Tribuna 12:45

Não, Roberto Martínez não olha para o campeonato português. Podemos julgá-lo?

Severin Aichbauer

Os microfones são falíveis guardiões de segredos e repetem em voz alta o que os ingénuos lhes sussurram, pensando terem ali um confidente. Na realidade, os desbocados acabam por espalhar as confissões ao longo de um raio pouco seguro para a manutenção do conteúdo no colo de quem diz e de quem ouve.

Nada do que Roberto Martínez diga sobre a seleção nacional fica na intimidade. O alcance cada um o usa como entende. Durante o anúncio da convocatória de Portugal para os jogos contra República da Irlanda e Hungria, de qualificação para o Mundial 2026, o treinador fez um exercício de relações públicas, tentando dar a entender que a Primeira Liga é o reservatório universal da virtude.

Uma pergunta sobre as aparentemente reduzidas hipóteses que quem atua no campeonato nacional tem de ser chamado à seleção fez o técnico referir que existe “uma quantidade enorme de jogadores importantes” nas equipas portuguesas. Além disso, defendeu o espanhol, há um “número elevado” de exemplos que contradizem o jornalista.

Desde que Roberto Martínez assumiu o cargo, a seleção realizou 14 estágios. Nesse vasto número de reuniões, apenas seis jogadores oriundos das provas internas se estrearam no mapa de internacionalizações. A média de dois por ano é a mais baixa registada por qualquer selecionador (efetivo) neste século. Na segunda passagem pelo posto, que durou os mesmos três anos que o catalão tem de experiência na Federação Portuguesa de Futebol, António Oliveira lançou dez (3,33 por ano), o registo mais antigo considerado para esta análise.

De 2000 para a frente, não houve alterações substanciais no depósito de jogadores que o campeonato português faz na seleção. O contributo estagnou e, se contarmos bem as migalhas, até diminuiu. Mesmo que o futebol viva encurralado no pensamento a curto prazo, que tanto aniquila a execução de projetos, 25 anos devia ser tempo suficiente para abolir a irrelevância que uma liga tem junto da seleção do seu país.

Horvath Tamas

Nessa medida, talvez não seja possível julgar Roberto Martínez. Para o fazer, seria preciso concordar com a afirmação “a Primeira Liga é amplamente superior à La Liga”. Por todos os motivos e mais alguns, sabemos que não é o caso. Luis De La Fuente estreou-se a orientar a Espanha ao mesmo tempo (março de 2023) que Martínez assumiu incumbências semelhantes em Portugal. Desde aí, lançou 25 novos jogadores, 22 dos quais oriundos do campeonato espanhol. Nada que atrapalhasse a conquista do Euro 2024. Se Portugal fizesse o mesmo, talvez o máximo a que aspirasse na Liga das Nações fosse a ser promovido na Divisão B.

Diga-se que os clubes portugueses também não estão a entregar fortes candidaturas a endossar jogadores na seleção. Com apoio da base de dados do Transfermarkt, calculamos que apenas 30% dos jogadores da Primeira Liga são portugueses, sendo a média de 8,33 por equipa. De novo, comparando com o país de onde vêm os campeões da Europa, verifica-se que existe uma maioria absoluta de 57% de jogadores espanhóis na La Liga. Ainda assim, diga-se que esta é uma exceção no panorama dos cinco principais campeonatos: a Bundesliga tem 42% de jogadores locais, a Ligue 1 tem 38%, a Serie A tem 33% e a Premier League tem 29%.

Nada disto iliba o treinador que convoca médios justificando que estes podem também jogar como laterais, mas não é Roberto Martínez que tem gerido o ecossistema do futebol nacional nas últimas décadas ao ponto da seleção se ter alienado de um campeonato que não está preparado para sustentar uma equipa como Portugal.

O que se passou

Zona mista

“O futebol não pode continuar a agir como se estivesse tudo na mesma.”

Está aí mais uma janela internacional e a qualificação para o Mundial, feita em sprint, vai entrar nos metros finais. Israel ainda está em posição de discutir o apuramento. Fá-lo-á contra a Noruega e contra a Itália, jogos para se ver que os encontros de seleções se esquivam a ser um fim em si mesmos. Há um país que levou a cabo atos genocidas em Gaza, afirma a ONU, cuja normalização ainda não foi interrompida. Os decisores continuam a ser pressionados

O que vem aí

Segunda-feira, 6
🎾 Masters 1.000 de Xangai (a partir das 6h30, Sport TV2)

Terça-feira, 7
🎾 Masters 1.000 de Xangai (a partir das 6h30, Sport TV2)
🚴 Tre Valli Varesine com Tadej Pogacar (14h25, Eurosport 2)
⚽ Liga dos Campeões feminina: Juventus-Benfica (17h45, RTP1)
⚽ 2.ª pré-eliminatória da Europa Cup: Sporting-FC Rosengard (19h45, Sporting TV)
🏀 O Benfica estreia-se na Liga dos Campeões contra o Gran Canaria (20h30, Sport TV1)

Quarta-feira, 8
🎾 Masters 1.000 de Xangai (a partir das 6h30, Sport TV2)
⚽ Cabo Verde pode carimbar o apuramento para o Mundial frente à Líbia (14h, Sport TV1)
🤾 Liga dos Campeões: Sporting-Nantes (19h45, Sporting TV)

Quinta-feira, 9
🎾 Quartos de final do Masters 1.000 de Xangai (a partir das 8h, Sport TV2)

Sexta-feira, 10
🎾 Quartos de final do Masters 1.000 de Xangai (a partir das 8h, Sport TV2)
⚽ Apuramento para o Mundial: França-Azerbaijão (19h45, Sport TV1) e Alemanha-Luxemburgo (19h45, Sport TV2)

Sábado, 11
🎾 Meias-finais do Masters 1.000 de Xangai (a partir das 9h30, Sport TV1)
🚴 Corre-se o último monumento da época: Volta à Lombardia (9h30, Eurosport 2)
🏑 Supertaça: FC Porto-Sporting (12h, RTP2) e Benfica Sanjoanense (18h RTP2)
🏐 Supertaça: Sporting-Benfica (16h, Sport TV1)
⚽ Apuramento para o Mundial: Portugal-Irlanda (19h45, RTP1) e Espanha-Geórgia (19h45, Sport TV2)

Domingo, 12
🎾 Final do Masters 1.000 de Xangai (9h30, Sport TV1)
⚽ Apuramento para o Mundial: Países Baixos-Finlândia (19h45, Sport TV1)

Hoje deu-nos para isto

NurPhoto

No campeonato, passou uma jornada de clássicos e, no fundo, nada mudou. Após o FC Porto-Benfica, ninguém estava amargurado. Contra uma equipa encarnada em reabilitação, os dragões terminaram um jogo sem estarem na frente do marcador pela primeira vez esta época. Farioli aceitou o ponto que lhe foi adicionado à conta num dia em que os seus médios interiores não se desamarraram e o espaço de erupção dos azuis e brancos não foi imenso. Simplificando, é o mesmo que tapar a boca e o nariz aos líderes do campeonato.

Analisando o jogo, José Mourinho pareceu aliviado por não ter perdido. “Às vezes, para se ganhar o campeonato, tem de se jogar para o ponto”, referiu num discurso pragmático que pode não encaixar na mente dos mais ambiciosos adeptos, desejosos por verem uma goleada do clube que apoiam a cada jornada.

Em Alvalade, o SC Braga demonstrou que, episodicamente, se pode bater com os candidatos. O problema? A consistência. O empate tardio terá sido um prémio justo frente a um Sporting tecnicamente falível e que apresentou um nível de intensidade não superior ao dos minhotos. Mais vezes surgisse no campeonato aquilo que a equipa de Carlos Vicens tem mostrado na Liga Europa e a luta pelo topo da Primeira Liga talvez pudesse ser a quatro.

Assim sendo, em termos de classificação, nada mudou da jornada 7 para a jornada 8. O FC Porto segue no primeiro lugar com 22 pontos. Os rivais de Lisboa seguem na retaguarda, Sporting com 19 pontos e o Benfica com 18. Para já, nada é irrecuperável, tudo é reversível.

Tenha uma excelente semana e obrigado por nos acompanhar aí desse lado, lendo-nos no site da Tribuna Expresso, onde poderá seguir a atualidade desportiva e as nossas entrevistas, perfis e análises.

Siga-nos também no Facebook, Instagram e no Twitter. E escute também o podcast “No Princípio Era a Bola”, como sempre com Tomás da Cunha e Rui Malheiro. Até breve!

Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: fsmartins@expresso.impresa.pt