das células cerebrais até Ibiza ou outro lugar de veraneio onde milhares de miúdos de 22 anos como ele passam agora descontraídas férias. Alcaraz, como tantos génios, vive nesse limbo de querer tudo, às vezes ao mesmo tempo, uma impossibilidade para um atleta de alta competição, tenha ele o talento que tenha. Rafael Nadal é um exemplo extremo de dedicação, possivelmente incomportável para a Geração Z.
É dentro desse constante pulular que se vive um jogo de Carlos Alcaraz, um diagrama nada constante de emoções, uma amplitude de onda nunca curta, sempre algures entre a glória e o cair por uma ribanceira abaixo. É fácil torcer pelo ténis alegre de Carlos Alcaraz, mas dá muito trabalho.
Nomeadamente, quase cinco horas e meia de trabalho. A final de Roland-Garros de 2025 foi a primeira em majors entre Alcaraz e o italiano Jannik Sinner, alto, esguio, mármore de Carrara emocional, contraste antropológico e conceptual do espanhol e por isso um rival tão interessante. Será, seguramente, a primeira de muitas entre as duas caras do novo ténis, herdeiros naturais do big three, já retirado ou semi.
Não foi sempre bem jogada a final, viveu do combustível das sensações de Alcaraz, assim é quando à sua frente está uma máquina de lançar bolas, uma constante de emoções, o número 1 mundial porque Sinner não é de ondas, é uma auto-estrada em linha reta, impressionante ainda que mais chata de conduzir.
Mas quando o jogo esteve perdido, a cabeça de Alcaraz saiu de Ibiza, voltou ao Philippe Chatrier, porque até a capacidade de refocar é um talento raro. Sinner ganha praticamente a toda a gente, mas ainda procura antídoto para um tipo mais indisciplinado que ele. Será frustrante.
Perder para Sinner na terra batida que é mais sua do que do italiano nascido na fronteira que já namora com a Áustria teria sido um golpe para a história que Alcaraz tenta escrever. Virar de dois sets de desvantagem para a vitória transferiu o trauma para o outro lado. Mas Sinner, sendo Sinner, passará rapidamente por ele.
Como está bem entregue o ténis.
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