Tribuna 12:45

90 minutos de silêncio pelo futebol português

CARLOS BARROSO

Nem sempre acordar com a casa gatafunhada é motivo para desespero. Às vezes, é mesmo uma grande sorte. Banksy, o artista anónimo que usa as paredes como tela e reclama nas redes sociais a autoria dos desenhos, tem o hábito de ser inesperado na maneira como critica a sociedade em desenhos que rodeiam os muitos defeitos da mesma. Uma das suas obras de referência é um pouco mais que rabiscos. Trata-se de um parque temático chamado Dismaland. A distopia baseia-se nos safáris de princesas e figuras de animação que se empolgam para lá dos ecrãs através de pessoas que se disfarçam delas. A proposta de Banksy é “imprópria para crianças” e, entre referências a temas como a crise de refugiados ou os efeitos nefastos do capitalismo, está a carruagem da Cinderela espatifada.

A versão fantasiada é mais atrativa para o público jovem que sonha conhecer pessoalmente as personagens dos universos mágicos. Ian Cathro prometeu à filha que a levaria à Disneyland numa data FIFA, em que o Estoril não tivesse compromissos devido à pausa para os jogos de seleções. “Não vou poder porque prometi levar a minha filha a ver o Mickey Mouse.” Foi a maneira do treinador que fala português sem papas na língua criticar a demora na divulgação dos horários das próximas jornadas do campeonato. A oito dias do começo da terceira ronda, a Liga Portugal divulgou os horários da mesma. Para azar de Cathro, que queria organizar a vida familiar e desanuviar deste cenário pouco encantado, o duelo com o Santa Clara só se realizará em setembro, momento que tinha reservado para outros planos.

A complicação deve-se aos compromissos europeus dos açorianos, envolvidos na luta pela entrada na Liga Conferência. Conjugado com outros fatores, Ian Cathro tem razões para, com todos os azedumes, ter disparado nas críticas. Afinal, na quarta jornada, o Estoril visita o Tondela em parte incerta. Os beirões receberam o Famalicão em Rio Maior, a mais de 200 quilómetros do Estádio João Cardoso, com uma relva indigna que não se sabe se estará em condições para o segundo jogo em casa da equipa de Ivo Vieria. “Acho que já marcámos quatro hotéis porque não sabemos onde é que vamos jogar com o Tondela”, desabafou o escocês. “Estou sempre a defender a qualidade do futebol português. Às vezes, é mais fácil. Às vezes, é mais difícil. Hoje, é mais difícil.”

MANUEL FERNANDO ARAÚJO

É interessante imaginar alguém virgem de preconceitos a ligar a televisão e a cruzar-se com um jogo do campeonato português. Essa pessoa certamente não perderia tempo a mudar de canal. O futebol nacional é um produto tão tenebrosamente embalado que dificilmente é aberto para se provar o que está lá dentro.

Voltando ao caso do Tondela-Famalicão. Na antevisão, Hugo Oliveira também pediu o livro de reclamações e nele apontou julgamentos sobre a hora do encontro. "A DGS e o SNS dizem para as pessoas evitarem estar ao ar livre até às 17h. O Famalicão é um clube que pensa a beleza do jogo e que sabe que o jogo é para os adeptos. É incompreensível que se jogue às 15h30 quando nós queremos idosos e crianças no estádio. Temos que olhar todos mais para o que é a beleza do jogo. Temos que ser honestos e dizer que a qualidade não será igual.”

A partida decorreu num ambiente assombroso com 532 espetadores a tentarem fazer frente a um numeroso exército de cadeiras desimpedidas a tomar conta da paisagem. Por cá, não se faz um minuto de silêncio. Em estádios vazios, o luto prolonga-se durante 90’. Na temporada passada, dez das 18 equipas do campeonato terminaram a temporada com menos de 4.000 espetadores de média, uma realidade que parece imutável.

Antes do arranque do campeonato, a Liga Portugal lançou o "Meta 2028", um plano autodenominado de “ambicioso” onde constam as diretrizes rumo ao top-6 do ranking da UEFA. Fala-se de “aumentar receitas de bilhética”, de “crescer como um todo” e outras velhas promessas como “diminuir o número de faltas” ou a existência de “mais tempo útil de jogo”. Num país em que a relevância internacional parece ser um exclusivo das equipas que mais frequentemente estão presentes na Liga dos Campeões, as outras consolidam-se como marcas sem qualquer potencial de crescimento. Continuam a ser cometidos erros atrás de erros que remetem um ninho de talento ao estatuto de causa perdida.

O que se passou

Zona mista

Não gosto do jogo em Miami, mas não entro na hipocrisia de dizer que é uma vergonha.

Não é só por cá que se tomam decisões duvidosas. Espanha vai ter um jogo do campeonato nacional a ser disputado em Miami, área de jurisdição do soccer messiano. O duelo exportado é o Barcelona-Villarreal. As opiniões dividem-se e há mesmo quem não consiga ter só uma. Iñigo Pérez, treinador do Rayo Vallecano, diz que a situação faz parte do modelo de negócio que permite aos protagonistas terem salários exorbitantes, embora não lhe agrade que um jogo da La Liga seja realizado nos Estados Unidos. É arrendar a alma ao diabo.

O que vem aí

Segunda-feira, 18
⚽ Primeira Liga: Gil Vicente-FC Porto (20h15, Sport TV1)
🎾 Masters 1.000 de Cincinnati: Jannik Sinner e Carlos Alcaraz encontram-se na final (20h, Sport TV4)

Terça-feira, 19
⚽ Supertaça saudita: Al Nassr-Al Ittihad
⚽ La Liga: estreia-se o Real Madrid contra o Osasuna (20h, DAZN1)

Quarta-feira, 20
⚽ 1.ª mão do play-off de acesso à Liga dos Campeões: Fenerbahçe-Benfica (20h, Sport TV5)
🚴 Renewi Tour: António Morgado inicia a prova belga (14h30, Eurosport1)

Quinta-feira, 21
🎾 US Open: vem aí o último Grand Slam do ano (0h, Eurosport1)

Sexta-feira, 22
⚽ Bundesliga: o campeonato alemão arranque com um clássico entre o Bayern Munique e o RB Leipzig (19h30, DAZN1)
🏍️ Moto GP: arranca a preparação para o Grande Prémio da Hungria (9h45, Sport TV4)
🏉 Mundial de râguebi feminino: a anfitriã Inglaterra inaugura o torneio contra os Estados Unidos. A portuguesa Maria Heitor será árbitra assistente (19h30 Sport TV7)

Sábado, 23
🏍️ Moto GP: começa a qualificação do Grande Prémio da Hungria (9h40, Sport TV4)
🚴 Volta a Espanha: João Almeida vai à luta na derradeira corrida de três semanas da temporada (11h45, Eurosport 1)
⚽ Premier League: Manchester City-Tottenham (12h30, DAZN1)
⚽ Final da Supertaça saudita: Cristiano Ronaldo, João Félix e Jorge Jesus podem ganhar o troféu que abre a temporada (13h, Sport TV3)
🏍️ Moto GP: realiza-se a corrida sprint do Grande Prémio da Hungria (14h, Sport TV4)
🤾 Supertaça de andebol: Sporting-FC Porto (16h15m RTP2)
⚽ Serie A: o Nápoles inicia a defesa do título frente ao Sassuolo (17h30, Sport TV4)
⚽ Primeira Liga: Nacional-Sporting (18h, Sport TV1)
⚽ Primeira Liga: Benfica-Tondela (20h30, BTV)

Domingo, 24
🏍️ Moto GP: realiza-se a corrida principal do Grande Prémio da Hungria (13h, Sport TV4)
⚽ Primeira Liga: FC Porto-Casa Pia (18h, Sport TV1)
⚽ Ligue 1: jogo grande entre Lille e Mónaco (10h Sport TV6)

Hoje deu-nos para isto



David Price

A Premier League não perdeu tempo até dar ao público português aquilo que ele desejava ver. O Manchester United de Ruben Amorim e o Arsenal de Viktor Gyökeres defrontraram-se em Old Trafford. Os londrinos venceram por 1-0, mas nenhum saiu satisfeito: o treinador português não somou pontos e o avançado sueco esteve irreconhecível.

Viktor Gyökeres mostrou uma faceta de avançado domável que nem encontrou espaço para rematar à baliza. Diga-se que o nórdico pareceu ter saudades de jogar ao lado de extremos que baixassem em apoio, libertando espaço para que se esgueirasse nas costas da defesa. Na estreia em Inglaterra, foi solicitado por via aérea quando o scouting do Arsenal devia ter avisado que o clube pagou, no imediato, €65,7 milhões por um ponta de lança especialista em atacar o espaço. Por momentos, fez lembrar Harry Kane no Tottenham, a servir como lançador dos velocistas.

Nos 60 minutos de Gyökeres em campo, Mikel Arteta viu-o fazer “muitas coisas muito bem”. “Não teve muitas situações para finalizar, porque não conseguimos colocar a bola [atrás da linha defensiva] para explorarmos a qualidade dele.”

Os reforços do Manchester United tiveram impacto no clássico. Bryan Mbeumo e Matheus Cunha fizeram parte do onze inicial e evidenciaram-se. O que Ruben Amorim teve que explicar com detalhe foi a titularidade de Altay Bayindir na baliza e a confiança com que fez essa escolha. Apesar da derrota, o técnico saiu satisfeito. “Provámos que podemos ganhar qualquer jogo na Premier League.”

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