Escrevo-vos com Portugal muito perto de garantir a 14.ª presença consecutiva numa grande competição. Escrevo-vos também poucos meses depois da seleção nacional conquistar a Liga das Nações. Pela segunda vez. Muito se poderá apontar à equipa de Roberto Martínez que, mais uma vez, ficou presa num rame-rame ofensivo frente a uma equipa mais fraca, que se fechou atrás. Está aqui um primeiro paradoxo: Portugal é uma equipa que tem mais dificuldades frente a uma Irlanda ou uma Eslovénia ultra-defensivas, do que contra colossos como França, Alemanha e Espanha. Mas, é certo, Martínez tem continuado a série virtuosa de Portugal, que tem estado sempre nos Europeus e Mundiais disputados neste século.
No sábado, em Alvalade, para ficar mais perto da viagem transatlântica às Américas, talvez Portugal tenha necessitado de ajuda divina, da estrela que acompanha esta equipa, encarnada na camisola 21, agora no corpo do seu amigo Ruben Neves. Os caminhos para a baliza são insondáveis e, no futebol, nem sempre a lógica impera, às vezes ganha o coração. Ainda bem.
Daqui a pouco mais de 24 horas pode chegar, então, o apuramento para o Mundial de 2026, no jogo frente à Hungria. Portugal tem de ganhar e esperar que a Arménia não o faça na Irlanda. Não será seguramente impossível olhando para o histórico e para as equipas. E com isso, Portugal fica apenas atrás de França, Espanha e Alemanha em matéria de passaportes carimbados de forma consecutiva para Campeonatos do Mundo e da Europa. Jogando de forma mais bonita ou mais pragmática, com gerações mais talentosas do que outras, Portugal não tem falhado o picar de ponto nos grandes palcos. E já tem troféus. Agora, até a calculadora não tem sido chamada a agir. Isso é um legado, a fortificação de um estatuto, que parecia impensável há 40 anos.
O que parece, lá está, paradoxal quando olhamos para dentro de portas, num país sem centralização de direitos audiovisuais, que não se entende em matéria de estrutura competitiva e em que nem se sabe bem que verbas estão destinadas às federações e ao desporto no último Orçamento do Estado, em que o setor aparece emparelhado com a juventude, sem direito, aparentemente, a especificidades próprias.
A última semana foi feita de acusações. Nada de novo, há sempre guerras, costas voltadas. Mas desta vez todos quiseram participar, Benfica, Sporting, FC Porto, os três em guerra aberta numa trincheira tripartida. E o Benfica em luta autofágica em plena campanha eleitoral. Ameaços de queixas sobre jogadores, participações de presidentes contra outros, arbitragens contestadas sem razão, utilização de bonitos vocábulos como “calimero”, “mapeamento clubístico” e quejandos. Tudo protagonizado por uma nova geração de dirigentes que entrou prometendo um discurso mais moderno, mais preocupado com esse conceito de “futebol português” e não com guerras estéreis, tão anos 90 que se tornam, rapidamente, aborrecidas.
Haverá outra forma de cada clube defender os seus interesses. E haverá outras formas de tratar um futebol que nos últimos dias até deu o primeiro futebolista multimilionário ao mundo. O futebol português, que esta semana recebeu alguns dos maiores nomes internacionais na sua moderna e tecnológica casa, numa cimeira pomposa, é um paradoxo andante.
O que se passou
Tadej Pogačar chegou às cinco vitórias consecutivas na Volta a Lombardia, fechando com um feito histórico a que diz ser a sua “melhor época de sempre”. A questão é que o esloveno anda há anos a dizer isso. O melhor de sempre? Talvez a conversa já tenha de ser essa.
Sérgio Conceição vai continuar a carreira de treinador no Al Ittihad, da Arábia Saudita.
Zona mista
“Somos um país pequeno, mas somos enormes. Somos um país de coração muito grande”
Heldon, ex-Sporting e Marítimo, explica o carácter de Cabo Verde, que daqui a pouco saberá se conseguirá uma inédita e histórica qualificação para o Mundial de futebol - se o conseguir, será o segundo país com menor população a chegar à grande festa do futebol global
O que aí vem
Segunda-feira, 13
⚽ Uma vitória frente ao Essuatíni vale a Cabo Verde uma presença inédita no Mundial 2026 (17h, Sport TV1). À mesma hora, Angola joga nos Camarões, que ainda esperam um deslize dos Tubarões Azuis (17h, Sport TV2)
⚽ Na qualificação europeia para o Mundial, siga o Irlanda do Norte-Alemanha (19h45, Sport TV2) e o Islândia-França (19h45, Sport TV1)
🎾 ATP250 de Antuérpia (14h30, Sport TV3) e ATP250 de Almaty (17h, Sport TV4)
Terça-feira, 14
⚽ Num jogo que pode dar o passaporte para o Mundial, Portugal recebe a Hungria (19h45, RTP1/Sport TV1). Acompanhe ainda o Itália-Israel (19h45, Sport TV3) e o Espanha-Bulgária (19h45, Sport TV2)
⚽ Na qualificação para o Euro sub-21, Portugal joga frente a Gibraltar (18h, 11)
🤾🏼♀️ Liga Europeia de Andebol: Melsungen-Benfica (17h45, BTV) e Fram Reykjavik-FC Porto (19h45, Porto Canal)
Quarta-feira, 15
🏀 O Benfica joga com o Spartak Subotica na Liga dos Campeões (20h30, Sport TV2)
🎾 ATP250 de Antuérpia (12h30, Sport TV1), ATP250 de Almaty (7h, Sport TV2) e ATP250 de Estocolmo (13h, Sport TV7)
Quinta-feira, 16
🎾 ATP250 de Antuérpia (12h30, Sport TV1), ATP250 de Almaty (7h, Sport TV2) e ATP250 de Estocolmo (13h, Sport TV7)
Sexta-feira, 17
⚽ Na Taça de Portugal, o Benfica joga em Chaves (19h30, RTP1)
⚽ O PSG recebe o Estrasburgo na Ligue 1 (19h45, Sport TV3)
Sábado, 18
⚽ Taça de Portugal: Celoricense-FC Porto (18h, Sport TV1) e Paços de Ferreira-Sporting (20h15, RTP1)
⚽ Na Alemanha há clássico: Bayern Munique-Borussia Dortmund (17h30, DAZN)
🏁 F1: GP Estados Unidos, corrida sprint (18h, DAZN) e qualificação (22h, DAZN)
Domingo, 19
⚽ Taça de Portugal: Fafe-Moreirense (14h, 11) e Belenenses-Estoril (18h, 11)
⚽ Na Premier League, o Liverpool recebe o Manchester United (16h30, DAZN)
🎾 Final do ATP250 de Estocolmo (14h, Sport TV3), ATP250 de Almaty (11h, Sport TV5) e ATP250 de Antuérpia (15h30, Sport TV6)
🏁 F1: GP Estados Unidos, corrida (20h, DAZN)
Hoje deu-nos para isto
Uma das maravilhas do desporto, de quase todos eles, é que há sempre a possibilidade de um impossível que se torna realidade, de uma novidade, de um momento histórico.
O ténis é pródigo nesses pequenos grandes inexequíveis que se tornam feitos e na última semana deu-nos uma das histórias do ano. Na final do Masters de Xangai, torneio que, em matéria de importância, fica apenas atrás dos majors que constituem o Grand Slam, enfrentaram-se Arthur Rinderknecht e Valentin Vacherot. O ranking de ambos já faria desta final uma história improvável. Rinderknecht, francês, era n.º 54 do mundo. Vacherot, a competir pelo Mónaco, 204.º do ranking. Mas ainda há mais e talvez ainda mais louco: é que os dois tenistas são primos, as mães de ambos são irmãs. O improvável tornou-se inacreditável.
E se a surpresa de os dois estarem na final já era grande, mais ainda ficou quando o menos cotado bateu o mais velho dos primos. Vacherot, que vinha da fase de qualificação e que, nas meias-finais, ganhou a Novak Djokovic, tornou-se no primeiro monegasco a ganhar um torneio ATP (e logo um dos mais relevantes), o tenista com ranking mais modesto a ganhar um Masters 1000 e apenas o terceiro qualifier a vencer uma prova desta categoria, o primeiro desde 2001. No final, escreveu na câmara de TV: “O avô e a avó estariam orgulhosos”.
Agarremo-nos a isto quando a palavra impossível nos parecer demasiado impenetrável.
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