Tribuna 12:45

Benfica, civismo e o bem comum

Eis alguns dos sócios que contribuiram para um sábado histórico: as eleições do Benfica foram as mais participadas a nível mundial
Nuno Fox

Confesso que não estou propriamente à vontade com uma série de sentimentos que de mim se apoderaram este fim de semana. Porque são cínicos, seguramente, e injustos, potencialmente. Porque quando o assunto é desporto odeio esta sensação de desconfiança que me leva para uma arena mais pragmática e menos do coração e da pureza. É uma fraqueza, não tenho dúvidas. Às vezes, uma pessoa só tem de se deixar levar.

Isto porque me perguntei uma série de vezes - demasiadas vezes - este fim de semana quantas daquelas pessoas que aguardavam civicamente (algumas até emocionadamente) na fila para escolher o próximo presidente do Benfica fez o mesmo nas últimas eleições autárquicas. Eu avisei: era um sentimento cínico, áspero, demasiado cético. Percebo que me censurem. Não gosto de ser esta pessoa. Mas essa ideia ficou ligeiramente mais forte quando, num erro de simpatia, bem sei, uma jornalista em frente ao labirinto que se formava à entrada do Pavilhão 1, calcorreado em ritmo firme e estável por milhares de sócios, como num último estágio do jogo Snake (millennials entenderão), atirou que estava em causa a eleição do Presidente da República. Ou quando um rapaz, há horas e horas numa fila da Casa do Benfica do Seixal, pingando água caída do céu, sublinhou estoicamente que não faria aquilo pela política, mas “pelo Benfica sim”.

É uma pequena gota agridoce (mas daquelas que nos cai mesmo em cheio na tola) num dia que, sem qualquer dúvida, foi bonito. Mesmo bonito. Numa era de clubes detidos por milionários que moram a milhares de quilómetros do estádio, bateu-se o recorde mundial de participação de sócios numa eleição numa associação desportiva. Por estes dias, isso é muito poderoso. Mais de 50% dos eleitores compareceram. A abstenção foi, por isso, semelhante às últimas eleições legislativas e autárquicas. É claro que, numas eleições para órgãos de soberania, boa parte da população pode votar a dois passos de casa, enquanto votar nas eleições do Benfica pode pressupor longas viagens. Que haja esta consciência cívica para participar na vida de um clube é maravilhoso, que não restem dúvidas disso. Mas era tão bom que esse ímpeto comunitário invadisse outras matérias do bem comum, da vida de todos e não apenas daqueles que gritam connosco os mesmos golos.

Enfim, não liguem, isto foi só um desabafo de alguém ligeiramente pessimista com o mundo, desanimado com o que se depara a cada vez que põe um pé fora de casa. Alguém debatendo-se com emoções beligerantes e contraditórias, tanto quanto aquela frase do Sacchi do futebol que é a coisa mais importante das coisas menos importantes da vida, adágio simples e certeiro, porque o futebol assalta-nos desta maneira difícil de explicar de forma objetiva.

Se calhar também é isso que explica o que se passou por este país fora (e em sítios longínquos como San Jose ou Montreal) no sábado: o sentimento de pertença a algo, a uma instituição, a um grupo de iguais, é forte, tão forte que rejeita - e muito bem - qualquer tipo de explicação e reflexão cínica como esta que resolvi fazer. Posto isto, o Benfica está de parabéns, claro, por apelar mais aos valores democráticos do que quem nos rege, no sentido mais lato da palavra.

E, contrariando talvez uma série de considerações da ciência política, o assomo recordista mundial às urnas não significou, para já, mudança: mais uma vez, a maioria silenciosa, a que não está no antigo Twitter ou em redes sociais ainda mais dedicadas à bolha, fez-se ouvir pela continuidade. A 2.ª volta, inevitável perante o surgimento de seis candidaturas, um segundo round entre duas correntes antagónicas, entre o status quo de Rui Costa, claramente reforçado, e a mudança prometida de João Noronha Lopes, disputa-se a 8 de novembro.

Mais do que apoios dos candidatos já eliminados, a capacidade de evitar a desmobilização depois de mais de 85 mil pessoas terem abdicado de algumas horas do seu sábado para votar à chuva poderá ser o segredo - e se quiserem refrescar a memória, podem ler aqui e aqui o que ambos os candidatos disseram na primeira pessoa à Tribuna Expresso.

Daqui a duas semanas há mais. Durante longas horas. A democracia é isto mesmo.

O que se passou

Depois de vencer na Champions, o Sporting bateu confortavelmente o Tondela na I Liga. O FC Porto, que teve a meio da última semana a primeira derrota da época, joga esta segunda-feira.

Andou aparentemente tremido, mas Ruben Amorim vai em três vitórias consecutivas na Premier League e o Manchester United até já está em zona de Champions.

Numa disciplina onde Portugal tem tradição, Madalena Costa sagrou-se campeã mundial sénior de patinagem artística, horas depois de Rita Azinheira o ter feito em juniores.

Zona mista

Quando as equipas vêm cá, conduzem e conduzem de autocarro, passam por quintas e portos de pesca, continuam a conduzir e, quando já não dá para conduzir mais, encontram o nosso estádio

Esta, confesso, tem trapaça. Porque esta frase de Hasse Larsson, diretor desportivo do Mjällby, não é desta semana, mas faz sentido relembrá-la dias depois do modesto clube da vila de Hällevik, com apenas 1.400 habitantes, se sagrar campeão da Suécia. A maravilha do desporto, e o porquê de tanto gostarmos dele, é que continua a ser palco de contos de fadas, primeiras vezes e de histórias absolutamente improváveis

O que aí vem

Segunda-feira, 27
⚽ O Moreirense-FC Porto (20h15, TVI) fecha a jornada 9 da I Liga
⚽ La Liga: Real Betis-Atlético Madrid (20h, DAZN1)
🎾 Masters 1000 Paris (14h, Sport TV2)

Terça-feira, 28
⚽ Taça da Liga, quartos de final: Sporting-Alverca (20h15, Sport TV1)
⚽ A Taça do Rei recebe o primeiro embate entre Jorge Jesus e Sérgio Conceição na Arábia Saudita (18h, Sport TV3)
🎾 Masters 1000 Paris (10h, Sport TV2)

Quarta-feira, 29
⚽ Taça da Liga, quartos de final: Benfica-Tondela (20h45, Sport TV1)
⚽ Taça da Liga Inglesa: Swansea City-Manchester City (19h45, Sport TV6), Arsenal-Brighton (19h45, Sport TV5) e Liverpool-Crystal Palace (19h45, Sport TV7)
🏒 Hóquei em patins, campeonato nacional: Benfica-FC Porto (18h30, DAZN1)
🎾 Masters 1000 Paris (10h, Sport TV2)

Quinta-feira, 30
⚽ II Liga: Benfica B-Paços de Ferreira (18h, BTV)
⚽ Serie A: Pisa-Lazio (19h45, Sport TV3)
🎾 Masters 1000 Paris (10h, Sport TV2)

Sexta-feira, 31
⚽ A jornada 10 da I Liga arranca com o Sporting-Alverca (20h15, Sport TV1)
🎾 Masters 1000 Paris (13h, Sport TV2)

Sábado, 1
⚽ I Liga: Nacional-Famalicão (15h30, Sport TV1), Rio Ave-Estoril Praia (18h, Sport TV1), Casa Pia-Estrela da Amadora (18h, Sport TV2) e Vitória-Benfica (20h30, Sport TV1)
⚽ Premier League: Nottingham Forest-Manchester United (15h, DAZN) e Tottenham-Chelsea (17h30, DAZN)
🎾 Masters 1000 Paris, meias-finais (13h30, Sport TV7)

Domingo, 2
⚽ I Liga: AFS-Tondela (15h30, Sport TV1), Arouca-Moreirense (18h, Sport TV1) e FC Porto-SC Braga (20h30, Sport TV1)
⚽ Premier League: Manchester City-Bournemouth (16h30, DAZN)
🎾 Masters 1000 Paris, final (13h30, Sport TV6)

Hoje deu-nos para isto

Uma vitória não deverá fazer-nos olvidar do muito negativo Europeu do último verão e da reflexão que é necessária fazer para que não sejam dados passos à retaguarda, mas ganhar aos Estados Unidos é, sem ifs or buts, um feito histórico para a seleção nacional feminina, uma vitória que vem até com atraso, porque na nossa cabeça ainda está aquele poste que não permitiu o triunfo das Navegadoras no Mundial de 2023.

Ana Capeta está vingada e, apesar da derrota no segundo jogo de preparação, Portugal mostrou que pode ser uma equipa competitiva frente às mais gigantes (e estas são gigantes nível campeãs olímpicas e vice-líderes do ranking mundial). Francisco Neto ainda promoveu as estreias de Carolina Santiago, Maísa Correia e Alice Marques, o futuro de uma equipa que não se pode dar ao luxo de meter a marcha-atrás. Só de encarar olhos nos olhos qualquer adversário.

Howard Smith/ISI Photos/USSF

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