Vem aí um duplo compromisso da seleção nacional e não estamos em condições de julgar quem não se sinta entusiasmado.
Neste final de semana, Portugal pode conquistar um título e geralmente não há nada melhor do que isso para incendiar as ruas do país com a jactância de adeptos a usarem adereços especiais valorativos da ocasião. Em mês de santos populares, importa não confundir um arraial com um conjunto de gente verdadeiramente interessada em saber o desfecho da Liga das Nações.
Em Munique, na meia-final, a equipa de Roberto Martínez vai defrontar a Alemanha. Ultrapassando a congénere que vai disputar o jogo em terreno familiar, Espanha e França são os possíveis adversários na final ou no encontro que vai decidir o terceiro classificado. É um cartaz que faz inveja a muitos festivais de verão, mas o desempenho no último Euro deixa dúvidas sobre se Portugal vai atuar no palco principal.
Quando Martínez diz que “temos o maior futebol espetáculo da história da seleção”, ficamos com a sensação de estarmos perante um político que não ausculta o povo e pensa ter ideias para salvar o mundo mesmo que, fora da sua bolha, estas mereçam total repúdio. Talvez um referendo ao brilhantismo de Portugal mostrasse ao treinador que o sentimento de identificação com a equipa está em estado crítico.
O selecionador colocou um clipe na Liga das Nações, que Portugal conquistou em 2019, e na preparação para o campeonato do mundo. É legítimo tratar com leveza jogos que, noutros tempos, seriam meros amigáveis a valerem nada mais do que uma satisfação fugaz e dos quais não se podiam tirar grandes conclusões. Porém, talvez as exibições precárias tenham tornado a Final Four num checkpoint mais crucial do que poderia parecer à partida.
Até chegar à competição cuja organização se divide por Estados Unidos, Canadá e México, Portugal terá pela frente República da Irlanda, Arménia e Hungria. Não vai ser a fase de apuramento que vai permitir aferir se a seleção está pronta para o Mundial. Vejamos como Roberto Martínez quebrou todos os recordes na qualificação para o Euro 2024 - mais golos marcados, menos golos sofridos, maior goleada, dez vitórias noutros tantos jogos - e mesmo assim o objetivo autoimposto de chegar às meias-finais foi falhado.
Muitas vidas tem um ano e mesmo que Portugal se apresente a um nível esplêndido na Liga das Nações, também não será por isso que tem motivos para celebrar desde já a conquista do Mundial. Só que é importante não deixar a esperança morrer à fome. O desafio na Final Four é analisar como vai a seleção reagir quando tiver que se meter com gente do seu tamanho.
“Acima de tudo, [a Final Four] é um teste sempre para nós, enquanto seleção, para percebermos realmente o patamar em que estamos comparativamente com as melhores seleções da Europa”, refletiu João Palhinha, internacional português, numa entrevista concedida ao Diogo Pombo e impressa nas páginas do Expresso desta semana. “Não basta dizer que temos este e aquele jogador, temos vários jogadores, aliás, nos melhores clubes da Europa há que também, enquanto coletivo, demonstrar isso quando temos estes jogos com esta dificuldade acrescida”, acrescentou o médio do Bayern Munique.
Portugal tem reconhecidamente uma das melhores gerações de sempre do futebol português, daí querer evitar o desfecho indesejável de que esta se esfume sem conquistar um grande troféu internacional. No que aos mais novos diz respeito, superar rivais de peso parece estar normalizado. A seleção sub-17 bateu a França (3-0) e conquistou o Europeu do escalão. É um patamar que tem catapultado jogadores para o mais alto nível. Por esta altura, no ano passado, Portugal participou igualmente no jogo decisivo desta mesma competição, sendo que cinco jogadores dessa equipa já se estrearam na Primeira Liga e dois, Rodrigo Mora e Geovany Quenda, até já foram convocados por Roberto Martínez.
Ainda bem que a profecia de Bino Maçães, selecionador sub-17, só se concretizou parcialmente. “Assino já se ganhar a final sem jogar bem”, disse ao jornal “Record” antes do Europeu que se realizou na Albânia começar, numa declaração que poderá interferir com a paz interior dos teóricos da formação. Certo é que um Portugal hiper rotativo - ainda bem que a seleção A prestou atenção ao jogo - ganhou e convenceu (para azar de alguns).
Após a meia-final, contra a Itália, uma publicação da Federação Portuguesa de Futebol foi invadida por pessoas encapuzadas com a bandeira de Portugal que despejaram insultos racistas nas caixa de comentários. É mentira que a seleção seja a equipa de todos nós. De indivíduos como estes não pode ser.
O que se passou
Zona mista
Não preciso de ganhar a Liga dos Campeões para me lembrar da minha filha
Após anos a tentar fazê-lo, o Paris Saint-Germain venceu a Liga dos Campeões. Não aquele Paris Saint-Germain de Messi, Neymar e Mbappé, mas o Paris Saint-Germain de Vitinha, João Neves, Nuno Mendes e outras formiguinhas trabalhadoras com as quais Luis Enrique conseguiu construir uma identidade. A goleada ao Inter (5-0) foi o zénite de um ciclo de conferências pela Europa fora para explicar que o talento não vale apenas pelo talento. Esta Liga dos Campeões foi uma vitória do tempo, do método e do treino. Para Luis Enrique, foi a segunda vez que ganhou a competição de clubes mais importante. A diferença entre a primeira e a segunda? Desta vez, a filha que faleceu em 2019 devido a um tumor ósseo viu o jogo noutro lugar. "A Xana está viva. No plano físico, não está aqui. No espiritual, está. Todos os dias falamos dela, rimos e recordamos”, lembrou o treinador espanhol que após o apito final foi homenageado com uma coreografia que levou a filha a Munique.
O que vem aí
Segunda-feira, 2
🎾 Roland-Garros (a partir das 9h30, Eurosport 1 e 2)
Terça-feira, 3
⚽ Na Liga das Nações feminina: Portugal-Bélgica (18h, RTP1), Espanha-Inglaterra (18h, Sport TV1) e Suécia-Dinamarca (18h30, Sport TV2)
Quarta-feira, 4
🚲 Começa a Volta à Eslovénia com Rui Oliveira, Ivo Oliveira e António Morgado (12h30, Eurosport2)
⚽ Meia-final da Liga da Nações masculina: Portugal- Alemanha (20h, RTP1)
Quinta-feira, 5
⚽ Meia-final da Liga da Nações masculina: Espanha-França (20h, Sport TV1)
Sexta-feira, 6
⚽ Qualificação sul-americana para o Mundial 2026: Equador-Brasil (00h, Sport TV1) e Paraguai-Uruguai (00h, Sport TV6) e Chile-Argentina (2h, Sport TV3)
🏀 Arranca a final da NBA: Thunder-Pacers (1h30, Sport TV2)
⚽ Qualificação sul-americana para o Mundial 2026: Equador-Brasil (00h, Sport TV1) e Paraguai-Uruguai (00h, Sport TV6)
⚽ Qualificação europeia para o Mundial 2026: Noruega-Itália (19h45, Sport TV1) e Macedónia do Norte-Bélgica (19h45, Sport TV3)
🏐 Golden League feminina: Ucrânia-Portugal (21h, Sport TV2)
Sábado, 7
🏍️ Moto GP: qualificação (10h, Sport TV4) e corrida sprint (14h, Sport TV4) do GP de Aragão
🎾 Roland-Garros: final feminina (13h30, Eurosport1)
🏐 Golden League masculina: Portugal-Espanha (19h, Sport TV4)
⚽ Qualificação europeia para o Mundial 2026: Andorra-Inglaterra (17h, Sport TV1) e Finlândia-Países Baixos (20h, Sport TV1)
Domingo, 8
🏍️ Moto GP: corrida principal do GP de Aragão (13h, Sport TV4)
🎾 Roland-Garros: final masculina (13h30, Eurosport1)
🏐 Golden League feminina: Portugal-Eslovénia (15h, Sport TV2)
🏀 Arranca a final da Liga Portuguesa: Benfica-FC Porto (16h30, RTP2)
🏐 Golden League masculina: Grécia-Portugal (17h, Sport TV4)
⚽ Liga das Nações masculina: jogo de atribuição do terceiro lugar (14h, Sport TV1) e final (20h, Sport TV1)
Hoje deu-nos para isto
Na última década, apenas nove ciclistas ganharam mais do que uma grande volta. O clube tem nomes míticos - Alberto Contador, Nairo Quintana, Vincenzo Nibali, Chris Froome, Egan Bernal, Primoz Roglic, Tadej Pogacar, Jonas Vingegaard - e o sócio mais recente é Simon Yates que conquistou a Vuelta, em 2018, e o Giro, em 2025.
Antes de dar início a 82h31:02 de convívio com o selim, o britânico era um candidato anónimo a ganhar a Volta a Itália este ano. Sem os atuais crónicos vencedores de corridas de três semanas presentes, o mano a mano esperado era entre Primoz Roglic e Juan Ayuso, mas ambos acabaram por abandonar o Giro. Inicialmente, dir-se-ia que Simon nem na família Yates era o principal aspirante à camisola rosa, visto que o irmão Adam, na UAE Emirates, parecia ter o estatuto mais consolidado.
Isaac Del Toro passou 11 dias vestido com os tons do líder da classificação geral. Num autêntico blockbuster vivido na penúltima etapa, o jovem de 21 anos perdeu o primeiro lugar para Simon Yates. O Colle delle Finestre divide-se entre uma zona asfaltada que parece uma passadeira vermelha estendida para um desfile de sofrimento e um segmento de terra batida que desmancha o que ainda estiver intacto na resistência dos ciclistas. No final, Isaac Del Toro e Richard Carapaz, donos dos dois primeiros lugares da classificação geral, sabiam que Simon Yates estava a ser rebocado por Wout van Aert para a vitória no Giro.
Ao longo da Volta a Itália, a UAE Emirates não foi 100% firme na proteção ao camisola rosa, preferindo defender Juan Ayuso. No final, acabou surpreendida por Simon Yates, reforço da Visma-Lease a Bike para este ano e um corredor que aceitou deixar a Jayco AlUla para ter um papel de menor relevo na gigante neerlandesa (com o correspondente corte salarial). Irónico ter conseguido um feito que, aos 32 anos, parecia não lhe estar reservado num sítio que já o tinha humilhado. Em 2018, quando pedalava de rosa, Simon Yates atrasou-se quase 39 minutos face a Chris Froome e perdeu a Volta a Itália no Colle delle Finestre. Desta vez, tornou-se no primeiro a subi-lo em menos de uma hora.
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