Tribuna 12:45

Depois do choque, como pode o futebol português homenagear Diogo Jota? Honrando o legado e a lição de Diogo Jota

Depois do choque, como pode o futebol português homenagear Diogo Jota? Honrando o legado e a lição de Diogo Jota

Pedro Barata

Jornalista

Imagem da academia Diogo Jota, em Gondomar, onde também se multiplicaram homenagens ao internacional português
PA - PA Images

É ainda difícil escrever sobre um desastre que acrescenta camadas de dor a camadas de dor. A morte de dois irmãos, uma família arrasada, a tragédia crua, súbita. Passaram quatro dias, mas a intensidade das emoções leva a pensar que foram quatro meses.

A máquina de triturar conteúdo dos ciclos noticiosos de 24 horas vai, agora, abrandar. Após a notícia, depois do velório e do funeral, ficará a dor de quem ficou sem quem amava. A dor duradoura, intensa, uma dor que, depois dos holofotes e atenção e até atropelos à privacidade e recato, será uma dor mais solitária, porventura silenciosa.

Fora do luto daquela família, o futebol português tem aqui um sério desafio. Para que as palavras ditas sobre Diogo Jota e André Silva não fiquem em conversa vã, para que o choque de 3 de julho não se esfume à medida que os ciclos noticiosos olham para outro lado, é preciso estar à altura do legado de quem morreu.

Comecemos por olhar para as imagens das cerimónias fúnebres. Havia cachecóis e camisolas e símbolos do Gondomar e do Liverpool, do Paços de Ferreira e do FC Porto, da seleção nacional e do Penafiel. Juntaram-se estrelas da Premier League e anónimos futebolistas da II Liga.

As reações uniram no luto Rafa Nadal e gente de Gondomar que se cruzava ocasionalmente com os irmãos. As homenagens incluíram Lionel Messi e jovens aspirantes a futebolistas do Porto. Houve a solidariedade do Príncipe de Gales e do povo de Liverpool.

Reside aqui parte do legado que o futebol português deve sublinhar: Diogo Jota era um raro caso do jogador que liga o futebol modesto à elite, que conecta base e topo da pirâmide, que aos 17 estava no Gondomar e aos 23 representava o Liverpool, que aos 18 anos atuava no Paços de Ferreira e aos 22 estreava-se pela seleção A.

Diogo Jota prova que, para um futebol ser saudável, é preciso cuidar dele em todas as dimensões, do mais mediático até ao mais escondido. Evidencia que é importante tratar de toda a árvore, que para o talento chegar aos maiores palcos é preciso que haja condições para que a qualidade que existe em Chaves ou em Tavira, na Guarda ou em Portalegre, em Câmara de Lobos ou em Gondomar, tenha estradas para se desenvolver.

Homenagem a Diogo Jota e André Silva antes do Bayern-PSG do Mundial de Clubes
Icon Sportswire

A grande lição de Diogo Jota está escrita na academia que tem o seu nome em Gondomar. Não importa partir primeiro, importa chegar mais longe.

O campeão da Premier League nunca perdeu o contacto com as suas raízes. Foi sempre próximo dos campos menos discretos que o viram nascer, manteve-se sempre visível em Gondomar ou Paços de Ferreira. Também por isso houve uma tão sentida e genuína reação popular a uma estrela que não era distante, mas próxima.

O estádio do Paços de Ferreira, um dos mais funcionais e aptos para a realidade do clube no panorama nacional, deve parte das suas obras de modernização ao dinheiro gerado pelo talento de Diogo Jota. Há uma academia em Gondomar onde crianças se divertem que foi inaugurado por quem, na altura, já atuava no colosso Liverpool.

Como se honra este trajeto de superação? Os clubes grandes devem respeitar os pequenos, não falhando, por exemplo, pagamentos por direitos de formação, não deixando de pagar alguns milhares de euros quando estão em causa negócios de milhões (lembre-se o pesadelo que o Tires viveu para receber o que devia da transferência de Beto); os quadros competitivos devem ser mais funcionais, sem aberrações como o facto de muitos clubes do Campeonato de Portugal, o quarto escalão nacional, terem acabado a época passada em abril e arrancarem a próxima campanha a 10 de agosto, quatro meses parados, sem receitas, no silêncio; os responsáveis políticos, nomeadamente autarquias, devem estimar os campos e complexos desportivos municipais, tantas vezes desprezados, entregues ao descuido num país com baixo investimento público no desporto.

Homenagear Diogo Jota é cuidar destas realidades, é não esquecer os centros desportivos fora de Alvalade, da Luz, do Dragão, da Cidade do Futebol. É dar condições para os juniores do Gondomar, não só porque de lá pode sair, eventualmente, um dos 20 homens que marcaram mais golos por Portugal, mas porque de lá sairão, certamente, homens que se querem saudáveis, bons exemplos para a vida em sociedade.

Homens como Diogo Jota, sobre quem não se conhecia uma polémica, um inimigo, alguém que falasse mal deste exemplo de trabalho, de vitalidade, de energia. O atacante moderno que saiu da Mata Real. Não é preciso ser-se forjado numa academia de topo para ser um atleta totalmente adaptado ao futebol de 2025, agressivo, fortíssimo na pressão, inteligente, grande finalizador.

O legado de Diogo Jota comporta este ensinamento. Para lembrar Diogo Jota mesmo quando os dias passem, é dever de todos olhar para lá dos grandes focos mediáticos. Regar os jardins da bola de Gondomar, mas também de Penafiel, não esquecendo André Silva.

O choque de 3 de julho foi arrasador. A dor daquela família permanecerá. Cabe-nos guardar o sorriso, a imagem do desportista que faz bem ao desporto, leal sem deixar de ser competitivo, honrado sem perder agressividade. Se queremos que o tributo a Diogo Jota não se perca, tiremos as conclusões necessários quanto ao percurso de Diogo Jota, o futebolista que ligou Gondomar a Liverpool.

O que se passou

Portugal perdeu com Espanha no arranque do Europeu feminino, partida disputada em Berna, onde há um relógio que demora três minutos e meio a dar uma hora e era por ele que Albert Einstein se orientava, como o Francisco Martins, nosso enviado à Suíça, conta. Hoje (20h00, RTP1/Sport TV1), há encontro decisivo diante de Itália. Francisco Neto já avisou para a necessidade de subir o rendimento, mas será o reset possível? O João Almeida Rosa traz-nos a análise às transalpinas.

Francesco Farioli é o terceiro treinador contratado por Villas-Boas no espaço de um ano. Chegou e prometeu “futebol corajoso”. A experiência de quem já trabalhou com o ex-Ajax e a análise de Tomás da Cunha.

Arrancou o Tour, com Philipsen a ganhar a primeira etapa e Van der Poel a segunda. O que esperar da corrida de João Almeida?

Nuno Borges esteve perto dos oitavos de final de Wimbledon (e, quem sabe, dos quartos de final), mas foi eliminado de forma dolorosa.

Portugal já tinha uma campeã no circuito mundial de qualificação. À segunda prova, ficou com uma vice-campeã, Yolanda Hopkins. Conta o Diogo Pombo

“Quando o Tadej participa, os outros começam logo a ver quem é que vai fazer segundo"

A honestidade de João Almeida sobre o seu companheiro e grande predador do ciclismo atual. O Tour começou no norte de França, com estradas estreitas e perigos vários, que custaram alguns segundos a vários candidatos à geral no primeiro dia. Philipsen foi o camisola amarela inaugural, um raro sprinter a vestir o pedaço de roupa mais desejado no ciclismo nos dias de hoje, seguindo-se outro homem da Alpecin-Deceuninck, no caso o craque Mathieu van der Poel. João Almeida, a viver a melhor temporada da carreira, já trabalhou para Pogačar.

O que aí vem

Segunda-feira, 7 de julho
⚽ Portugal com um match point no Europeu, contra Itália (20h00, RTP1/Sport TV1). Também no mesmo grupo, Espanha-Bélgica (17h00, Sport TV1)
🎾 Mais um dia de Wimbledon, que entra na segunda semana (11h00, Sport TV2/3)
🚴 A terceira etapa do Tour liga Valenciennes a Dunkerque, num dia para o sprint (12h00, Eurosport 1)

Terça-feira, 8
⚽ Europeu feminino: Alemanha-Dinamarca (17h00, Sport TV1) e Polónia-Suécia (20h00, Sport TV1)
⚽ Começam as meias-finais do Mundial de Clubes, com o Fluminense-Chelsea (20h00, DAZN)
🎾 Prossegue Wimbledon (11h00, Sport TV2/3)
🚴 Quarta etapa do Tour: 174,2 quilómetros entre Amiens e Rouen, com um final com algumas colinas que pode ser animado (12h00, Eurosport 1)

Quarta-feira, 9
⚽ Europeu feminino: Inglaterra-Países Baixos (17h00, Sport TV1) e França-País de Gales (20h00, Sport TV1)
⚽ A outra meia-final do Mundial de Clubes soa a final de Liga dos Campeões: PSG-Real Madrid (20h00, DAZN)
🎾 Wimbledon (11h00, Sport TV2/3)
🚴 Etapa importante no Tour, com o contra-relógio de Caen, o último esforço individual em terreno plano desta edição (11h45, Eurosport 1)

Quinta-feira, 10
⚽ Já na última jornada do Europeu: Finlândia-Suíça (20h00, Sport TV1) e Noruega-Islândia (20h00, Sport TV2)
🎾 Meias-finais femininas de Wimbledon (11h00, Sport TV3)
🚴 Etapa 6 do Tour, entre Bayeux e Vire Normandie (11h15, Eurosport 1)

Sexta-feira, 11
⚽ O fecho do grupo de Portugal no Europeu: Portugal-Bélgica (20h00, RTP 1/Sport TV1) e Itália-Espanha (20h00, Sport TV2)
🎾 Meias-finais masculinas de Wimbledon (11h00, Sport TV3)
🚴 Etapa 7 do Tour, com a conhecida e marcante chegada ao Mûr-de-Bretagne (11h00, Eurosport 1)
🏃 Há Diamond League no Mónaco (19h00, Sport TV4)

Sábado, 12
⚽ Conclui-se o grupo C do Europeu na Suíça: Suécia-Alemanha (20h00, Sport TV1) e Polónia-Dinamarca (20h00, Sport TV2)
🎾 Quem irá suceder a Barbora Krejčíková? Final feminina de Wimbledon (16h00, Sport TV3)
🏍️ Moto GP, GP Alemanha, corrida sprint (14h00, Sport TV4)
🚴 8.ª etapa do Tour, com chegada a Laval num dia sem dificuldades de montanha

Domingo, 13
⚽ A grande final do Mundial de Clubes (20h00, DAZN)
⚽ Europeu feminino: Países Baixos-França (20h00, Sport TV1) e Inglaterra-País de Gales (20h00, Sport TV2)
🚴 Estranhamente, a organização do Tour colocou duas etapas planas seguidas ao fim de semana. A 9.ª jornada vai de Chinon a Châteauroux, sem qualquer ascensão
🎾 Final masculina de Wimbledon (16h00, Sport TV3)
🏍️ Moto GP, GP Alemanha, corrida principal (13h00, Sport TV4)

Hoje deu-nos para isto

A seleção feminina foi, nos últimos anos, uma equipa a jogar em três tempos verbais. Dignificava e honrava o passado, lembrando as pioneiras de outrora, competia e evoluía no presente, levando Portugal a grandes palcos, e olhava para o futuro, sabendo que o caminho tinha de ser ascendente, que o trabalho feito não chegara ainda a um ponto final, que depois de cada colina ascendida havia outro topo para escalar.

Depois da estreia em grandes torneios no Euro 2017, o Europeu de 2022 trouxe otimismo. Os pontos em que era preciso crescer (bolas paradas, defesa da área…) eram evidentes, mas ficou uma mensagem de esperança, uma crença no talento personificada no aparecimento de Kika Nazareth, Telma Encarnação, Andreia Faria, Catarina Amado, Lúcia Alves, Andreia Norton ou Andreia Jacinto, todas com 25 anos ou menos.

Uma volta ao sol passada, o Mundial 2023 parecia, mesmo, a perfeita e definitiva rampa de lançamento. A estreia na principal competição, a vitória contra o Vietname, a heróica exibição frente aos Estados Unidos, ficando a centímetros de protagonizar a maior façanha da competição. Quem empatava contra os EUA, quem se batia bem diante dos Países Baixos, quem apresentava um crescimento tão continuado e consolidado, só podia sorrir perante o futuro, o terceiro tempo verbal em que esta seleção navega.

Seguiu-se um 2024 invicto. 2025 arrancou com um empate contra Inglaterra e um triunfo na Bélgica. Vinha aí novo Europeu, a terceira fase final seguida. Hora de olhar mais para cima, só estar lá já não chegava. Progressão, confiança.

Portugal perdeu por 5-0 contra Espanha, aumentando as dúvidas sobre o momento da seleção
Eurasia Sport Images

Subitamente, foi-se o otimismo. Desapareceu a competitividade. Onde está o crescimento? Últimos cinco encontros oficiais: cinco derrotas, 25 golos sofridos, 3 marcados. 380 minutos sem festejar um golo.

Os números são maus, perder, no espaço de três meses, por 7-1, 6-0 e 5-0 é duro. Mas, pior do que isto, é a sensação de competitividade perdida, de que algo no núcleo desta equipa se esfumou. Regrediu-se ou foram os outros que evoluíram e Portugal ficou para trás?

Estar in loco no Europeu 2022 e no Mundial 2023 foram exercícios de otimismo. De esperança. Após as eliminações em Inglaterra e na Nova Zelândia, as jogadoras apontavam para o futuro, sabiam-se no centro da revolução. Vinham novas gerações, já inteiramente formadas com acesso a melhores condições, já produto da aposta consolidada dos principais clubes, o futebol feminino já não tinha um aromo a improviso, queria-se e pensava-se e exigia-se mais.

É difícil encontrar esse sentimento agora. Há desgaste, cansaço. Estagnação? Do onze contra Espanha, só Andreia Jacinto tinha menos de 25 anos. Foram utilizadas seis jogadores com 30 anos ou mais. Das 16 futebolistas que pisaram o campo, só Beatriz Fonseca, Ana Seiça e Ana Capeta não foram chamadas para o passado Europeu (Andreia Jacinto também não foi, mas por lesão).

Talvez seja justo pedir renovação. O pedido não é dirigido apenas à federação, mas também aos clubes, como alertou João Almeida Rosa no último “No Princípio era a Bola”. Note-se que o Sporting não renovou com Diana Silva (30 anos) e Ana Borges (35) e o Benfica apressou-se a ir contratá-las. Entretanto, a seleção sub-19 acaba de fazer uma campanha brilhante.

Veremos como será o futuro. O passado foi de crescimento, nada tirará o estatuto de grandes desbravadoras a estas futebolistas. O presente é de urgência. Portugal joga esta noite (20h00, RTP1/Sport TV1) contra Itália, equipa que surge em boa forma no Europeu, sem margem de erro. Além da continuidade no torneio, está em causa a imagem desta equipa. A seleção que subia uma rampa tem de sair do labirinto de dúvidas.

Tenha uma boa semana, mergulhando intensamente nas emoções do Europeu feminino, do Tour e de Wimbledon. Obrigado por nos acompanhar aí desse lado, lendo-nos no site da Tribuna Expresso, onde poderá seguir a atualidade desportiva e as nossas entrevistas, perfis e análises. Siga-nos também no Facebook,Instagram e no Twitter.

E escute também o podcast “No Princípio Era a Bola”, como sempre com Tomás da Cunha e Rui Malheiro.

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